ISSN Versión impresa 2218-6425 ISSN Versión Electrónica 1995-1043
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun:33-40.
ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL
METACERCARIAE OF TYLODELPHYS SP. (DIPLOSTOMIDAE) PARASITIZING FISH FROM
BRAZILIAN AMAZON FLOODPLAIN LAKES
METACERCÁRIAS DE TYLODELPHYS SP. (DIPLOSTOMIDAE) PARASITANDO PEIXES DE
LAGOS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
METACERCÁRIAS DE TYLODELPHYS SP. (DIPLOSTOMIDAE) PARASITANDO PECES DE LAGOS
DE VARZEA DE LA AMAZONÍA BRASILERA
1Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Coordenação de Biodiversidade, Laboratório de Parasitologia e
Patologia de Peixes, Av. André Araújo, 2936 – Petrópolis, Manaus, Amazonas, Brazil 69067-375. jfvital@yahoo.com.br;
eloa.arevalo@gmail.com; jcmalta@inpa.gov.br
2Laboratório de Ecologia Molecular e Parasitologia Evolutiva (LEMPE), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rua
Evaristo F. F. da Costa 418, Jardim das Américas, Curitiba – PR, 80050-540. germantiss1106@gmail.com
1 1 2 1
José Francalino Vital ; Eloa Arevalo Gomes ; Germán Augusto Murrieta Morey & José Celso de Oliveira Malta
ABSTRACT
Keywords: Chalceus erythrurus Potamorhina altamazonica Potamorhina latior Potamorhina pristigaster – swimming bladder
Species of Tylodelphys (Diplostomidae) are found parasitizing different organs of freshwater fish, and are
considered highly pathogenic, causing severe damage and even death of their hosts. The present study
reports the occurrence of metacercariae of Tylodelphys sp. parasitizing four fish species from floodplain
lakes of the Brazilian Amazon. Potamorhina altamazonica (Cope, 1878), P. latior (Spix & Agassiz,
1829), P. pristigaster (Steindachner, 1876) and Chalceus erythrurus (Cope, 1870). were captured on
expeditions in the Solimões and Purus river basin lakes including Baixio, Preto, Ananá, Araçá, Maracá,
São Tomé and Catalão, in the state of Amazonas. Metacercariae of Tylodelphys sp. were found exclusively
parasitizing the swimming bladder with high prevalence in Potamorhina sp. (more than 90%). These are
the first records of Tylodelphys sp. infecting these fish species. Tylodelphys sp. may be influencing the
swimming and floating ability of the fish, making them more susceptible to predation in order to ensure
the transmission of the metacercariae to the final host.
Neotropical Helminthology
33
O gênero Tylodelphys é encontrado parasitando
principalmente os olhos, cérebro e cavidade
craniana de peixes de água doce, sendo
considerados como altamente patogênicos
(Buchmann & Uldal, 1994; Blasco-Costa et al.,
2016). Peixes infectados com metacercárias de
Tylodelphys podem ter perda de visão, redução de
crescimento, emagrecimento (Chappell et al.,
1994) ou deformação da coluna vertebral, tumor
INTRODUÇÃO
34
RESUMO
Palavras chave: bexiga natatória Chalceus erythrurus Potamorhina altamazonica Potamorhina latior Potamorhina pristigaster
Espécies de Tylodelphys são encontradas parasitando diferentes órgãos de peixes de água doce, e são
considerados altamente patogênicos, podendo causar danos severos e inclusive causar a morte de seus
hospedeiros. O presente estudo relata a ocorrência de metacercárias de Tylodelphys sp. parasitando 4
espécies de peixes de lagos de várzea da Amazônia brasileira, Potamorhina altamazonica (Cope, 1878),
P. latior (Spix & Agassiz, 1829), P. pristigaster (Steindachner, 1876) e Chalceus erythrurus (Cope, 1870.
Os peixes foram capturados em expedições realizadas nos lagos de várzea do rio Solimões e Purus:
Baixio, Preto, Ananá, Araçá, Maracá, São Tomé e Catalão, no estado do Amazonas. As metacercárias de
Tylodelphys sp. foram encontradas parasitando exclusivamente a bexiga natatória dos peixes, com alta
prevalência nos peixes do gênero Potamorhina (mais de 90%). Este é o primeiro registro de metacercárias
de Tylodelphys sp. nestes hospedeiros. Tylodelphys sp. pode influenciar a função natatória e de flutuação
dos peixes, tornando-os mais susceptíveis à predação para assim garantir a transmissão das metacercárias
para o hospedeiro final.
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun
cerebral, necroses celulares e finalmente a morte
(Machado et al., 2005). Seu ciclo de vida envolve
três hospedeiros: caramujos como primeiros
hospedeiros intermediários, peixes como segundo
hospedeiros intermediários e aves piscívoras como
hospedeiros definitivos (Chappell, 1995).
As espécies de peixes do gênero Potamorhina
Cope, 1878 compreendem diversas espécies,
extremamente abundantes e de importância
ecológica nas comunidades de peixes neotropicais,
por serem animais de hábito detritívoro. São peixes
RESUMEN
Palabras clave: Chalceus erythrurus Potamorhina altamazonica Potamorhina latior Potamorhina pristigaster vejiga natatoria
Las especies de Tylodelphys se encuentran parasitando diferentes órganos de peces de agua dulce, y se
consideran altamente patogénicos, pudiendo causar daños severos e incluso causar la muerte de sus
hospederos. El presente estudio relata la ocurrencia de metacercarias de Tylodelphys sp. Parasitando
cuatro especies de peces de lagos inundables de la Amazonía brasileña, Potamorhina altamazonica
(Cope, 1878), P. latior (Spix & Agassiz, 1829), P. pristigaster (Steindachner, 1876) y Chalceus erythrurus
(Cope, 1870. Los peces fueron capturados durante expediciones realizadas en lagos inundables de los ríos
Solimões y Purús: Baixio, Preto, Ananá, Araçá, Maracá, Santo Tomé y Catalán, en el estado de Amazonas.
Las metacercarias fueron encontradas parasitando la vejiga natatoria de los peces, mostrando altas
prevalencias en los peces del género Potamorhina (más del 90%). Este es el primer registro de ocurrencia
de metacercarias de Tylodelphys sp. en estos hospederos. Tylodelphys sp. puede influenciar la función
natatoria y de fluctuación de los peces, haciéndolos más susceptibles a la depredación para así garantizar
la transmisión de las metacercarias para el hospedero final.
Francalino Vital et al.
35
de pequeno porte, não apresentam dentes e vivem
agrupados próximo ao fundo, em águas abertas
(Fink & Fink, 1978). As espécies de Potamorhina
têm ampla distribuição e três ocorrem na na bacia
amazônica: P. altamazonica, P. latior, P.
pristigaster (Britski et al., 1999).
Chalceus erythrurus pertence à classe
Actinopterygii, à ordem Characiformes e à família
Characidae (incertae sedis). Ocorrem nos rios
Amazonas, Solimões e Ucayali no Peru (Ortega &
Vari, 1986). Peixes do gênero Chalceus (Cuvier,
1817) incluem espécies que são relativamente
comuns nos rios da Amazônia, no rio Orinoco e nos
rios das Guianas que drenam para o Atlântico
(Hercos et al., 2009). Ocorrem geralmente no meio
da coluna de água (pelágicos) em áreas que variam
de florestas inundadas para a região de corredeiras
ribeirinhas, e se alimentam de invertebrados,
pequenos peixes e de matérias vegetais (Zanata &
Toledo-Piza, 2004).
No presente estudo, são reportadas metacercárias
de Tylodelphys sp. provenientes de P.
altamazonica, P. latior, P. pristigaster e C.
erythrurus de lagos de várzea da Amazônia
brasileira.
Espécimes de P. altamazonica, P. latior, P.
pristigaster e C. erythrurus (Figura 1) foram
coletados em março, junho, setembro e dezembro
de 2013 em seis lagos de várzea, cinco no rio
Solimões: Baixio (03°17'27,2''S/ 60 04'29,6''O)
localizado no município de Iranduba; Preto
(03°21'17,1''S/ 60°37'28,6''O) em Manacapuru;
Ananá (03 53'54,8''S/ 61°40'18,4''O) em Anori;
lago Araçá (S03 45' 04,3" S/ 62°21' 25,9" O) em
Codajás; Maracá (03°50'32,8''S/ 62°34'32,4''O) em
Coari e um lago no rio Purus, o São Tomé (03°49'
39,0"S/ 61°25' 24,6" O), e nos mesmos meses no
0
ano 2015 no lago Catalão (3 10`04``S e
59º54`45``W), localizado no município de
Iranduba, no estado do Amazonas, Brasil.
Os peixes foram capturados com redes de espera de
20m de comprimento por 2m de altura com malhas
variando de 30 a 100 mm entre nós adjacentes. As
redes ficaram na água 10 h em cada lago no período
diurno, ocorrendo duas despescas.
No campo os peixes foram identificados, pesados e
medidos. Posteriormente os órgãos do trato
digestivo foram retirados e conservados em frascos
0
de vidro preenchidos com álcool 70 C. Os frascos
com as amostras de cada peixe foram rotulados
com as informações correspondentes.
Os órgãos foram analisados no Laboratório de
Parasitologia de Peixes do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (LPP INPA) em Manaus.
Sob o microscópio estereoscópio as metacercárias
foram retiradas da bexiga natatória, e conservadas
em solução A.F.A (álcool, formol, ácido acético).
Para o estudo morfológico das espécies, lâminas
permanentes foram preparadas utilizando o
processo progressivo de coloração com Carmim
alcoólico (Amato et al., 1991).
A identificação taxonômica foi realizada de acordo
com Gibson et al. (2001). O desenho dos parasitas
foi feito com o auxílio de câmara clara. Os parasitas
foram fotografados com câmara digital Olympus
Color 5, sendo as imagens utilizadas para a
medição do corpo e órgãos internos utilizando o
programa ImageJ. Espécimes testemunho foram
depositadas na Coleção de invertebrados do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA 689, 690, 691). Os índices parasitários
foram calculados segundo Bush et al. (1997).
Metacercárias de Tylodelphys sp. (Figura 2) foram
encontradas infetando a bexiga natatória de P.
altamazonica, P. latior, P. pristigaster e C.
erythrurus. Foram registradas prevalências
maiores de 90% para as espécies de Pothamorhina,
no entanto para C. erythrurus a prevalência foi de
20% (Tabela 1).
Família Diplostomidae Luehe, 1901
Subfamília Diplostominae. Poirier, 1886.
Gênero Tylodelphys Diesing, 1950
Metacercárias livres Tylodelphys sp.
Diagnose baseada em 100 indivíduos (25 de P.
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS
Metacercariae of Tylodelphys
36
altamazonica.,25 de P. latior, 25 de P. Pristigaster e
25 de C. erythrurus. (medidas em µm): Corpo
linguiforme, ligeiramente côncavo ventral,
indistintamente bipartido comprimento 858-1374
(1118 ± 167), segmento posterior cônico não
separado. Segmento anterior com extremidade
arredondada, foliácea; pseudoventosas indistintas.
Órgão tribocítico oval, na região distal do
segmento anterior; ventosa oral terminal e faringe
curta, ventosa ventral circular localizada na metade
da parte anterior. Testículo anterior maior que o
posterior. Vitelaria distribuída em todo o corpo.
Tegumento desprovido de espinhas ou papilas.
Seguimento posterior pequeno e não bem
diferenciado comprimento 143 (13% do
comprimento total do corpo), maior largura
(margem anterior) 161. Ventosa oral sub-terminal,
bem desenvolvida, menor do que a ventosa ventral.
Prefaringe ausente. Faringe oval longitudinal.
Esôfago longo, comprimento 8-77 (46± 22), cecos
intestinais posteriores ao órgão tribocítico. Órgão
tribocítico fortemente musculoso, oval
longitudinal, localizado entre a ventosa ventral e a
extremidade posterior do corpo, 113-220 (153 ±
26) de comprimento 63-134 (89 ± 20) de largura.
Primórdio das gônadas diretamente posterior ao
órgão tribocítico. Vaso excretor em forma de “V”
com poro na parte posterior do corpo. Três
principais ductos excretórios unidos na região da
faringe por ducto transverso a meio caminho entre
a ventosa oral e a ventosa ventral. Dutos menores
não observados. Seguimento anterior preenchido
com inclusões granulares ovais.
Hospedeiros: Potamorhina altamazonica, P.
latior, P. Pristigaster, C. erythrurus.
L o c a l i d a d e s : l a g o C a t a l ã o
(S3°09'47"S/W59º54'29”), Iranduba, Amazonas,
Brasil, setembro de 2015; lago Mucura
(S03°21'28,1''S/W60°31'45,0''); lago Araçá
(S03°45'04,3” / W62°21'25,9”); Costa do Arapapá
(S 03°16' 52.8''S/W 60°21'58,8''). Local de
infecção: Bexiga natatória.
Figura 1. A. Potamorhina altamazonica (Cope, 1878), B. P. latior (Spix & Agassiz, 1829), C. P. pristigaster (Steindachner,
1876), D. Chalceus erythrurus (Cope, 1870) capturados em lagos de várzea da Amazônia brasileira. Escala da barra = 5 cm.
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun Francalino Vital et al.
37
Figura 2. Metacercária de Diplostomidae Tylodelphys sp. da bexiga natatória de Potamorhina latior, P. altamazonica, P.
pristigaster e C. erythrurus. A - Ilustração detalhando as principais estruturas; B. fotomicrograa em microscópio de luz do corpo
inteiro vista ventral. Legendas: VO = ventosa oral; F = faringe; E = esôfago; VV = ventosa ventral; CI = cecos intestinais; OT =
órgão tribocítico; PG= primórdio das gônadas, PE = poro excretor. Escala da barra = 500 µm.
Tabela 1. Índices parasitários de Tylodelphys sp. parasitando Potamorhina altamazonica (Cope, 1878), P. latior
(Spix & Agassiz, 1829), P. pristigaster (Steindachner, 1876) e Chalceus erythrurus (Cope, 1870) capturados em
lagos de várzea da Amazônia brasileira. PE = peixes examinados, PP = peixes parasitados, P% = prevalência, N =
número de parasitas, I = intensidade, IM = intensidade média, AM = abundancia média.
Hospedeiro PE
PP
P%
N I IM
AM
Potamorhina altamazonica 142
126
92,96
3743
7 -
156
29,71 ± 3,58 26,36
Potamorhina latior 120
100
90,9
3474
7 -
158
28,95 ± 4,37 26,31
Potamorhina pristigaster 69
64
92,75
1849
21 -
103
28,89 ± 5,43 26,8
Chalceus erythrurus 45 9 20 383 4 - 215 42,56 ± 2,4 8,5
DISCUSSÃO peixes, anfíbios e mamíferos, incluindo gêneros
como Diplostomum, Neodiplostomum e Alari
(Gibson et al., 2001).
O gênero Tylodelphys Diesing, 1850 foi criado para
incluir espécies caracterizadas por ter nos adultos
Neste trabalho foi possível observar estruturas que
c a r a c t e r i z a m m e t a c e r c á r i a s d o t i p o
diplostomulum. Os adultos parasitam aves, repteis,
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun Metacercariae of Tylodelphys
38
um c o rp o in d i s t i n ta me nt e b i p a r ti do ,
pseudoventosas bem desenvolvidas, extremidade
anterior não trilobada e uma bursa copulatória
contendo um pequeno cone genital com um duto
hermafrodita abrindo terminalmente.
Algumas características particulares podem ser
utilizadas para diferenciar as metacercárias da
família Diplostomidae. Além da morfologia, outro
aspecto que pode ser utilizado na diferenciação é o
modo como se fixam ao hospedeiro (Gibson et al.,
2002). As metacercárias dos gêneros Tylodelphys e
Diplostomum não são encontradas encistadas. Em
nenhum destes dois gêneros uma divisão
distinta entre a parte posterior e anterior do corpo
(ou a parte posterior é muito pequena) enquanto
esta separação é bem visível nas metacercárias
encistadas de P o sth o d i p los t o m u m . As
m e t a c e r c á r i a s d e D i p l o s t o m u m e
Posthodiplostomum possuem concreções
calcáreas arredondadas enquanto as de Tylodelphys
são oblongas e ovais. Duas pseudoventosas laterais
podem ser claramente reconhecidas no seguimento
anterior nas metacercárias de Diplostomum, mas
são indistintas em metacercárias de Tylodelphys, e
ausentes em Posthodiplostomum. O órgão
tribocítico é arredondado em Diplostomum e oval
em Tylodelphys (Niewadomska, 2002).
Atualmente o gênero Tylodelphys possui 16
espécies descritas, distribuídas ao redor do mundo.
Destas somente 12 espécies foram relatadas nas
américas, sendo 7 delas descritas unicamente a
partir de metacercárias (Tylodelphys destructor
Szidat & Nani, 1951; T. barilochensis Quaggiotto
& Valverde, 1992; T. crubensis Quaggiotto &
Valverde, 1992; T. argentinus Quaggiotto &
Valverde, 1992; T. jenynsiae Szidat, 1969; T.
cardiophilus Szidat, 1969 e T. scheuringi Hughes,
1929 (Hughes, 1929; Lunaschi & Drago, 2004;
Muzall & Kilroy, 2007; Drago & Lunaschi, 2008).
As outras 4 espécies são T. adulta, parasita de
Podiceps major Boddaert, 1783 (mergulhão-
grande) da Argentina; T. brevis, parasita da ave
ciconiiforme Mycteria americana Linnaeus, 1758
(cegonha) da Argentina; T. elongata, parasita de
Podiceps dominicus Linnaeus, 1766 (mergulhão-
pequeno) de Cuba, Venezuela e Brasil; e T.
americana parasita de M. americana, e do
podicepedídeo Podilymbus podiceps (Linnaeus,
1758) do Brasil, Venezuela e México. Garcıa-
Varela et al., (2015), descrevem uma nova espécie,
Tylodelphys aztecae García-Varella, Sereno-Uribe,
Pinacho-Pinacho, Hernández-Cruz & Pérez-Ponce
de León, 2015 e discutem que como nenhum adulto
foi utilizado para as espécies descritas a partir de
metacercárias, estas 7 espécies devem ser
consideradas como incertae sedis.
A presença de metacercárias do gênero Tylodelphys
vem sendo observada em diversos hospedeiros
como registrado por Weiblen & Brandão (1992) em
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) na região de
Santa Maria-RS. Esses autores retiraram da bexiga
natatória 845 metacercárias do tipo Tylodelphys em
17 dos 139 peixes coletados. Foi um local diferente
do registrado anteriormente por Szidat (1969) que
as encontrou no cérebro dos peixes. No entanto,
apesar da prevalência maior que 10% os autores
não relataram nenhum comportamento ou aspecto
corporal diferente em H. malabaricus.
Esses resultados foram semelhantes ao observados
por Lizama et al. (2006) que verificou se havia
modificações no fígado e baço em Prochilodus
lineatus (Valenciennes, 1837) parasitados.
Segundo os autores, a correlação negativa para
Tylodelphys e a relação esplenossomática pode ter
sido em função da baixa intensidade encontrada em
P. lineatus.
Correa & Brasil-Sato (2008) encontraram na
bexiga natatória e no intestino metacercárias de
Tylodelphys parasitando Pseudoplatystoma
corruscans (Spix e Agassiz, 1829) no rio São
Francisco. A prevalência encontrada (11%) não
alterou o comprimento dos hospedeiros e apesar da
relação negativa, os autores acreditam que a
presença desses parasitos pode torná-los
suscetíveis a predação de aves.
A presença dessas metacercárias em P.
altamazonica, P. latior, P. pristigaster e C.
erythrurus mostra a expansão pelo território
brasileiro, sendo o primeiro registro para a região
da Amazônia central, corroborando a ampla
distribuição do gênero (Travassos, 1969; Correa &
Brasil-Sato, 2008).
O ciclo de vida dos diplostomídeos envolve a
invasão sequencial de um gastrópode de água doce,
no qual ocorre reprodução assexuada, um peixe,
que atua como hospedeiro intermediário, e as aves
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun Francalino Vital et al.
39
piscívoras ou mamíferos, nos quais os vermes
adultos maturam no intestino (Chapell, 1995;
Niewiandomska, 2002). Nos lagos estudados neste
trabalho as metacercárias Tylodelpys sp. estão
utilizando P. altamazonica, P. latior, P. pristigaster
e C. erythrurus como hospedeiros intermediários.
Não foram observadas metacercárias de
Tylodephys sp. parasitando outros órgãos, somente
a bexiga natatória, todas as metacercárias estavam
no mesmo estágio de desenvolvimento.
Os parasitas extraem energia dos seus hospedeiros.
Se os hospedeiros carecem de nutrientes ou
padecem algum distúrbio, seus comportamentos
podem mudar consideravelmente. Se a fisiologia
do peixe é afetada, este pode se tornar mais lento ou
exibir menor desempenho físico.
Alternativamente, também pode ficar mais ativo,
incrementando o contato com outros organismos,
entre estes os predadores, assim, os peixes podem
ser consumidos por outros vertebrados que atuem
como hospedeiros finais dos parasitas (Lafferty &
Shaw, 2013). No presente estudo, a presença de
metacercarias de Tylodelphys sp. na bexiga
natatória de P. altamazonica, P. latior, P.
pristigaster e C. erythrurus pode ser uma estratégia
do parasita para afetar a fisiologia dos hospedeiros,
alterando seus comportamentos. Provavelmente o
parasita afeta a função da bexiga natatória, fazendo
que os peixes subam mais à superfície da água, ou
a l t e r em n e g a t iv a m e n t e s u a na t a ç ã o ,
incrementando as chances de serem consumidos
por outros vertebrados, principalmente, aves
piscívoras.
Para identificar a espécie de Tylodelpys parasitas de
P. altamazonica, P. latior, P. pristigaster e C.
e r y t h r u r u s são nec ess árias i nfe cções
experimentais, em que as metacercárias serão
colocadas em contato com animais em laboratório
como peixes, aves e mamíferos, aguardando-se o
tempo necessário para o desenvolvimento dos
adultos (por exemplo, 15 dias) e posteriormente
feito o sacrifício dos animais e a coleta dos
digenéticos adultos para identificação (Barbosa,
2011; Pinto & Melo, 2013). Estes estudos sempre
devem ser submetidos a aprovação de um comitê
de ética da instituição para a utilização de animais
em experimentos.
Os autores agradecem ao Laboratório de
Parasitologia de peixes do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia pelo apoio brindado
durante a realização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Amato, JFR, Boeger, WA & Amato, SB. 1991.
Protocolos para laboratório-coleta e
processamento de parasitas do pescado.
Imprensa Universitária, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brasil. 81 pp.
Barbosa, F. 2011. Biomphalaria Straminea
(Mollusca: Planorbidae) como hospedeiro
intermediário de Zygocotyle Lunata
(Tremadota: Zygocotylidae) no Brasil.
Neotropical Helminthology, vol. 5, pp. 241-
246.
Blasco-Costa, I, Poulin, R & Presswell, B. 2016.
Morphological description and molecular
analyses of Tylodelphys sp. (Trematoda:
Diplostomidae) newly recorded from the
freshwater fish Gobiomorphus cotidianus
(common bully) in New Zealand. Journal of
Helminthology, vol. 91, pp. 1–14.
Britski, HÁ, De Silimon, KZS & Lopes, BS. 1999.
Peixes do pantanal - Manual de
identificação. EMBRAPA, Brasília, Brasil.
184 pp.
Buchmann, K & Uldal, A. 1994. Effects of eyefluke
infections on growth of rainbow trout
(Oncorhynchus mykiss) in a mariculture
system. Bulletin of the European
Association of Fish Pathologists, vol. 14,
pp. 104–107.
Bush, AO, Lafferty, KD, Lotz, JM & Shostak, AW.
1997. Parasitology meets ecology on its
own terms: Margolis et al. revisited. The
Journal of parasitology, vol. 83, pp. 575-
583.
Chapell, LH. 1995. The biology of diplostomatid
e y e f l u k e s o f f i s h e s . J ou rnal o f
Helminthology, vol. 69, pp. 97-101.
Chappell, LH, Hardie, LJ & Secombes, CJ. 1994.
Dip l o s t o mia s i s : th e disea s e and
host–parasite interactions. In: Pike, AW &
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun Metacercariae of Tylodelphys
40
Lewis, JW (eds). Parasitic diseases of fish.
Samara Publishiny Dyfield. UK. pp. 59-86.
Corrêa, RD, Brasil-Sato, MC. 2008. Digenea in the
surubim Pseudoplatystoma corruscans
(Spix and Agassiz, 1829) (Siluriformes:
Pimelodidae) of the upper São Francisco
River, State of Minas Gerais, Brazil.
Brazilian Archives of Biology and
Technology, vol. 51, pp. 1181-1185.
Drago, FB & Lunaschi, LI. 2008. Description of a
new species of Tylodelphys (Digenea,
Diplostomidae) in the wood stork, Mycteria
americana (Aves, Ciconiidae) from
Argentina. Acta Parasitologica, vol. 53, pp.
263-267.
Fink, WI & Fink, S. 1978. A Amazônia Central e
seus peixes. Acta Amazonica, vol. 8, pp. 19-
42.
García, M, Sereno, A, Pinacho, C, Hernández, E &
Leon, G. 2015. An integrative taxonomic
study reveals a new species of Tylodelphys
Diesing, 1950 (Digenea: Diplostomidae) in
central and northern Mexico. Journal of
helminthology, vol.90, pp. 668-679.
Gibson, DI, Jones, A & Bray, RA. 2001. Keys to the
Trematoda, vol. 1, CABI Publishing,
London, 521 pp
Hercos, AP, Queiroz, HL & Almeida, HL. 2009.
Peixes ornamentais do Amanã. IDSM, Tefé,
Brasil, 241 pp.
Hughes, RC. 1929. Studies on the trematode
Family Strigeidae (Holostomidae) No. XIX.
Diplostomum scheuringi sp. nov. and D.
vegrandis (La Rue). The Journal of
Parasitology, vol. 15, pp. 267–271.
Lafferty, KD & Shaw, JC. 2013. Comparing
mechanisms of host manipulation across
host and parasite taxa. Journal of
Experimental Biology, vol. 216, pp. 56-66.
Lizama, MAP, Takemoto, RM & Pavanelli, GC.
2006. Parasitism influence on the hepato,
splenosomatic and weight/length relation
and relative condition factor of Prochilodus
l i n e a t u s ( Va l e n c i e n n e s , 1 8 3 6 )
(Prochilodontidae) of the upper Paraná
river floodplain, Brazil. Revista Brasileira
de Parasitologia Veterinária, vol. 15, pp.
116-122.
Lunaschi, L & Drago, F. 2004. Descripción de una
especie nueva de Tylodelphys (Digenea:
Diplostomidae) parásita de Podiceps major
(Aves: Podicepedidae) de Argentina.
Anales del Instituto de Biología. Serie
Zoología, vol. 75, pp. 245-252.
Machado, PM, Takemoto, RM & Pavanelli, GC.
2005. Diplostomum (Austrodiplostomum)
(Lutz, 1928) (Platyhelminthes, Digenea)
metacercariae in fish from the floodplain of
the Upper Parana Riv er, Bra zi l.
Parasitology Research, vol. 97, pp.
436–444.
Muzall, MP & Kilroy, AL. 2007. Tylodelphys
scheuringi (Diplostomidae) infecting the
brain of the central mudminnow, Umbrina
limi, in silver creek, Michigan, USA.
Comparative Parasitology, vol. 74, pp. 164-
166.
Niewiadomska, K. 2002. S u p e r f a m i ly
Diplostomoidea Poirier, 1886. In: Gibson,
D, Jones, A & Bray, R. (Eds.). Keys to
Trematoda. CABI Publishing & The
Natural History Museum, London, UK.
pp.167-196.
Ortega, H & Vari, RP. 1986. Annotated checklist of
the freshwater fishes of Peru. Smithsonian
Contributions to Zoology, vol. 437, 25 pp.
Pinto, HÁ, Melo, AL. 2013. Larvas de trematódeos
em moluscos do Brasil: panorama e
perspectivas após um século de estudos.
Revista de Patologia Tropical, vol. 42, pp.
369-386.
Szidat, L. 1969. Structure, development, and
behaviour of new strigeatoid metacercariae
from subtropical fishes of South America.
Journal of the Fisheries Research Board of
Canada, vol. 26, pp. 753-786.
Travassos, L., Freitas, JTD, Kohn, A. 1969.
Tremadeos do Brazil. Memórias do
Instituto Oswaldo Cruz, vol. 67, pp. 1-886.
Weiblen, AM & Brandão, DA. 1992. Survey of
parasites of Hoplias malabaricus (bloch,
1974) in Santa Maria county. Ciência Rural,
vol. 22, pp. 203-208.
Zanata, AM & Toledo-Piza, M. 2004. Taxonomic
revision of the South American fish genus
Chalceus Cuvier (Teleostei: Ostariophysi:
Characiformes) with the description of
three new species. Zoological Journal of the
Linnean Society, vol. 140, pp. 103-135.
Received February 13, 2018.
Accepted March 21, 2018.
Neotropical Helminthology, 2018, 12(1), ene-jun Francalino Vital et al.