ORIGINAL ARTICLE /ARTÍCULO ORIGINAL
COPEPODS (CRUSTACEA: ERGASILIDAE) FISH PARASITES OF FLOODPLAIN
LAKES OF CENTRAL AMAZON, BRAZIL
COPEPODA (CRUSTACEA: ERGASILIDAE) PARASITAS DE PEIXES DE LAGOS DE
VÁRZEA DA AMAZÔNIA CENTRAL, BRASIL
COPEPODOS (CRUSTACEA: ERGASILIDAE) PARÁSITOS DE PECES DE LAGOS
INUNDABLES DE LA AMAZONÍA CENTRAL, BRASIL
1Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Laboratório de Parasitologia de Peixes Av. André Araújo 2936, Petrópolis,
CEP-69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil germantiss1106@gmail.com
Neotropical Helminthology, 2016, 10(2), jul-dic: 281-294.
ABSTRACT
Keywords: Central Amazon – Copepod – floodplain lakes – host – parasite
Specimens of nine fish species were examined from floodplain lakes of Central Amazon, Brazil,
of which 1812 copepod parasites have been identified (1694 in the gills and 118 in the nostrils)
corresponding to 15 species of seven genera of the Ergasilidae Family. The species identified
were: Acusicula pellonidis, Amplexibranchius bryconis, Ergasilus turucuyus and Miracetyma
piraya in the gills of Acestrorhynchus falcirostris; Ergasilus sp1 and Therodomas elongatus in
the gills of Astronotus ocellatus; Therodomas elongatus in the nostrils of Astronotus
crassipinnis; Acusicola tucunarense and Ergasilus coatiarus in the gills of Cichla monoculus;
Gamidactylus jaraquensis, and Rhinergasilus piranhus in the nostrils of Colossoma
macropomum; Amplexibranchius bryconis, Ergasilus jaraquensis and Miracetyma etimaruya in
the gills of Potamorhina latior; Ergasilus yumaricus and Miracetyma piraya in the gills of
Pygocentrus nattereri; Rhinergasilus piranhus in the nostrils of Pygocentrus nattereri; Ergasilus
sp2 and Miracetyma kawa in the gills of Raphiodon vulpinus; Amplexibranchius bryconis and
Ergasilus jaraquensis in the gills of Serrasalmus altispinis and Gamidactylus jaraquensis e
Rhinergasilus piranhus in the nostrils of S. altispinis. This study determined new records and
occurrences of different copepod parasites species on other hosts and other geographical areas
previously not registered yet in Brazil.
281
ISSN Versión impresa 2218-6425 ISSN Versión Electrónica 1995-1043
1 1 1
Germán Augusto Murrieta Morey ; Adria Da Costa Moreira ; Aprigio Mota Morais ,
1 1 1
Fernando Márcio Paes Barreto Atroch Hellen Paredio Santana , Natalia Rocha Brandão ,
,1 1
José Chissua Dumbo1, José Francalino Vital , José Celso De Oliveira Malta
282
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Morey et al.
RESUMO
Palavras chave: Amazônia Central - Copepoda - hospedeiro - parasitos - lagos de várzea
Foram examinadas nove espécies de peixes provenientes de lagos de várzea da Amazônia
Central, Brasil, dos quais foram identificados 1812 copépodes parasitas (1694 nas brânquias e
118 nas narinas) correspondentes a 15 espécies de sete gêneros da família Ergasilidae. As
espécies identificadas foram: Acusicula pellonidis, Amplexibranchius bryconis, Ergasilus
turucuyus e Miracetyma piraya nas brânquias do hospedeiro Acestrorhynchus falcirostris;
Ergasilus sp1 e Therodomas elongatus nas brânquias de Astronotus ocellatus; Therodomas
elongatus nas narinas de Astronotus crassipinnis; Acusicola tucunarense e Ergasilus coatiarus
nas brânquias de Cichla monoculus; Gamidactylus jaraquensis, e Rhinergasilus piranhus nas
narinas de Colossoma macropomum; Amplexibranchius bryconis, Ergasilus jaraquensis e
Miracetyma etimaruya nas brânquias de Potamorhina latior; Ergasilus yumaricus e Miracetyma
piraya nas brânquias de Pygocentrus nattereri; Rhinergasilus piranhus nas narinas de
Pygocentrus nattereri; Ergasilus sp2 e Miracetyma kawa nas brânquias de Raphiodon vulpinus;
Amplexibranchius bryconis e Ergasilus jaraquensis nas brânquias de Serrasalmus altispinis e
Gamidactylus jaraquensis e Rhinergasilus piranhus nas narinas de S. altispinis. O presente
estudo determinou novos registros e ocorrências de diferentes espécies de copépodes parasitos
em outros hospedeiros e outras áreas geográficas anteriormente ainda não registradas no Brasil.
RESUMEN
Palabras clave: Amazonía Central - Copepoda - hospedero - lagos inundables -parasito
Fueron examinadas especímenes de nueve especies de peces provenientes de lagos inundables de
la Amazonía Central, Brasil, de los cuales fueron identificados 1812 copépodos parásitos (1694
en las branquias y 118 en las narinas) correspondientes a 15 especies de siete géneros de la familia
Ergasilidae. Las especies identificadas fueron: Acusicula pellonidis, Amplexibranchius
bryconis, Ergasilus turucuyus y Miracetyma piraya en las branquias de Astronotus ocellatus;
Therodomas elongatus en las narinas de Astronotus crassipinnis; Acusicola tucunarense y
Ergasilus coatiarus en las branquias de Cichla monoculus; Gamidactylus jaraquensis, y
Rhinergasilus piranhus en las narinas de Colossoma macropomum; Amplexibranchius bryconis,
Ergasilus jaraquensis y Miracetyma etimaruya en las branquias de Potamorhina latior;
Ergasilus yumaricus y Miracetyma piraya en las branquias de Pygocentrus nattereri;
Rhinergasilus piranhus en las narinas de Pygocentrus nattereri; Ergasilus sp2 y Miracetyma
kawa en las branquias de Raphiodon vulpinus; Amplexibranchius bryconis y Ergasilus
jaraquensis en las branquias de Serrasalmus altispinis y Gamidactylus jaraquensis y
Rhinergasilus piranhus en las narinas de S. altispinis. El presente estudio determinó nuevos
registros y ocurrencias de diferentes especies de copépodos parásitos en otros hospederos y otras
áreas geográficas anteriormente no registradas en Brasil.
283
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016
família Ergasilidae nas Américas é irregular.
Em algumas áreas geográficas eles têm sido
estudados intensamente por muitos anos. A
fauna de ergasilídeos da América do Norte e a
do Brasil na América Sul são as que têm o
melhor conhecimento nas América (Suárez-
Morales & Santana-Piñeros, 2008).
Na Amazônia são conhecidas 47 espécies de
Copepoda parasitas de peixes. Trinta e cinco
são da família Ergasilidae e incluídas em oito
gêneros: 16 espécies de Ergasilus Nordmann,
1832; dez de Acusicola Cressey, 1970 (Amado
e Rocha, 1996); cinco de Brasergasilus
Th atc her & B oeg er, 1 983 ; u ma d e
Amplexibranchius Thatcher & Paredes, 1985;
uma de Rhinergasilus Boeger & Thatcher,
1988; duas de Prehendorastrus Boeger &
Thatcher, 1990; três de Miracetyma Malta,
1993 e uma de Pindapixara Malta, 1995
(Varella, 1985; Malta, 1993a; 1993b; Varella &
Malta, 1998, 2009).
Trabalhos de cunho taxonômico que trazem à
luz da ciência a descoberta de novas espécies,
novos registros e novas ocorrências
representam uma importante contribuição ao
conhecimento da biodiversidade de uma área e
conformam a base para outros estudos (Luque
& Poulin, 2007). Assim o presente trabalho
explora diferentes lagos de várzea da
Amazônia Central com o intuito de conhecer a
fauna de copépodes parasitas de diferentes
peixes que coabitam os mesmos ambientes.
Foram examinados nove espécies de peixes:
Acestrorhynchus falcirostris (Cuvier, 1819),
Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831), A.
cr as si pinni s (Heckel, 1840), Ci ch la
monoculus Agassiz, 1831, Colossoma
macropomum (Cuvier, 1816), Pygocentrus
nattereri Kner, 1858, Potamorrhina latior
(Spix & Agassiz, 1829), Raphiodon vulpinus
Os lagos de várzeas são ambientes de grande
valor ecológico devido à diversidade da biota e
riqueza de espécies endêmicas (Forsberg et al.,
1988). Nos sistemas aquáticos os peixes e os
invertebrados partilham o habitat sico e
recursos no espaço e tempo (Marcogliese,
2002). A relação biótica entre os peixes e os
invertebrados parasitos é resultado da
coevolução, extinção do hospedeiro inicial ou
combinação dos dois processos (Poulin, 1992).
Essa relação é parte de uma complexa rede
estrutural de um ecossistema e é indicadora da
estrutura da rede (Silva-Souza et al., 2006).
Os peixes, por um lado são um grupo de
hospedeiros com a fauna de parasitos mais
conhecida. Por outro lado é um grupo de
vertebrados com o maior número estimado de
e sp é ci e s p a r a si t as d es c on h ec i d a s,
principalmente em ecossistemas Neotropicais
onde estimativas recentes indicam que a
maioria das espécies estão por ser descritas
(Luque & Poulin, 2007).
Os invertebrados de vida parasítica têm um
papel importante como modelos de estudo da
biodiversidade e biogeografia (Luque et al.,
2004). Eles são um componente onipresente
em peixes de ambientes de água doce e são
muito sensíveis a perturbações ambientais e
consequentemente tem resposta rápida (como
mudança de distribuição e abundância) a essas
alterações (Luque et al., 2004).
Os estudos de taxonomia e sistemática da
fauna de parasitos tem sido um requisito
importante para elaboração de inventários
sistemáticos. Estes permitem conhecer a
biodiversidade, biogeografia, distribuição das
populações de parasitos e de seus hospedeiros
intermediários e definitivos requeridos para o
ciclo de vida (Marcogliese 2003).
O conhecimento da fauna de crustáceos da
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Copepods fish parasites from Brazil
284
A identificação dos copépodes parasitas foi
baseada nas características morfológicas de
cada espécie. Foram utilizadas as descrições
originais das espécies (Thatcher & Boeger,
1983; Thatcher & Paredes, 1985; Araujo &
Varella, 1998; Thatcher & Robertson, 1982;
Malta & Varella 1996; Thatcher & Boeger,
1984; Malta, 1993bcd; Thatcher, 1986).
Os índices parasirios foram calculados
segundo Bush et al. (1997): prevalência (P%) é
o número de peixes infetados com um ou mais
indivíduos de uma espécie de parasita em
particular dividido pelo número de
hospedeiros examinados (expressado em
porcentagem). Intensidade (I) é o número de
indivíduos de uma espécie de parasita em
particular em um hospedeiro infetado;
intensidade média (IM) é o número total de
parasitas registrados de uma escie em
particular dividido pelo número de
hospedeiros infetados, abundância média
(AM) é o número total de parasitas registrados
de uma espécie em particular dividido pelo
número total de hospedeiros examinados
(infetados ou não).
Baseando-se na prevalência parasitária e de
acordo com Bush & Holmes (1986), as
espécies parasitas foram consideras: centrais
( pr e va l ê nc i a > 6 6% ) , s e cu n dá r i as
(prevalências entre 33 e 66%) e satélites
(prevalência < 33%).
A frequência de dominância de cada espécie
parasita foi calculada de acordo com Rohde et
al. (1995): D = [(N / N + N + N + …N ) x
A A A B C N
100]; onde N é a dominância da espécie A; N
A A
+ N + N + N é o número total de
B C N
indivíduos das espécies A, B, C...N.
Das nove espécies de peixes examinados
foram identificadas 1812 copépodes parasitas
Spix & Agassiz, 1829 e Serrasalmus altispinis
Merckx, Jégu & Santos, 2000. Os exemplares
foram capturados em seis lagos de várzea,
cinco do rio Solimões: Baixio (03°17'27,2''S/
60°04'29,6''O) no munipio de Iranduba;
Preto (03°21'17,1''S/ 60°37'28,6''O) em
Manacapuru; Ananá (03°53'54, 8 ''S/
61°40'18,4''O) em Anori; Araçá (S03°45' 04,3"
S/ 62°21' 25,9" O) em Codajás; Maracá
(03°50'32,8''S/ 62°34'32,4''O) em Coari e um
lago do rio Purus, São Tomé (03°49' 39,0"S/
61°25' 24,6" O). A espécie P. nattereri foi
estudada nos lagos acima citados com exceção
do lago São Tomé e Araçá. Em lugar desses
lagos, as coletas foram feitas nos lagos: Iauara
(03°36' 39,0”S/ 61°16' 33,0” O) no município
de Manacapuru e no lago Campina 03°46'
15,8”S/ 62°20' 10,3” O) em Codajás.
Foram realizadas quatro expedições por ano
durante as estações de cheia, vazante, seca e
enchente entre os anos de 2008 até 2013. Os
peixes foram capturados com redes de espera
de 20 m de comprimento por 2 m de altura com
malhas variando de 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e
100 mm entre nós adjacentes. As redes ficaram
na água 10 h em cada lago no período diurno,
com duas despescas.
No campo os peixes foram identificados,
pesados e medidos. As brânquias foram
removidas e preservadas em frascos de vidro
preenchidos com água aquecida a 70°C e
formol 4%. Os frascos com as amostras de
cada peixe foram rotulados com as
informações correspondentes.
As brânquias foram analisadas no Laboratório
de Parasitologia de Peixes do Instituto de
Pesquisas da Amazônia (LPP INPA) em
Manaus. Sob microscópio estereoscópio os
copépodos foram retirados dos filamentos
branquiais e das narinas, e conservados em
etanol 70%. Para o estudo morfológico das
espécies de Copepoda, lâminas permanentes
foram preparadas segundo o método de
Eosina-Orange-G (Amato et al., 1991).
RESULTADOS
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Morey et al.
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jaraquensis em Colossoma macropomum
foram às espécies com as maiores prevalências
parasitarias e as únicas espécies identificadas
com status comunitário central, cinco espécies
foram consideradas secundárias e as restantes
como espécies satélite (Tabela 1).
O maior número de parasitas foi registrado em
R . v u l p i n u s c o m 5 6 1 p a r a s i t a s ,
correspondentes ao 31% do total de parasitas
registrados.
O maior número de parasitas foi registrado no
lago Baixio (657). Os lagos São Tomé e Ananá
foram os que apresentaram maior riqueza
parasitária (11 espécies em cada lago) (Tabela
2; Figura 1).
(1694 nas brânquias e 118 nas narinas)
correspondentes a 15 espécies de sete gêneros
diferentes da família Ergasilidae, ordem
Cyclopoida. (Tabela 1). Foram registrados 284
parasitas em A. falcirostris, 22 em A. ocellatus,
nove em A. crassipinnis, 170 em C.
monoculus, 50 em C. macropomum, 131 em P.
latior, 389 em P. nattereri, 561 em R. vulpinus
e 196 em S. altispinis. As espécies foram
encontradas nas brânquias, exceto:
Gamidactylus jaraquensis e Rhinergasilus
piranhus as quais foram registradas nas
narinas dos hospedeiros. Therodomas
elongatus foi o único parasita registrado tanto
em brânquias como em narinas.
Ergasilus sp2 em Raphiodon vulpinus e G.
657
96
331
162 137
41
8911 11 96
0
100
200
300
400
500
600
700
Baixio Preto São Tomé Ananá Araçá Maracá
Lagos
Nro de parasitas
Nro de espécies
Figura 1. Número de parasitas e número de espécies de copépodes parasitas registrados em diferentes hospedeiros provenientes
de diferentes lagos de várzea da Amazônia Central, Brasil.
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Copepods fish parasites from Brazil
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Tabela 1. Índices parasitários, índice de dominância e status comunitário das espécies de Copepoda parasitas de diferentes hospedeiros capturados em lagos de
várzea de Amazônia Central, Brasil. PE = peixes examinados, PP = peixes parasitados, P% = prevalência, I = Intensidade, IM = intensidade média, AM =
abundância média, D% = índice de dominância.
Hospedeiro
Espécies parasitas Órgão
PE
PP
P %
I
IM
AM
D% Status comunitário
Acestrorhynchus falcirostris
Acusicola pellonidis
Brânquias
79
30
37,97
152 (1-23)
5,06
± 5,56
1,92 ± 4,16
53,52 Secundária
Amplexibranchius bryconis
Brânquias
79
1
1,3
2
2
0,03
0,70 Satélite
Ergasilus turucuyus
Brânquias
79
26
32,91
129 (1-24)
4,96 ± 5,3
1,63 ± 3,8
45,42 Satélite
Miracetyma piraya
Brânquias
79
1
1,3
1
1
0,01
0,35 Satélite
Astronotus ocellatus
Ergasilus sp1
Brânquias
25
4
16
7 (1-2)
1,75 ± 0,50
0,14
35 Satélite
Therodomas elongatus
Brânquias
25
2
8
15 (5-8)
6,50 ± 2,12
0,26
65 Satélite
Astronotus crassipinnis
Therodomas elongatus
Narinas
24
3
12,50
9 (2-4)
3,00 ± 1,00
0,37
100 Satélite
Cichla monoculus
Acusicola tucunarense
Brânquias
38
4
10,53
9
(1-4)
2,25
0,24
5,29 Satélite
Ergasilus coatiarus
Brânquias
38
17
44,74
161 (1-52)
9,47
4,24
94,70 Secundária
Colossoma macropomum
Gamidactylus. jaraquensis
Narinas
32
22
68,75
47 (1 –
9)
2,14 ± 2,2
1,47
94 Central
Rhinergasilus piranhus
Narinas
32
3
9,38
3
1
0,09
6 Satélite
Potamorrhina latior
Amplexibranchius bryconis
Brânquias
100
16
16
103 (1-51)
6,44 ± 10,04
1,03
77 Satélite
Ergasilus jaraquensis
Brânquias
100
4
4
5 (1)
1,25 ± 0,49
0,05
4 Satélite
Miracetyma etimaruya
Brânquias
100
16
16
25 (1-4)
1,56 ± 1,03
0,25
19 Satélite
Pygocentrus nattereri
Ergasilus yumaricus
Brânquias
355
150
42,25
272 (1-9)
1,81±1,87
0,77
69,92 Secundária
Miracetyma piraya
Brânquias
355
50
14,08
81 (1-3)
1,62±0,90
0,23
20,82 Satélite
R. piranhus
Narinas
355
20
5,63
36 (1-12)
1,80±0,81
0,10
9,25 Satélite
Raphiodon vulpinus
Ergasilus sp2
Brânquias
12
9
75
475 (2-274)
52.77 ± 86,93
39,58
84,67 Central
Miracetyma kawa
Brânquias
12
5
41,66
86 (3-32)
7,16 ± 10,63
7,16
15,32 Secundária
Serrasalmus altispinis
Amplexibranchius bryconis
Brânquias
60
21
35
163 (1 -63)
7.8 ± 12
2.8
94.2 Secundária
E. jaraquensis Brânquias 60 10 17 10 (1-2) 1.0 ± 0.33 0.2 5.8 Satélite
G. jaraquensis Narinas 60 10 17 22 (1-5) 2.2 ± 1.5 0.4 95.6 Satélite
R. piranhus Narinas 60 1 1.67 1 1 0.02 4.4 Satélite
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Morey et al.
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Tabela 2. Número de indivíduos das diferentes espécies de copépodes parasitas em diferentes hospedeiros capturados em lagos de várzea de Amazônia Central,
Brasil.
Hospedeiro Espécies parasitas Baixio Preto São Tomé Ananá Araçá Maracá
Acestrorhynchus
falcirostris Acusicola pellonidis 5
4
74
29 34 2
Amplexibranchius bryconis
0
0
1
0 1 0
Ergasilus turucuyus
0
3
102
11 6 5
Miracetyma piraya
0
0
0
1 0 0
Astronotus ocellatus
Ergasilus sp1
0
0
7
0 0 0
Therodomas elongatus
0
0
15
0 0 0
Astronotus crassipinnis
Therodomas elongatus
0
0
9
0 0 0
Cichla monoculus
Acusicola tucunarense
0
0
1
1 3 4
Ergasilus coatiarus
2
8
95
4 52 0
Colossoma macropomum
Gamidactylus jaraquensis
0
33
8
6 0 0
Rhinergasilus piranhus
0
3
0
0 0 0
Potamorrhina latior
A. bryconis
51
0
12
17 8 9
Ergasilus jaraquensis
0
0
3
1 0 1
Miracetyma etimaruya
3
2
3
6 10 1
Raphiodon vulpinus
Ergasilus sp2
483
0
0
2 0 0
Miracetyma kawa 45 39 0 3 0 0
Serrasalmus altispinis A. bryconis 63 2 1 69 11 17
E. jaraquensis 0 1 0 3 4 2
G. jaraquensis 5 1 0 9 7 0
R. piranhus 0 0 0 0 1 0
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Copepods fish parasites from Brazil
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Amplexibranchius bryconis foi descrito dos
filamentos branquiais de Brycon cephalus
(sinonímia de B. amazonicus Spix & Agassiz,
1829) na cidade de Iquitos no Peru (Thatcher &
Paredes, 1985). Neste trabalho são registradas
novas ocorrências de A. bryconis, o primeiro
registro para o Brasil e três novos hospedeiros
são conhecidos: A. falcirostris, P. latior e S.
altispinis.
Ergasilus coatiarius Araujo & Varella, 1998
foi registrado parasitando os hospedeiros C.
monoculus, C. orinocensis e C. temensis. No
presente estudo este parasita foi registrado nos
filamentos branquiais de C. monoculus,
confirmando assim a especificidade pelo
género Cichla.
Ergasilus jaraquensis Thatcher & Robertson,
1982 foi descrito dos filamentos branquiais de
Semaprochilodus insignis (Jardine, 1841) do
rio Solimões próximo à cidade de Manaus
(Thatcher & Robertson, 1982). Este parasita
foi registrado também em Prochilodus lineatus
(Valenciennes 1836). Neste trabalho P. latior e
S. altispinis são registradas como novos
hospedeiros para este parasita.
Ergasilus turucuyus foi registrado como
parasita dos filamentos branquiais de A.
falcatus e A. falcirostris capturados no rio
Pacaás-Novos, próximo à Guajará-Mirim no
Estado de Rondônia e na bacia do igarapé
Fortaleza no Estado do Amapá, Brasil (Malta
& Varella, 1996). No presente estudo este
parasita foi registrado parasitando unicamente
A. falcirostris confirmando a especificidade
pelo hospedeiro.
Ergasilus yumaricus Malta & Varella, 1995 foi
registrado parasitando os hospedeiros P.
nattereri, S. eigenmanni e S. rhombeus. No
presente estudo este parasita foi identificado
parasitando P. nattereri provenientes de
diferentes lagos de várzea da Amazônia
central.
A proporção das espécies de peixes parasitados
por crustáceos no Brasil é equivalente a 6,5%
dos peixes que ocorrem somente no pais,
mostrando que os peixes no Brasil podem ter a
maior riqueza de crusceos parasitas do
mundo (Luque et al., 2013).
No Brasil foram registrados 176 espécies de
Copepoda parasitando 179 espécies de peixes
de água doce. O maior número de espécies de
Copepoda parasitas registrados para a região
Neotropical (Luque et al., 2013). Neste
trabalho foram encontrados 1812 indivíduos
de Copepoda parasitas, distribuídos em 15
espécies e sete gêneros. Estas espécies estavam
parasitando nove espécies de peixes de água
doce, coletados em lagos de várzea da
Amazônia Central.
Ergasilidae (Copepoda) é a maior família de
crustáceos parasitas do Brasil, com 82 espécies
parasitando peixes de água doce, salobra e
salgada (Luque et al., 2013). Neste trabalho
todas as espécies de copepoda parasitas
pertencem à família Ergasilidae.
Acusicola pellonidis Thatcher & Boeger, 1983
foi descrito parasitando as brânquias do
hospedeiro Pellona casteleana. O presente
estudo registra a A. falcirostris como um novo
hospedeiro para este parasita.
Acusicola tucunarense Thatcher, 1984 foi
registrado parasitando as brânquias de Cichla
ocellaris e C. monoculus. Indivíduos de C.
m o n o c u l u s c a p t u r a d o s n a i l h a d a
Marchantaria, no rio Solimões estavam
parasitados por A. tucunarense (Thatcher,
1984; Araujo et al., 2009). Nos lagos de várzea
estudados este parasita foi registrado
unicamente no hospedeiro C. monoculus
confirmando assim sua especificidade por este
hospedeiro.
DISCUSSÃO
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Morey et al.
289
nos filamentos branquiais de R. vulpinus no
estado de Rondônia. No presente trabalho este
parasita foi identificado no mesmo hospedeiro,
sendo registrado pela primeira vez no estado
do Amazonas.
Miracetyma piraya Malta, 1993 foi registrado
pela primeira vez parasitando as brânquias de
P. nattereri. No presente trabalho este parasita
foi identificado no mesmo hospedeiro, assim
como também em A. falcirostris, sendo este
peixe um novo hospedeiro para este parasita.
Rhinergasilus piranhus foi citado parasitando
as fossas nasais de P. nattereri (Boeger &
Thatcher, 1988; Morais, 2012). O presente
trabalho apresenta novos registros para este
para si ta em n ov os hos pe de ir os : C .
macropomum e S. altispinis ampliando assim o
número de hospedeiros conhecidos.
Rh inerga si lu s pi ra nh us é observado
usualmente nos seus hospedeiros junto com
outros gêneros como Gamidactylus e
Gamispatulus (Varella & Malta, 1995). Os
resultados do presente estudo confirmam o
enunciado destes autores que este parasita
foi encontrado juntamente com indivíduos de
G. jaraquensis tanto no hospedeiro P. latior
como em S. altispinis.
Therodomas elongatus Thatcher, 1986 foi
coletado nos arcos branquiais de Plagioscion
squamossisimus (Heckel, 1840), na Amazônia
central e na Amazônia ocidental (Thatcher,
1986; Amado & Rocha 1996). Neste trabalho é
feito o registro de dois novos hospedeiros na
Amazônia central A. oce lla tu s e A .
crassipinnis e as narinas como um novo local
de fixação.
A classificação das espécies de uma
comunidade parasitária em centrais-satélites é
baseada na prevalência (Bush & Holmes,
1986). A presença de espécies satélites em um
hospedeiro é atribuída a diferentes fatores. Ao
alto grau de especificidade parasiria de
determinada espécie (Bush & Holmes, 1986).
Gamidactylus jaraquensis Thatcher & Boeger
1984, foi descrito pela primeira vez
p a r a s i t a n d o a s f o s s a s n a s a i s d e
Semaprochilodus insignis no rio Amazonas,
próximo a Manaus. Fischer et al. (2003),
registraram o parasita G. jaraquensis
parasitando as narinas de C. macropomum na
região de Coari/Tefé. Assim mesmo Lacerda et
al. (2007) estudando as fossas nasais de peixes
da região do Paraná-Brasil, registraram baixos
índices parasitários para os copépodos G.
jaraquensis e R. piranhus. Os resultados do
presente estudo indicam que estes parasitas
mantém um número baixo de indivíduos em
média nos seus hospedeiros, limitados
possivelmente pelo pequeno espaço disponível
dentro da narina.
Miracetyma etimaruya foi descrita dos
filamen tos b r anq u iai s de C u r im a t a
cyprinoides (Linnaeus, 1758) capturadas no
rio Jamari próximo à Ariquemes. Também foi
coletada de C. cyprinoides dos rios Jiparaná
próximo à Jiparaná, Guaporé e Mamo
próximos à Surpresa. Miracetyma etimaruya
foram coletadas também em Psectrogaster
essequibensis (Gunther, 1864) do rio Pacaás-
Novos próximo à Guajará-Mirim, todas
localidades no estado de Rondônia (Malta,
1993a).
Posteriormente M. etimaruya foi coletada dos
filamentos branquiais de Curimatella lepidura
Eigenmann & Eigenmann 1899 capturadas na
represa de Três Marias no alto rio São
Franc i sco , es t ado de Mi n as G e ra i s
(Albuquerque et al. 2008). Neste trabalho é
feito o primeiro registro de ocorrência de M.
etimaruya parasitando P. latior capturadas no
rio Solimões, no estado do Amazonas. Neste
trabalho é ampliada a distribuição geográfica
de M. etimaruya e os dados corroboram que
existe uma alta especificidade parasitária entre
M. etimaruya e os peixes da família
Curimatidae.
Miracetyma kawa Malta, 1993, foi registrado
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Copepods fish parasites from Brazil
290
h o s p e d e i r o s n ã o r e l a c i o n a d o s
filogeneticamente. E. turucuyus foi registrado
unicamente em A. falcirostris e anteriormente
foi descrita em A. falcatus, com o qual pode
se argumentar que esta espécie é específica
para o gênero Acestrorhynchus. A. tucunarense
e E. coatiarius foram registradas só no
hospedeiro C. monoculus, assumindo assim
uma especificidade pela espécie de
hospedeiro. E. yumaricusfoi encontrada
nas brânquias de P. nattereri e anteriormente
foi descrita parasitando os hospedeiros
Serrasalmus eigenmanni e S. rhombeus,
mostrando assim uma especificidade pelos
peixes conhecidos popularmente como
piranhas (Serrasalmidae).
Miracetyma etimaruya foi registrada em P.
latior e anteriormente já foi descrita em
Curimata cyprinoides e Psectrogaster
essequibensis, todos estes hospedeiros
pertencem à mesma ordem e família
(Characiformes-Curimatidae), indicando uma
especificidade deste parasita com peixes da
família Curimatidae. M. piraya foi registrado
em P. nattereri e A. falcirostris, peixes de
diferentes famílias, no entanto foi registrado
um indivíduo em A. falcirostris o qual poderia
ter sido uma infecção acidental. M. kawa foi
identificado parasitando ao hospedeiro R.
vulpinus e até a atualidade é o único hospedeiro
conhecido para este parasita, apresentando
assim uma alta especificidade hospedeiro-
p ar a s i ta . O p a ra s i t a c o m a m e no r
especificidade pelo hospedeiro foi A. bryconis
o qual foi identificado parasitando os
h o s p e d e i r o s A . f a l c i r o s t r i s
(Acestrorhynchidae), P. latior (Curimatidae) e
S. altispinis (Serrasalmidae).
A colonização de novos hospedeiros é
facilitada se outros hospedeiros estão
disponíveis. Esta disponibilidade de
hospedeiros depende se aquelas espécies tem
um modo de vida similar ao presente
hospedeiro do parasita e se eles proveem
condições de vida similares. A similaridade
A baixa especificidade das espécies daquela
comunidade (Esch et al., 1990). Aos hábitos de
forageio da espécie de peixe hospedeira (Bush
& Holmes, 1986a). Aos limites de distribuição
d a es pé ci e p ar as it a, a c om pe ti çã o
(sobreposição do nicho) com espécies
similares e a degradação da espécie parasita
causada pela alteração do ecossistema (Cao et
al., 1998).
Outro fator importante é a condição do
ambiente. Nos ambientes não impactados as
comunidades parasitárias são sucessionais e
geralmente passam de estágios imaturos, com
baixa diversidade de espécies para estágios
adultos com alta diversidade e grande número
de espécies satélites (Cao et al., 1998).
No presente trabalho foram identificadas duas
espécies centrais, com o qual as outras
comunidades de copépodes não são
consideradas em equilíbrio, com uma
distribuição das espécies independente da
presença de outras espécies e com baixa taxa
de transmissão.
A especificidade pelo hospedeiro entende-se
como o alcance ao qual um parasita é restrito
na gama de hospedeiros que utiliza. Os níveis
de especificidade do hospedeiro pode variar
desde alta, com as espécies de parasitas que
ocorrem em apenas uma única espécie de
hospedeiro, até baixa, com as espécies de
parasitas que ocorrem em uma ampla gama de
espécies hospedeiras filogeneticamente não
relacionados (Boxshall, 1998).
No presente estudo constataram-se diferentes
níveis de especificidade entre as diferentes
espécies de copépodes identificadas: A.
pellonidis foi identificada em A. falcirostris
(Characiformes-Acestrorhynchidae), no
entanto foi previamente descrita em Pellona
castelnaeana, peixe que pertence à outra
o r d e m e f a m í l i a ( C l u p e i f o r m e s -
Pristigasteridae) com o qual não se descarta a
possibilidade de ser parasita também de outros
Neotropical Helminthology. Vol. 10, Nº2, jul-dic 2016 Morey et al.
291
lagos de vârzea da Amazônia Central sendo
reportados novos registros e ocorrências. O
estudo de copépodes parasitas ainda é pouco
explorado, sendo necessários mais estudos
para um maior conhecimento e entendimento
deste grupo de parasitas.
Agradecemos ao Projeto PIATAM e ao
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA) pelo apoio logístico, e a toda equipe do
Laboratório de Parasitologia e Patologia de
Peixes pelo auxílio técnico dado durante o
estudo.
entre espécies de hospedeiros usualmente
resulta de um ancestre em comum, no entanto
características ecológicas e fisiológicas
convergentes podem levar a dos hospedeiros
não relacionados a serem infetados por um
determinado parasita (Noble et al., 1989). Este
pode ser o caso do parasita E. jaraquensis que
foi identificando parasitando dois hospedeiros
de diferentes famílias: P. latior (Curimatidae) e
S. altispinis (Serrasalmidae), e anteriormente
descrita em Semaprochilodus insignis
(Prochilodontidae) embora estes peixes sejam
de diferentes famílias, compartem algumas
características ecológicas em comum: habitam
os mesmos lagos e nadam em cardumes o qual
poderia facilitar a transmissão dos parasitas
entre estes hospedeiros.
Só as espécies filogeneticamente ou
ecologicamente relacionadas a o hospedeiro
atual de um determinado parasita proveem as
condições necessárias para sua sobrevivência e
transmissão (Noble et al., 1989). Estas
afirmações concordam com alguns resultados
do presente estudo, que alguns parasitas
foram registrados em mais de um hospedeiro,
os quais são filogeneticamente muito
próximos, assim: T. elongatus parasitava os
hospedeiros A. ocellatus e A. crassipinnis os
quais são peixes do mesmo gênero;
G.jaraquensis parasitando dois hospedeiros da
família Serrasalmidae: C. macropomum e S.
altispinis e R. piranhus parasitando três peixes
da família Serrasalmidae: C. macropomum, P.
nattereri e S. altispinis, confirmando assim a
e s p e c i f i c i d a d e p o r h o s p e d e i r o s
filogeneticamente próximos.
Os lagos de várzea são ecossistemas muito
importantes para a supervivência de diferentes
espécies de copépodes parasitas de peixes, os
quais podem apresentar uma especificidade
hospedeiro-parasita muito alta ou muito baixa.
Esta especificidade é manifestada ao nível de
espécie, gênero, família e ordem. Este trabalho
amplia o conhecimento das espécies de
copépodes parasitas presentes em diferentes
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