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Neotrop. Helminthol., 8(1), 2014
2014 Asociación Peruana de Helmintología e Invertebrados Afines (APHIA)
ISSN: 2218-6425 impreso / ISSN: 1995-1043 on line
ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL
ENDOPARASITE COMMUNITY STRUCTURE OF THREE FISH SPECIES IN TRIBUTARY
STREAMS OF THE RIVER PIRAPÓ, PARANÁ STATE, BRAZIL
ESTRUTURA DAS COMUNIDADES DE ENDOPARASITOS DE TRÊS ESPÉCIES DE PEIXES
EM RIACHOS AFLUENTES DO RIO PIRAPÓ, ESTADO DO PARANÁ, BRASIL
Luis Henrique de Aquino Moreira, Ricardo Massato Takemoto, João Paulo Alves Pagotto & Gilberto Cezar Pavanelli
Abstract
An ichthyoparasitological study on 166 fishes, belonging to Poecilia reticulata Peters, 1859
(Poeciliidae), Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) (Pimelodidae) and Hypostomus
ancistroides (Ihering, 1911) (Loricariidae) in tributary streams of the Pirapó River, located in and
around urban city of Maringá, Paraná State, Brazil. The research aimed to recognize the
endoparasite community of fishes analyzed, as well as to improve the knowledge about
host/parasite relationships. We analyzed the correlation between the total length of the fish with
levels of parasitism (prevalence, abundance). Due to the existence of sexual dimorphism in the
species P. reticulata, we investigated the possible influence of sex of this fish on parasitism. In
addition, we also analyzed the body surface and nostril for ectoparasites studies. There were no
metazoan parasites on the body surface and nostril of the species analyzed. Only 15.06% of
endoparasite prevalence was observed. A pentastomid species, Sebekia oxycephala (Diesing)
Sambon, 1922 and cestode belonging to the order Pseudophyllidea were found, with a prevalence
of 13.89 and 0.92%, respectively. The nematode species, Cucullanus (Cucullanus) pinnai
Travassos, Artigas and Pereira, 1928 had a prevalence of 39.13% in Rhamdia quelen. No parasites
found in the in the fish H. ancistroides. There was no correlation between the sex of P. reticulata
with the prevalence and abundance of S. oxycephala. The hosts' lengths were not correlated with
the prevalence and abundance of endoparasites. Thus, because parasites found were generalists,
there appeared to be no relationship between parasitism with features/peculiarities of analyzed
hosts (fishes), as would have been expected with high specificity parasites.
Keywords: Cucullanus (Cucullanus) pinnai - Pirapó river - Poecilia reticulata - Rhamdia quelen - Sebekia oxycephala.
Suggested citation: Moreira, LHA, Takemoto, RM, Pagotto, JPA, & Pavanelli, GC. 2014. Endoparasites community structure of
three fishes species in tributary streams of the river Pirapó, Paraná state, Brazil. Neotropical Helminthology, vol. 8, n°1, jan-jun,
pp. 97 - 109.
Nupélia - Núcleo de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aquicultura, PEA - Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos
Continentais, Universidade Estadual de Maringá. Av. Colombo 5790, Zona 07, Maringá, PR - Brasil, CEP:87020-900. spykefloripa@hotmail.com
Moreira et al.
Community structure of three fishes
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Resumo
Palavras-chave: Cucullanus (Cucullanus) pinnai - Poecilia reticulata - Rhamdia quelen - Rio Pirapó - Sebekia oxycephala.
Um estudo ictioparasitológico foi conduzido com 166 indivíduos pertencentes às espécies
Poecilia reticulata Peters, 1859 (Poeciliidae), Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) e
Hypostomus ancistroides (Ihering, 1911) (Loricariidae) em riachos afluentes do rio Pirapó,
localizados na zona urbana e entorno da cidade de Maringá-PR. A pesquisa objetivou o
levantamento da comunidade de endoparasitos nos peixes analisados, assim como um
aprofundamento no conhecimento da relação parasita/hospedeiro. Dessa forma, foram analisadas
possíveis correlações entre o Comprimento Total dos peixes com os níveis de parasitismo
(prevalência, abundância). Em função da existência de dimorfismo sexual na espécie P. reticulata,
foram investigadas possíveis influências do sexo deste peixe no parasitismo. De forma
complementar, também foi analisada a superfície corporal e narina dos peixes na procura por
ectoparasitos. Porém, não foram identificados metazoários parasitos na superfície do corpo e
narina de nenhuma das espécies analisadas. Apenas 15,06% de prevalência endoparasitária foi
observada nos hospedeiros investigados. Uma espécie de pentastomideo, Sebekia oxycephala
(Diesing) Sambon, 1922, e um cestóide da ordem Pseudophyllidea foram os endoparasitos
encontrados parasitando o peixe P. reticulata, com prevalência de 13,89 e 0,92 %,
respectivamente. Rhamdia quelen apresentou prevalência de 39,13 % para o nematóide da espécie
Cucullanus (Cucullanus) pinnai Travassos, Artigas e Pereira, 1928. A espécie H. ancistroides não
apresentou parasitos. Não foi observada correlação entre o sexo de P. reticulata com a prevalência
e abundância parasitária de S. oxycephala. Os comprimentos totais dos hospedeiros não se
apresentaram correlacionados com as prevalências e abundâncias dos endoparasitos. Desta
forma, devido ao fato dos parasitos encontrados serem generalistas, não foi observada vinculação
do parasitismo com características/peculiaridades dos hospedeiros (peixes) analisados, como
ocorre com parasitos de elevada especificidade.
habitantes dos referidos tributários, assim como
de seus níveis parasirios. Os parasitos
interagem direta e indiretamente com seus
hospedeiros, sendo bons indicadores da
alimentação, migração, crescimento,
reprodução, filogenia e desagregação
populacional (Williams et al., 1992; Madi &
Ueta, 2009).
Nos referidos afluentes também se encontram
desconhecidas as características de interação
envolvidas na relação parasito/hospedeiro.
Segundo Dogiel (1961) há relação entre a idade
do hospedeiro e seus níveis de parasitismo,
sendo que quanto maior (e mais velho) o
hospedeiro, maior é o espaço para abrigar
parasitos, assim como maior é o efeito
cumulativo dos parasitos. À medida que o peixe
cresce (desenvolvimento ontogenético),
O Brasil é um país rico em recursos hídricos,
abrigando a ictiofauna de água doce mais
diversa do planeta (Reis, 2003), além de
inúmeros outros organismos aquáticos. Muitos
desses ainda não foram descritos ou objeto de
pesquisas científicas. Esse fato nos levou a
realização deste estudo ictioparasitológico em
riachos tributários do rio Pirapó, localizados
próximos da cidade de Maringá-PR. Foram
escolhidas as espécies hospedeiras mais
abundantes riachos, que possuem interação com
o sedimento, seja pela sua alimentação ou por
hábito bentônico, o que poderia facilitar o
encontro das mesmas com diversas estruturas
infectivas parasitárias. Desta forma, o objetivo
da pesquisa foi realizar um levantamento acerca
da fauna parasiria presente nos peixes
INTRODUÇÃO
Neotrop. Helminthol., 8(1), 2014
ocorrem alterações no seu comportamento e
biologia (mudanças de habitat, na dieta
alimentar, resposta imunológica), que podem
influenciar na sua fauna parasitária (Takemoto et
al., 1996). Dessa forma, a primeira hipótese
investigada é a possível existência de níveis
parasitários mais elevados em peixes mais
velhos (maiores).
A segunda hipótese abordada no trabalho foi à
posvel existência de níveis parasitários
diferenciados entre machos e fêmeas da espécie
Poecilia reticulata Peters, 1859 (Poeciliidae). A
mesma provém do fato que o dimorfismo sexual
observado nesta espécie de peixe, pode acarretar
em ingestão diferenciada de alimento e
comportamentos divergentes entre os sexos,
resultando em níveis parasitários diferenciados.
A região estudada é classificada, segundo
Koeppen, como zona climática pluvial quente
sempre úmida, Cfa(h), alternando alguns anos
de inverno seco (Maack, 2002). A cobertura
vegetal predominante era a Floresta Pluvial
Tropical, que foi quase toda substituída por
pastagens e monocultivos vegetais (Maack,
2002). São riachos que sofrem com a degradação
antrópica, seja esta em meio rural
(desmatamento, uso de defensivos agrícolas) ou
urbano (desmatamento, impermeabilização do
solo, liberação de efluentes domésticos e
industriais) (Peruço, 2004; Cunico et al., 2006,
Alves et al., 2008).
Desta forma, para atingir os objetivos das
hipóteses anteriormente comentadas, foram
escolhidas três espécies de peixes: P. reticulata,
Rhamdia quelen e Hypostomus ancistroides
para realização do estudo ictioparasitológico
Pontos de Amostragem:
As coletas de dados ambientais e dos
hospedeiros ocorreram nos seguintes riachos
pertencentes à bacia hidrográfica do rio Pirapó,
município de Maringá, Estado do Paraná, Brasil;
Ribeirão Maringá (23°22'28.09S,
51°58'8.00O), Córrego Mandacaru
(23°23'5.01”S, 51°56'49.16”O), Ribeirão Zaúna
(23°23'41.99”S, 51°50'55.11O), Ribeio
Granada (23°18'5.26S, 51°45'39.95O),
Ribeirão Remo (23°21'27.09”S, 52°1'0.75”O) e
Ribeio Água da Roseira (23°21'2.26”S,
51°54'50.45”O), conforme Figura 1. A presente
pesquisa foi autorizada pelos órgãos
governamentais responsáveis (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis IBAMA,SISBIO/25560-
1 e Instituto Ambiental do Paraná IAP, 250/10).
MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 1. Pontos de amostragem, os pontos numerados remetem aos seguintes cursos hídricos, pertencentes à bacia hidrográfica
do rio Pirapó-PR: 1-Ribeirão Maringá; 2- Córrego Mandacaru; 3- Ribeirão Remo; 4- Ribeirão Água da Roseira; 5- Ribeirão
Zaúna; 6- Ribeirão Granada (Fonte: Modificado de Sala, 2005).
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Moreira et al.
Community structure of three fishes
Coleta dos Hospedeiros:
As coletas foram realizadas com auxílio da
pesca elétrica, para captura das diferentes
espécies presentes no local (Penczak et al.,
1998). Em cada trecho de coleta, dois puçás
eletrificados, um de pólo positivo e outro
negativo, dispostos lado a lado, e ligados a um
gerador de 2.500W operado a 500V e 2A, foram
conduzidos longitudinalmente em dirão
contrária ao fluxo da água, de modo a gerar um
campo elétrico que capture os peixes à medida
que eles se desloquem a jusante. Os puçás foram
revistados e os espécimes capturados foram
colocados em recipientes, separados pelo local
de coleta, contendo solução de formol 4%.
Os peixes coletados foram levados até o
Laboratório de Ictiologia do Núcleo de
Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e
Aquicultura (Nupélia), da Universidade
Estadual de Maringá (UEM), onde foram
identificados de acordo com Graça e Pavanelli
(2007), mensurados e acondicionados em
recipientes contendo álcool 70%. Os peixes
pertencentes às espécies P. reticulata, R. quelen
e H. ancistroides foram separados dos demais
para análise parasitológica. Os dados referentes
ao comprimento total e peso foram registrados,
assim como o sexo na espécie P. reticulata.
As três espécies de peixes foram escolhidas com
base nos critérios sugeridos por Overstreet
(1997) e Sures (2004), tais como; ocupam uma
área definida, foram registradas diversas
espécies (riqueza) de parasitos nos mesmos, são
espécies comuns (ampla distribuição na região),
pequenos e de fácil amostragem. Também
influenciou na escolha das espécies de peixes as
que se faziam presentes em maior número na
amostragem conduzida nos riachos
investigados. Considerando que a região
próxima ao fundo (sedimento) podem conter
formas infectantes dos parasitos, foram
escolhidas espécies que se alimentam de
detritos, e/ou habitem a região próxima ao fundo
do curso hídrico (R. quelen e H. ancistroides).
Os parasitos identificados foram coletados e
armazenados em formol 5%, conforme Eiras et
al. (2006).
Para a descrição da estrutura da comunidade
parasitária foram obtidos dados de prevalência,
abundância média, intensidade média e
amplitude. Esses conceitos foram utilizados
conforme Bush et al. (1997). Devido ao
acentuado dimorfismo sexual existente na
espécie P. reticulata, a qual não ocorre nas
demais espécies pesquisadas, foi verificada
influência do sexo de P. reticulata na abundância
e prevalência de cada espécie de parasito por
meio do uso dos testes U de Mann-Whitney e G
(“log-likelihood”), respectivamente (Zar, 1996).
A significância estatística referente a diferença
de comprimentos entre os sexos de P. reticulata,
foi avaliada pelo Teste U de Mann-Whitney.
Na determinação de possível correlação entre o
tamanho do hospedeiro com a prevalência e
abundância de infecção, foram utilizados,
respectivamente, o coeficiente de correlação “r”
de Pearson (utilizando a média das classes de
comprimento e prévia transformação angular da
prevalência) e o coeficiente de correlação “rs”
por postos de Spearman (Zar, 1996). A
verificação do grau de dispersão das espécies de
parasitos foi realizada por meio dos Índices de
Dispersão (ID), o Índice de Green (IG) e d
estatístico, calculados conforme Ludwigs e
Reynolds (1988).
Os valores foram considerados significantes
quando p<0,05. O programa computacional
utilizado para os cálculos foi o Bioestat 5.0
(Ayres et al., 2000).
Um total de 166 hospedeiros, pertencentes às
espécies Poecilia reticulata, Rhamdia quelen e
Hypostomus ancistroides foram coletados,
sendo que destes, 15,06% se encontravam
parasitados. Os dados biométricos dos peixes
coletados se encontram na Tabela 1. Não foram
encontrados metazoários parasitos nas
superfícies corporais de nenhuma espécie de
hospedeiro. Entre os endoparasitos identificados
eso; um Ceside pertencente à ordem
Pseudophyllidea, e um pentastodeo da
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Neotrop. Helminthol., 8(1), 2014
espécie Sebekia oxycephala (Diesing) Sambon,
1922 (Pentastomida: Sebekidae) coletados em P.
reticulata. Um nematóide da espécie Cucullanus
(Cucullanus) pinnai Travassos, Artigas e
Pereira, 1928 (Nematoda: Cucullanidae) foi
coletado em R. quelen. Nenhum parasito foi
encontrado em H. ancistroides. O sítio de
infecção de todos os parasitos coletados foram
os intestinos dos seus respectivos hospedeiros.
Os níveis parasitários se encontram
apresentados na tabela 2.
Tabela 1. Espécies de peixes coletados em riachos afluentes do rio Pirapó, Estado do Paraná, Brasil, número de
espécimes analisados, comprimentos totais mínimos (Min) e máximos (Max), média (Média) e desvio padrão (DP)
em milímetros.
Espécie
Número
Comprimento Total
Min Max (mm) Média DP
P. reticulata Machos
31
17,7-26,9 22,17±2,85
P. reticulata Fêmeas
77
18,9-50 34,46±9,24
R.quelen
23
58,5-152,24 104,12±25,38
H.ancistroides 35 22,6-104,9 49,71±22,77
No hospedeiro P. reticulata, devido ao
dimorfismo sexual observado, os dados de
comprimento se encontram apresentados de
forma separada, por sexo, conforme Tabela 1. As
espécies de endoparasitos encontrados nos
peixes analisados, assim como os níveis
parasitários, estão demonstrados na Tabela 2,
para cada espécie hospedeira.
Em H. ancistroides não foram observados
endoparasitos. Apesar de H. ancistroides possuir
dieta alimentar composta basicamente por
detrito (Castro & Casatti 1997; Casatti, 2002), o
que facilitaria o contato com formas infectantes
de parasitos, como por exemplo, S. oxycephala,
espécie presente no local e que deposita ovos no
sedimento, o mesmo não se encontrava
parasitado. Possivelmente este fato é devido à
existência de fisiologia diferenciada entre as
espécies de peixes. Portanto, algumas espécies
podem ser mais resistentes, combatendo
determinadas infecções parasitárias, enquanto
outras se apresentam mais vulneráveis,
desenvolvendo parasitoses (considerando
espécies de mesma dieta alimentar, presentes no
mesmo local) (Vicentin, 2010).
Tabela 2. Níveis de parasitismo em Poecilia reticulata e Rhamdia quelen, coletados em riachos afluentes do rio
Pirapó-PR. Parasitos intestinais encontrados, Prevalência em porcentagem (Prev.), Abundância Média (Abund.
Méd.), Intensidade Média (Int.Méd.) e Amplitude.
Hospedeiro/Parasito Prev.(%) Abund.Méd. Int.Méd. Amplitude
Poecilia reticulata
Fêmeas
Cestoda
Pseudophyllidea
1,30 0,01 1 -
Pentastomida
Sebekia oxycephala
16,88 0,97 5,77 1-26
Machos
Pentastomídeo
Sebekia oxycephala
6,45 0,23 3,5 1-6
Rhamdia quelen
Nematoda
Cucullanus (Cucullanus) pinnai 39,13 1,13 2,89 1-10
101
Moreira et al.
Community structure of three fishes
Sebekia oxycephala é um parasito generalista
quanto ao seu hospedeiro intermediário,
ocorrendo em diversas espécies de peixes (Rego
& Eiras, 1989), inclusive em Phalloceros
harpagos Lucinda, 2008 (Poeciliidae), espécie
filogeneticamente próxima de P. reticulada, em
local próximo (rio Cambé, município de
Londrina, Estado do Paraná, Brasil) aos riachos
analisados (Almeida et al., 2010). No
hospedeiro P. harpagos a prevalência
encontrada foi igualmente baixa de 6,3%.
Porém, Vicentin (2010) encontrou as
prevalências deste parasito no rio Negro,
pantanal sul matogrossense, para as espécies de
piranhas Pygocentrus nattereri Kner, 1858
(Serrasalmidae) de 29,61% e Serrasalmus
marginatus Valenciennes, 1837 (Serrasalmidae)
de 7,29%. Também fica evidenciado que apesar
das duas espécies de piranhas possuírem
comportamento alimentar similares, ocuparem o
mesmo habitat, a resistência (imunidade) do
hospedeiro pode influenciar na prevalência de S.
oxycephala.
Sebekia oxycephala quando adulto parasita o
sistema respiratório de répteis (lagartos jacarés,
crocodilos, tartarugas). Seus ovos são
depositados no trato respiratório, deglutidos e
posteriormente liberados no ambiente aquático.
Após a liberação, os ovos ficam junto ao detrito,
sendo ocasionalmente ingeridos por peixes,
onde acabam se encistando. O peixe infectado
pode ser predado por outro peixe, transferindo o
parasito ao mesmo, ou diretamente para o réptil,
concluindo o ciclo parasitário (Bush et al.,
2001). No presente estudo foi verificado o papel
da espécie de peixe P. reticulata, como primeiro
hospedeiro intermediário do pentastomídeo nos
riachos investigados. O peixe se infecta ao se
alimentar de detrito, contendo ovos do parasito.
Os cestóides da ordem Pseudophyllidea, em
geral apresentam ciclo de vida envolvendo pelo
menos dois hospedeiros intermediários (Bush et
al., 2001), podendo ser crustáceos e/ou peixes,
am de seu hospedeiro definitivo (ave,
mamífero, peixe), que pode variar conforme a
espécie do parasito (Roberts et al., 2005). Neste
trabalho foi constatada a utilização de P.
reticulata como hospedeiro definitivo para o
cestóide, uma vez que o mesmo foi encontrado
em seu estágio adulto e se reproduzindo no
peixe. Possivelmente microcrustáceos sejam
usados como hospedeiros intermediários para
esse parasito, porém mais estudos são
necessários para esclarecer o ciclo. A
determinação taxonômica, em nível específico,
deste cestóide não foi possível devido ao fato do
escólex do único parasito coletado se encontrar
danificado, sendo identificado apenas a ordem
do mesmo.
Cucullanus (Cucullanus) pinnai é um nematóide
parasito de baixa especificidade quanto ao
hospedeiro, registrado em diversos outros
peixes (Schizodon borellii (Boulenger, 1900)
(Anostomidae) por Machado et al. (1996), em
Pimelodella gracilis (Valenciennes, 1835)
(Heptapteridae), Paulicea luetkeni
(Steindachner, 1875) (Pimelodidae), Pimelodus
maculatus Lacepède, 1803 (Pimelodidae) e
Loricaria sp. (Loricariidae) por Moravec et al.
(1997). Venancio et al. (2010) encontraram em
R. quelen uma prevalência deste parasito de 11%
no rio Paraíba do Sul, cidade de Volta Redonda,
estado do Rio de Janeiro. A prevalência menor
deste parasito em R. quelen no rio Paraíba do
Sul, quando comparados ao presente estudo,
possivelmente se deva a alguma variação na
biologia/comportamento do peixe no local.
Estudos de Santos et al. (2007) e Albuquerque et
al. (2008) com peixes provenientes do rio
Guandu, Rio de Janeiro, mostraram que o
parasito pode utilizar os peixes, em seu ciclo de
vida, tanto como hospedeiros intermediários ou
definitivos. Assim como também utilizar uma
única espécie de peixe, P. maculatus,
simultaneamente como hospedeiro
intermediário (encistados na cavidade
celomática) e definitivo (livres no estômago e
intestino). No trabalho desenvolvido nos riachos
afluentes do rio Pirapó, foi verificada a
utilização de R. quelen como hospedeiro
definitivo do parasito, sendo que o mesmo se
encontrava livre (não encistado) no intestino do
peixe.
Considerando o dimorfismo sexual existente na
espécie P. reticulata foi possível avaliar um
102
Neotrop. Helminthol., 8(1), 2014
possível efeito do sexo na prevalência
parasitária. O sexo do hospedeiro pode ter
influência sobre os níveis de parasitismo do
peixe, quando ocasiona diferenças de dieta,
comportamentais e fisiológicas (hormonais,
mucosidade) entre os mesmos (Paling, 1965;
Esch et al., 1988; Moser & Hsieh, 1992). No
entanto, não foi observado a influência do sexo
de P. reticulata na prevalência de S. oxycephala
(G= 2,2836 e p=0,1308). O sexo do hospedeiro
também não apresentou influência
estatisticamente significativa sobre a
abundância deste pentastomídeo (Z(U) =0,8455,
p= 0,1989).
Possivelmente a ausência de influência do sexo
sobre a prevalência e abundância parasitária
sejam ocasionados pelas similaridades de
alimentação entre machos e fêmeas (Oliveira &
Bennemann, 2005), como acontece com
diversas espécies de água doce (Hahn et al.,
2004) e da estratégia reprodutiva (espécie não
migradora, sem cuidado parental) (Suzuki et al.,
2004). Em outras espécies de peixes de água
doce, uma diferença significativa na dieta e
estratégia reprodutiva pode ser verificada entre
os sexos, o que pode deixar um dos sexos bem
mais susceptível ao contato com formas
infectantes do parasito (Duneau & Ebert, 2012).
Desta forma, possivelmente ambos os sexos
ocupem semelhantes espaços físicos (hábitats)
uma vez que riachos apresentam menores
opções de hábitats quando comparados às
planícies de inundação, apresentem similaridade
na alimentação e tempo de exposição aos
parasitas, apesar do dimorfismo sexual
encontrado. A ausência de influência do sexo do
hospedeiro no parasitismo foi relatada em
Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)
(Callichthyidae) peixe também de
comportamento detritívoro, coletado na bacia do
rio Paraná, relativamente próximo ao local
pesquisado (Ito et al., 2005). Os baixos níveis de
prevalência e intensidade encontrados também
podem ter influenciado, dificultando a
observação de influência do sexo do peixe no
parasitismo.
Uma possível correlação entre o comprimento
do hospedeiro e a prevalência parasitária foi
avaliada nas espécies P. reticulata e R. quelen.
Devido ao dimorfismo sexual de P. reticulata,
comentado anteriormente, resultar em
comprimentos totais (CT) diferenciados, sendo
estes estatisticamente significativos (Z(U) =
6,0103, p<0,0001), os sexos desta espécie foram
avaliados separadamente. Não foi observada
correlação significativa entre o CT de P.
reticulata fêmeas, nem dos machos, com a
prevalência do parasito S. oxycephala. Também
não foi encontrada correlação estatisticamente
significativa entre o CT de R. quelen e a
prevalência do parasito C. (C.) pinnai, conforme
Tabela 3.
Tabela 3. Resultados da correlação entre o comprimento total dos peixes Poecilia reticulata fêmeas, machos e
Rhamdia quelen com a prevalência e a abundância parasitária dos respectivos parasitos Sebekia oxycephala e
Cucullanus (Cucullanus) pinnai. Coeficiente do correlação r de Pearson (r) e Coeficiente de correlação "rs" de
Spearman (rs).
Hospedeiro
Parasito
r p rs p
P. reticulata Fêmea
S. oxycephala
-0,2226 0,6716 0,0391
0,7356
P. reticulata Macho
S. oxycephala
-0,1826 0,7291 0,0057
0,9758
R. quelen C.(C.) pinnai 0,7759 0,0696 0,2859 0,1860
Não foi encontrada correlação estatisticamente
significativa entre o CT de P. reticulata de
fêmeas nem dos machos com a abundância do
parasito S. oxycephala. Em R. quelen também
não foi observado correlação entre o CT do peixe
com a abundância do parasito C. (C.) pinnai,
conforme Tabela 3.
Pode ocorrer corelação entre a idade do
hospedeiro e seus níveis parasitários, em função
103
Moreira et al.
Community structure of three fishes
dos peixes mais velhos, e consequentemente
maiores, possuírem maior espaço físico para
abrigar parasitos (Dogiel, 1961). Outro fator que
também pode influenciar em níveis parasitários
mais elevados em peixe mais velhos é a
ocorrência de efeito cumulativo dos parasitos ao
longo do tempo. Durante o desenvolvimento
ontogenético do peixe, podem ocorrer alterações
no seu comportamento e biologia (mudanças de
habitat, na dieta alimentar, resposta
imunológica), que podem influenciar na sua
fauna parasitária nas diferentes classes de
comprimento (Takemoto et al., 1996).
No entanto, nas espécies de peixes investigadas
não foi observada correlação entre o CT e a
respectiva prevalência e abundância parasitária.
Possivelmente esse fato é devido a pouca
ocorrência de variação alimentar (detritos)
(Oliveir a & Bennemann, 2005) e
comportamental dos hospedeiros P. reticulata
investigados, durante o desenvolvimento
ontogenético. Desta forma, acredita-se que não
ocorram grandes mudanças na dieta alimentar,
nem no comportamento destes peixes, nas
diferentes faixas etárias, resultando em similares
níveis parasitários entre as mesmas. O habitat de
riachos também é outro fator relevante, pois o
mesmo é restrito (biologicamente e
espacialmente), o apresentando grandes
variações na altura da coluna d'água, o que
poderia possibilitar a formação de regiões
diferenciadas no ambiente aquático, resultando
em zonas biologicamente distintas, como ocorre
em planícies de inundação (Melo et al., 2007).
Assim a homogeneidade do habitat,
possivelmente restringe a existência de nichos
diferenciados e as possibilidades de mudanças
de comportamento e biologia ao longo de suas
vidas. Através dos resultados, também é possível
supor que, provavelmente, não ocorrem
mudanças fisiológicas significativas durante o
desenvolvimento destas espécies, o que poderia
expor os mesmos de forma diferenciada ao
parasitismo.
Pinto e Melo (2012) reportam maiores níveis de
parasitismo em P. reticulata, em uma represa no
Estado de Minas Gerais, pom também
relataram ausência de correlação entre sexo e CT
com a prevalência e abundância dos parasitos
trematóides encontrados. Este trabalho
corrobora a ideia de similaridade na alimentação
e comportamento entre os sexos e as faixas
etárias da espécie, o que acaba resultando em
possibilidades similares de infecção (ingestão
do ovo de S. oxycephala junto ao sedimento)
entre os mesmos.
Quanto ao hábito alimentar, R. quelen é onívora,
composta basicamente por pequenos peixes,
insetos e crustáceos (Gomes et al., 2000). Os
riachos, na maioria das vezes, possuem peixes
de pequeno porte, uma vez que a escassez
alimentar e o espaço restrito acabam limitando a
existência de espécimes de grande porte. Na
amostragem realizada no presente trabalho não
foi observada grande variação entre os CT dos
hospedeiros R. quelen. Desta forma,
possivelmente a pequena amplitude de CT
resultou em uma disponibilidade similar de
possíveis presas (não grandes variações nos
itens alimentares consumidos) o que pode ter
resultado na ausência de correlação entre os CT e
a prevalência e abundância de C. (C.) pinnai.
Assim, sem grandes diferenças de
tamanho/idade dos hospedeiros não é possível
verificar efeitos cumulativos, que resultariam
em variações nos níveis de parasitismo em
função do CT. A ausência de correlação entre o
CT e o parasitismo (prevalência e abundância)
foi relatada no grupo dos siluriformes em
reservatórios na bacia do rio Paraná (Ito et al.,
2005; Moreira et al., 2005) e no alto rio Paraná
(Machado et al., 1996).
O tamanho corporal pequeno, quando
comparado aos tamanhos máximos descritos na
espécie, cerca de 50 centímetros, nos sugerem
também que possivelmente os indivíduos de R.
quelen estejam utilizando os riachos de
cabeceira quando juvenis (Froese & Pauly,
2011). Não foram encontrados peixes adultos,
que provavelmente utilizam rios maiores (acima
de terceira ordem), tornando impossível a
verificação de efeito cumulativo ou diferenças
no parasitismo entre jovens e adultos.
Cucullanus (Cucullanus) pinnai pode utilizar os
peixes como hospedeiros intermediários,
104
Neotrop. Helminthol., 8(1), 2014
quando o mesmo se aloja na cavidade
celomática aguardando uma possível
transferência trófica (predação do hospedeiro).
No entanto, devido ao fato dos exemplares
adultos terem sido coletados no intestino de R.
quelen e nenhum ter sido observado na cavidade
celomática sugere que o parasito esteja
utilizando o peixe somente como hospedeiro
definitivo, em seu ciclo de vida, na região dos
riachos afluentes do rio Pirapó. A espécie de
parasito foi relatada em outros siluriformes
(Moravec et al., 1997; Albuquerque et al., 2008),
possuindo baixa especificidade. Outros estudos
com R. quelen no rio Paraíba do Sul, cidade de
Volta Redonda-RJ (Venancio et al., 2010),
tamm encontraram uma baixa riqueza
endoparasitária, apenas C. (C.) pinnai estava
presente, e também ausência de correlação do
CT ao parasitismo (prevalência e abundância),
assim como na presente pesquisa. No entanto,
Morais (2005) encontrou uma diversidade
parasitária maior em R. quelen em trabalho
realizado ao sul do Rio Grande do Sul,
possivelmente em função de diferentes
características ambientais do local.
Nos riachos analisados, os parasitos S.
oxycephala (IG=0,1571; ID=13,7829;
d=39,7153) e C. (C.) pinnai (IG=0,1733;
ID=5,3321; d=8,7597) apresentaram
distribuição do tipo agregada, apesar da baixa
agregação. Por meio do uso do d estatístico,
foram verificados valores maiores que 1,96 o
que confirmou a sugerida agregação pelo ID
(que foi maior que 1).
Este padrão de dispersão agregado encontrado
no presente trabalho é típico dos parasitos, e é
semelhante a outros estudos realizados com
peixes de água doce (Machado et al., 1996;
Machado et al., 2000; Guidelli et al., 2003;
Lacerda et al., 2009). O padrão agregado
possibilita o maior encontro entre os espécimes
de parasitos, facilitando sua reprodução (Poulin,
1998). A maioria dos hospedeiros abriga poucos
parasitos, enquanto alguns poucos hospedeiros
albergam a maior proporção da população de
parasitos. A agregação pode ser resultado de uma
ampla gama de fatores, como por exemplo,
diferenças imunológicas, comportamentais e
genéticas entre os hospedeiros, assim como
variações físicas, químicas e biológicas
temporais e espaciais no habitat em questão (Von
Zuben, 1997). Segundo Dobson (1990), as
espécies de parasitos que possuem maior
patogenicidade ao hospedeiro são, em geral,
menos agregadas. Um elevado número de
parasitos de maior patogenicidade poderia
provocar a morte do hospedeiro, retirando esses
indivíduos (de grande concentração parasitária)
da população, gerando uma distribuição mais
uniforme.
A presente pesquisa apontou para uma baixa
riqueza parasitária nos ambientes investigados.
Segundo Kennedy (1993) a riqueza de parasitos
da infracomunidade de um local é considerada
um reflexo do número de espécies de
hospedeiros existentes e da capacidade de
transmissão e infecção dos hospedeiros
intermediários e definitivos nestes ambientes.
Poluição ou outro fator que altera as
características da água podem influir na
estabilidade da comunidade de organismos
aquáticos que sejam utilizados como
hospedeiros para os parasitos (Marcogliese,
2001). Os poluentes podem atuar negativamente
no parasitismo quando ocasionam mortalidade
dos estágios de vida livre dos parasitos ou
comprometem a população de hospedeiros
intermediários (Albuquerque et al., 2008).
Desta forma, como os riachos investigados
sofrem influência antrópica (desmatamento,
recebimento de efluentes domésticos e
defensivos agrícolas), possivelmente resultou na
baixa riqueza parasitária observada. O efeito de
redução de diversidade em ambientes
impactados foi relatado em diversos trabalhos
em ictioparasitologia (Marcogliese & Cone,
1996; Valtonen et al., 1997; Marcogliese, 2005).
A baixa riqueza/abundância de parasitos
encontrados foi um fator que restringiu a
pesquisa, dessa forma, não foi possível a
realização de levantamentos dos índices de
diversidade das espécies.
Nematóides do gênero Cucullanus foram
relatados em elevada intensidade de infecção em
locais fortemente poluídos, sendo que o fato foi
105
Moreira et al.
Community structure of three fishes
explicado pelos autores em função de melhores
condições de desenvolvimento dos hospedeiros
intermediários do parasito (Sulgustowska&
Styczyñska-Jurewicz, 1996 apud Dzika &
Wyzlic, 2009-2010).
Segundo Marcogliese (2001) parasitos que tem
sucesso em condições eutróficas tendem a ser
generalistas, o que pode ser confirmado no
trabalho, considerando as espécies de parasitos
encontrados. Desta forma, nos riachos
investigados, foi encontrada uma baixa
diversidade parasitária, sendo que as espécies
encontradas, possivelmente as melhores
adaptadas às condões desses locais, se
destacam as tolerantes a ambientes impactados e
de comportamento generalista. A baixa
diversidade de organismos presentes em
ambientes de riachos, devido à restrição de
nichos existentes nos mesmos quando
comparados a locais com maior quantidade de
hábitats disponíveis (planícies de inundação),
certamente influenciou na baixa riqueza
parasitária encontrada. A baixa diversidade
parasitária encontrada também funciona como
um alerta de risco para as populações de
hospedeiros, uma vez que em situações de
comprometimento populacional, sejam
ocasionadas por pesca predatória ou por
impactos ambientais significativos, é verificada
uma tendência de redução da diversidade de
parasitos (Thomas et al., 2005).
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