197
Synthesium pantoporiae
and
Synthesium tursionis
in
Pontoporia blainvillei.
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
2, jul - dec 2024
Neotropical Helminthology
Neotropical Helminthology, 2024, vol. 18 (2), 197-206
ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL
SYNTHESIUM PANTOPORIAE
AND
SYNTHESIUM TURSIONIS
(DIGENEA;
BRACHYCLADIIDAE ODHNER
, 1905) IN
PONTOPORIA BLAINVILLEI
GERVAIS & D’ORBIGNY, 1844 (CETACEA, PONTOPORIIDAE) IN SOUTH
OF THE STATE OF SANTA CATARINA, BRAZIL
SYNTHESIUM PANTOPORIAE
Y SYNTHESIUM TURSIONIS (DIGENEA;
BRACHYCLADIIDAE ODHNER
, 1905) EN
PONTOPORIA BLAINVILLEI
GERVAIS & D’ORBIGNY, 1844 (CETACEA, PONTOPORIIDAE) EN EL SUR
DEL ESTADO DE SANTA CATARINA, BRAZIL
SYNTHESIUM PANTOPORIAE
E
SYNTHESIUM TURSIONIS
(DIGENEA;
BRACHYCLADIIDAE ODHNER
, 1905) EM
PONTOPORIA BLAINVILLEI
GERVAIS & D’ORBIGNY, 1844 (CETACEA, PONTOPORIIDAE) NO SUL
DO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL
Rosiléia Marinho de Quadros
1,2*
, Pedro Volkmer de Castilho
3
, Gabriela Cristini de Souza
4
, Carolina
Feltes Alves
4
, Eduardo Macagnan
4
& Natanael da Silva
4
ISSN Versión Impresa 2218-6425 ISSN Versión Electrónica 1995-1403
DOI: https://dx.doi.org/10.62429/rnh20242181821
Universidad Nacional
Federico Villarreal
Volume 18, Number 2 (jul - dic) 2024
Este artículo es publicado por la revista Neotropical Helminthology de la Facultad de Ciencias Naturales y Matemática, Universidad Nacional Federico
Villarreal, Lima, Perú auspiciado por la Asociación Peruana de Helmintología e Invertebrados Af nes (APHIA). Este es un artículo de acceso abierto,
distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Atribución 4.0 Internacional (CC BY 4.0) [https:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/
deed.es] que permite el uso, distribución y reproducción en cualquier medio, siempre que la obra original sea debidamente citada de su fuente original.
ABSTRACT
Parasitic susceptibility can occur individually or in populations due to several factors, such as parasite species, abundance,
host health status (age, nutritional status), and competition between dif erent types of parasites. T is study reports the
presence of
Synthesium pontoporiae
Raga, Aznar, Balbuena & Dailey, 1994 and
Synthesium tursionis
(Marchi, 1873) in
1
Departamento de Medicina Veterinária - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Brasil.
2
Laboratório de Zoologia e Parasitologia da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC). Brasil.
3
Departamento de Engenharia de Pesca e Ciências Biológicas – Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Brasil.
4
Projeto de Monitoramento de Praias – Bacia de Santos (PMP-BS) – Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Brasil.
* Corresponding author: rosileia.quadros@udesc.br
Rosiléia Marinho de Quadros:
https://orcid.org/0000-0003-2801-0289
Pedro Volkmer de Castilho:
ht tps://orcid.org/0000-0002-9939-7807
Gabriela Cristini de Souza:
htt ps://orcid.org/0009-0005-2175-9483
Carolina Feltes Alves
:
h ttps://orcid.org/0009-0000-7004-2589
Eduardo Macagnan:
ht tps://orcid.org/0009-0003-5174-5387
Natanael da Silva:
https://orcid.org/0009-0002-9511-6438
198
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
2, jul - dec 2024
Marinho de Quadros
et al.
Pontoporia blainvillei
Gervais & D’Orbigny, 1844 found dead on the beaches of the municipalities of Laguna, Imbituba
and Garopaba, located on the southern coast of Santa Catarina, Brazil, between 2017 until 2020. A total of 144 speci-
mens of trematodes were identifed in 14 evaluated animals, with a prevalence of 35,71%, mean abundance of 10.28, and
mean intensity of infection of 28.80. Te average intestinal length was 8.96 meters, ranging from 1.90 to 29.10 meters.
Te occurrence of parasites can be indicative of the relationship between feeding habits and the dispersion of animals
in the ocean and, in the case of the presence of the
Synthesium
trematode, this knowledge is fundamental in the research
for more information about the evolutionary cycle of this parasite. In this study, although the beaches where the animals
were found are geographically very close, there were signifcant diferences, mainly between the intensity and parasite
abundance, which demonstrates the need for further studies to understand the relationship between the fndings in this
study with the diet and the presence of possible intermediate hosts of this parasite in these regions.
Keywords:
Beaches – Cetacean – Digenetic – Trematode
RESUMEN
La susceptibilidad de los parásitos puede ocurrir a nivel individual o pablacional en función de vários factores, tales
como: espécies de parásitos, abundancia, estado de salud del huésped (edad, estado nutricional) y competencia entre los
diferentes tipos de parásitos. Este estudio reporta la presencia de
Synthesium pontoporiae
Raga, Aznar, Balbuena & Dailey,
1994 y
Synthesium tursionis
(Marchi, 1873) en
Pontoporia blainvillei
Gervais & D’Orbigny, 1844 encuentrados muertos
en las playas de las municipalidades de Laguna, Imbituba y Garopaba, ubicados en la costa sur de Santa Catarina, Brasil,
entre los años de 2017 hasta 2020. En total se identifcaron 144 ejemplares de tremátodos en 14 animales evaluados,
con prevalencia de 35,71%, abundancia promedio de 10,28 y intensidade media de infección de 28,80. La longitud
intestinal promedio fue de 8,96 m, con un rango de 1,90 a 29,10 m. La aparición de parásitos puede ser indicativo
de la relación dietética con las dispersión de animales en el océano y cuando se tracta de la presencia de
Synthesium
, es
importante buscar mas información sobre el ciclo de vida de este parásito. En este estudio, aunque las playas donde se
encuentraran los animales estan muy cercanas geográfcamente, hubo diferencias signifcativas principalmente entre la
intensidad y abundancia de los parásitos, lo que demuestra la necesidad de mas estudios para comprender la relación
entre los hallazgos con la dieta y la presencia de posible huéspedes intermediários en estas regiones.
Palabras clave:
Cetaceo – Digeneo – Playas – Trematodo
RESUMO
A susceptibilidade parasitária pode ocorrer de forma individual ou populacional a partir de diversos fatores, como: espécie
do parasito, abundância, estado de saúde do hospedeiro (idade, estado nutricional) e competição entre diferentes tipos
de parasitos. Este estudo relata a presença de
Synthesium pontoporiae
Raga, Aznar, Balbuena & Dailey, 1994 and
Synthe-
sium tursionis
(Marchi, 1873) em
Pontoporia blainvillei
Gervais & D’Orbigny, 1844 encontradas em óbito nas praias dos
municípios de Laguna, Imbituba e Garopaba, localizados no litoral sul de Santa Catarina, Brasil, entre os anos de 2017 a
2020. No total 144 espécimes dos trematódeos foram identifcados em 14 animais avaliadas, com prevalência de 35,71%,
abundância média de 10,28 e intensidade média de infecção de 28,80. A média de comprimento intestinal foi de 8,96
metros, com variação de 1,90 a 29,10 metros. A ocorrência de parasitos pode ser indicativa da relação alimentar com a
dispersão dos animais no oceano e em se tratando da presença de
Synthesium
é de extrema relevância para buscar maiores
informações acerca do ciclo evolutivo deste parasito. Neste estudo, embora as praias onde os animais foram encontrados
sejam geografcamente muito próximas, houve diferenças signifcativas principalmente entre a intensidade e abundância
parasitária, o que demonstra a necessidade de mais estudos para o entendimento da relação entre os achados com a dieta
e presença de possíveis hospedeiros intermediários nestas regiões.
Palavras chave:
Cetáceo – Digenético – Praias – Trematódeo
199
Synthesium pantoporiae
and
Synthesium tursionis
in
Pontoporia blainvillei.
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
2, jul - dec 2024
INTRODUÇÃO
A toninha,
Pontoporia blainvillei
(Gervais & d’Orbigny,
1844), é um pequeno cetáceo odontoceto que possui
rostro longo e estreito característico e melão proeminente
(Amaral
et al.
, 2018). O padrão de coloração vai do
marrom ao cinza na região dorsal (a) e o ventre mais claro
(b), conforme a Figura 1 abaixo. As fêmeas em geral são
maiores que os machos e o ciclo de vida da espécie são
um dos mais curtos entre os cetáceos (Di Beneditto,
et al.
,
2010; Crespo, 2017).
Figura 1.
Morfología externa e de
Pantoporia blainvillei
.
E
m relação a sua distribuição é endêmica da região
sudeste da América do Sul, vivendo em águas costeiras e
estuarinas ao longo da costa do Oceano Atlântico, entre
Itaúnas (18º25’S; 30º42’W), Espírito Santo (Brasil),
e o Golfo Nuevo (42º35’S; 64º48’W) na Península
Valdés, Argentina (Secchi
et al
., 2021). Ao longo da área
de distribuição, no entanto, dois hiatos de ocorrência são
observados. O primeiro entre Santa Cruz (19º57’S) e Barra
do Itabapoana (21º18’S), no estado do Espírito Santo, e o
segundo entre Armação dos Búzios (22º44’S) e Piraquara
de Dentro (22º59’S), no estado do Rio de Janeiro, ambos
na porção brasileira da área de ocorrência da espécie. As
causas para a ausência de toninhas nestas regiões são:
temperatura, salinidade e turbidez da água (Amaral
et al
.,
2018).
Os parasitos de cetáceos têm sido tema de diversos trabalhos,
com ênfase em taxonomia, ecologia e efeitos patológicos.
Algumas pesquisas buscam ainda relacionar a presença de
parasitos entre as causas de encalhe e mortalidade. No Brasil,
no entanto, os trabalhos ocorrem de forma esporádica e
são, em geral, decorrentes de encalhes com desfecho fatal
(Pool
et al.,
2021).
A susceptibilidade parasitária pode ocorrer de forma
individual ou populacional a partir de diversos fatores,
como: espécie do parasito, abundância, estado de saúde do
hospedeiro (idade, estado nutricional) e competição entre
diferentes tipos de parasitos. Embora a maioria das infecções
parasitárias em mamíferos marinhos não apresentem sinais
clínicos (Wyrosdick
et al
., 2018).
Os trematódeos da família Brachycladiidae parasitam
mamíferos marinhos e tem taxonomia e evolução complexa.
Entre os trematódeos conhecidos dos cetáceos está o gênero
Synthesium
, com ciclo de vida pouco conhecido (Marigo
et
al
., 2015).
A infecção parasitária em cetáceos no Brasil tem sido
atribuída a mais de 20 espécies. Quanto as espécies de
Synthesium
, são descritas:
Synthesium tursionis
(Marchi,
1873), a mais comum e que parasita maior número de
odontocetos;
Synthesium pontoporiae
Raga, Aznar, Balbuena
& Dailey, 1994, espécie que parasita exclusivamente as
toninhas;
Synthesium seymouri
(Prince, 1932);
Synthesium
elongatus
(Osaki, 1935);
Synthesium nipponicus
(Yamaguti,
1951);
Synthesium mironovi
(Krotoc & Delyamure,
1952);
Synthesium subtilis
(Skrjabin, 1959);
Synthesium
delamurei
(Raga & Balbuena, 1988) (Marigo
et al
., 2011).
Synthesium
é um gênero de ampla distribuição encontrado
em várias famílias de odontocetos (Pontoporiidae,
Delphinidae, Monodontidae e Phocoenidae) indicando
que houve no decorrer do tempo um longo período de
interação
parasito-hospedeiro. No entanto não é possível
200
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
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Marinho de Quadros
et al.
defnir quando e quais espécies de
Synthesium
primeiro se
adaptaram as espécies de odontocetos, porém parece que
o ancestral do
S. pontoporiae
teve uma adaptação anterior
a determinadas famílias para posteriormente se adaptar
exclusivamente ao gênero
Pontoporia
. As particularidades
evolutivas e biológicas das toninhas podem ter provocado
adaptações no ancestral que, aliadas ao isolamento
reprodutivo, causaram o processo de especiação (Marigo
et
al
., 2015).
Este trabalho teve por objetivo relatar a presença de
Synthesium
spp. em
P. blainvillei
encontradas em óbito nas
praias do litoral sul de Santa Catarina, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
O Projeto de Monitoramento de Praias – Bacia de Santos
(PMP-BS), em parceria com a Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC) e Instituto Australis (IA), que
atendem as praias dos munícipios de Laguna, Imbituba
e Garopaba, no litoral sul de Santa Catarina, Brasil,
apresentam um programa de monitoramento diário de
observação e intercorrências em mamíferos e aves marinhas.
Os dados amostrados no trabalho corresponderam aos
períodos entre 2017 a 2020.
Os cetáceos da espécie
P. blainvillei
encontrados mortos
foram avaliados para a viabilidade da realização do exame
necroscópico e a coleta de amostras biológicas para as
pesquisas. A vialibilidade seguiu a classifcação segundo
a escala de 1 a 5 de acordo o estágio de decomposição
(Geraci & Lounsbury, 2005). A necropsia completa com a
coleta de amostras para exame histopatológico foi realizada
em animais considerados até código 3 de estágio de
decomposição no momento do exame. A classifcação para
a tomada de decisão da necropsia e coleta da amostra estão
representados na Tabela 1.
Tabela 1.
Escala de codifcação de carcaças para viabilidade de exame de necropsia e coleta de amostras considerando
características externas.
CódigoDescriçãoCaracterísticas
1Animal Vivo-
2Carcaça Fresca
Animal em rigor mortis; aparência normal; olhos
íntegros; ausência de inchaço e odor característicos; pouco
dano por fauna necrófaga.
3Pouco Decomposto
Carcaça intacta; inchaço aparente; odor moderado;
olhos secos e retraídos; carcaça danifcada por fauna
necrófaga.
4Decomposição Avançada
Carcaça pode estar intacta, mas colapsada; perda de
grandes porções de pele; odor forte; partes da carcaça
podem estar ausentes; dano severo por fauna necrófaga;
carcaça com pouca consistência.
5MumifcaçãoResquícios de pele recobrindo o esqueleto; tecidos restan-
tes ressecados; ausência de órgãos.
Fonte: Geraci & Lounsbury (2005).
Durante o exame de necropsia, os intestinos foram reti-
rados e divididos entre delgado e grosso, e cada uma das
porções foram medidas. Para a triagem, o intestino delga-
do foi subdividido em cinco partes iguais e então realizada
a inspeção de toda sua extensão, conforme metodologia
descrita por Marigo (2003).
A triagem de cada porção intestinal foi realizada separa-
damente. Estas porções, foram abertas, sendo após o con-
teúdo intestinal lavado e peneirado com o auxílio de uma
peneira metálica de malha de 150 µm. Na sequência, foi
verifcada a presença de parasitos neste peneirado, onde
estes foram coletados e armazenados em álcool 70º GL e
encaminhados ao Laboratório de Zoologia e Parasitologia
201
Synthesium pantoporiae
and
Synthesium tursionis
in
Pontoporia blainvillei.
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
2, jul - dec 2024
da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC),
localizado na cidade de Lages, Santa Catarina, Brasil.
Os parasitos foram alocados em placa de Petri e obser-
vados em estereomicroscópio para a separação e conta-
gem dos parasitos. Em seguida, estes foram novamente
armazenados em etanol, fxados e comprimidos entre lâ-
minas com solução de AFA (Álcool – Formalina – Ácido
Acético) e posteriormente desidratados em uma série de
etanol. Por fm, os parasitos foram corados com hemato-
xilina de Delafeld, clarifcados em creosoto de Faia e
montados em lâminas com bálsamo do canadá, seguindo
a metodologia de Amato
et al.
(1991).
A identifcação se deu através da morfologia dos órgãos
reprodutores, bem como através das medidas das estru-
turas como ventosa anterior, acetábulo entre outras, com-
parando os dados morfológicos descritos por Fernández
et al.
(1994), Marigo
et al
. (2008) e Ebert
et al
. (2017). A
medição das estruturas foi realizada através da utilização
da ocular micrométrica após calibração das objetivas e cal-
culadas pelo devido fator de correção através das objetivas
de 4 e 10 x.
A determinação do número de parasitos seguiu o método
segundo Marigo
et al
. (2008). Para o cálculo da preva-
lência, intensidade e abundância parasitária, utilizou-se a
descrição de Alves
et al.
(2017), conforme as fórmulas
abaixo.
Prevalência =
Hspedeiros infectados x 100
N° total de animais
Intensidade de Infecção =
N° total de parasitos
N° de hospedeiros infectados
Abundância Parasitária =
N° total de parasitos
N° total de animais
Aspectos éticos
: O Projeto de Monitoramento de Praias
– Bacia de Santos (PMP-BS), apresenta autorização para
captura, coleta e transporte de material biológico (ABIO),
com número de licença 640/2015, concedida pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA).
RESULTADOS
Entre 2017 e 2020, 127
Pantoporia blainvillei
foram res-
gatadas nas praias dos municípios de Laguna (28º28’57”S
e 48º46’51”W), Imbituba (28º14‘24”S e 48º40’13”W) e
Garopaba (28º 01’ 24” S e 48º 36’ 48” W), no estado de
Santa Catarina, sul do Brasil. Destas, 30 encontravam-se
em código 2 ou 3 de estágio de decomposição no mo-
mento da necropsia, possibilitando a coleta de material
para estudo. No entanto, de 30 toninhas possíveis para
amostragem, apenas 14 tinham presença de parasitos.
Dos 14 animais analisados, oito foram resgatados nas
praias do município de Laguna e três eram procedentes
das praias de Imbituba e Garopaba, respectivamente, con-
forme mostra o mapa da Figura 2.
Figura 2.
Mapa mostrando a distribuição espacial dos
encalhes de
Pantoporia blainvillei
utilizadas neste estudo
nos municípios de Laguna, Imbituba e Garopaba, Santa
Catarina, Brasil, entre os anos de 2017 e 2020.
No total, 144 espécimes de trematódeos, 125 deles foram
identifcados como
S. pontoporiae
e 19 de
S. tursiops
. As
fguras 3 e 4 abaixo, apresentam a morfologia das estru-
turas, bem como os padrões morfométricos para as duas
espécies.
202
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
2, jul - dec 2024
Marinho de Quadros
et al.
Figura 3.
A
-
Synthesium pontoporiae
,
B -
Detalhe para ventosa anterior (VA) e ventosa posterior (VP); 2 – Disposição dos
órgãos reprodutores: O – ovário, Te (a) – testículo anterior, Te (p) – testículo posterior.
Figura 4.
A –
Synthesium tursionis
,
B -
Detalhe para ventosa anterior (VA) e ventosa posterior (VP); 2 – Disposição dos
órgãos reprodutores: O – ovário, Te (a) – testículo anterior, Te (p) – testículo posterior.
203
Synthesium pantoporiae
and
Synthesium tursionis
in
Pontoporia blainvillei.
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
2, jul - dec 2024
Os espécim
es foram depositados na coleção didática do
Laboratório de Zoologia e Parasitologia da UNIPLAC.
A prevalência de parasitos foi de 35,71%, abundância
média e intensidade média de infecção de 10,28 e 28,80,
respectivamente. A média de comprimento intestinal foi
de 8,96 metros, com variação de 1,90 a 29,10 metros. A
tabela 2 mostra o número de animais, a prevalência, a
intensidade de infecção, a abundância parasitária e o
comprimento médio dos inte
stinos por município.
Tabela 2.
Número de animais, prevalência, intensidade, abundância e comprimento médio dos intestinos, de acordo com
o município.
Município
Número
de Indiví-
duos
Prevalência
(%)
Intensidade
de Infecção
Abundância
Parasitária
Comprimento
Médio dos In-
testino (m)
Laguna82511,52,875,88
Garopaba366,662214,6715,75
Imbituba333,337725,6715,67
DISCUSSÃO
A falta de dados acerca de parasitos em cetáceos se dá
principalmente pela falta de profssionais especializados
na área e da escassez de material biológico disponível e
adequado para o estudo. Uma vez que o material utilizado
para pesquisas é majoritariamente obtido de animais enca-
lhados em óbito, a viabilidade das amostras para diferentes
análises é um desafo, visto que estes animais frequente-
mente são encontrados e resgatados em avançado estágio
de decomposição.
O conhecimento da fauna parasitária neste grupo de animais
é de extrema importância, tanto para contribuir com a
elucidação de encalhes, individuais ou coletivos, uma vez
que pode trazer informações relevantes para auxiliar na
determinação da
causa mortis
do
animal e de seu estado de
saúde, como também como ferramenta fundamental para
estudos biológicos e ecológicos (Carvalho
et al
., 2010).
Os hábitos alimentares são fundamentais para o
entendimento da movimentação, distribuição e preferência
pelo habitat (Bassoi
et al
., 2021). Em relação a alimentação,
os peixes teleósteos são o componente principal da dieta,
seguidos por cefalópodes e crustáceos (Paitach, 2015;
Secchi
et al
., 2021). O conhecimento das dietas alimentares
e disposição de alimentos na região podem contribuir para
a compreensão dos ciclos parasitários.
Synthesium pontoporiae
é um trematódeo intestinal exclusivo
de
P. blainvillei
que tem sido apontado como indicador
biológico para identifcação de estoques populacionais da
espécie hospedeira (Marigo
et al
., 2008). Diferenças em
prevalência e intensidade média de infecção ao longo da
área de distribuição da toninha são observadas, porém uma
diferença maior relacionada a sazonalidade foi relatada
(Marigo
et al
., 2002). A variação de parasitas intestinais
de
P. blainvillei
ao longo de sua área de ocorrência é citada
por estudos que comparam a fauna parasitária em animais
resgatados no Brasil (Rio Grande do Sul), Uruguai e
Argentina (Andrade
et al
., 1997). Os autores deste estudo
relatam a semelhança da fauna parasitária observada nos
animais resgatados no Brasil e Uruguai e a diferença desta
para aquela dos animais encontrados na Argentina. Estes
achados sugerem a existência de dois estoques ecológicos
diferentes. No entanto esta afrmação carece de estudos
comprobatórios, com metodologia aprimorada, uma vez
que estes resultados foram obtidos a partir de análises
realizadas ao longo de apenas uma estação do ano. Também
nesta linha de pesquisa, estudos recentes demostram a
diferença na fauna parasitária de toninhas encontradas em
diferentes regiões do Brasil.
Em um estudo que comparou animais resgatados no
Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul, observou-se que
a fauna parasitária encontrada nos animais amostrados no
Rio Grande do Sul foi diferente em relação as toninhas dos
demais estados (Marigo
et al
., 2015).
Synthesium tursionis
é uma espécie de ampla distribuição
geográfca, encontrada principalmente em
Tursiops
truncatus
e outras espécies de odontocetos, com descrição
para os mares Mediterrâneo e Negro, bem como nos
oceanos Atlântico, Pacífco e Índico (Shiozaki
et al
.,
2019). Segundo Marigo
et al
. (2008), o saco do
cirro de
S. tursionis
são de forma tubulares, ao contrário de S.
pantoporiae que são piriformes. Em nosso estudo não foi
possível determinar o formato, devido a região estar com
204
Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, N
º
2, jul - dec 2024
Marinho de Quadros
et al.
presença de grande quantidade de ovos provenientes da
região do útero.
No presente estudo foram observadas diferenças prin
-
cipalmente na intensidade parasitária dos animais res
-
gatados nas praias dos três municípios avaliados, o que
está de acordo com os resultados obtidos por um outro
estudo realizado com cetáceos encontrados na região da
baía da Babitonga e áreas costeiras adjacentes (Alves
et
al
., 2017).
Embora a fauna parasitária em cetáceos seja diversa
podendo ser encontrada em diversos tecidos e órgãos, em
geral a patogenicidade é variada desde pouco signifcado
clínico a situações que levam a mortalidade das espécies.
A ocorrência de parasitos pode ser indicativa da relação
alimentar com a dispersão dos animais no oceano e em
se tratando da presença do trematódeo
Synthesium
, este
conhecimento é fundamental na busca por maiores
informações acerca do ciclo evolutivo deste parasito.
Neste estudo, embora as praias onde os animais foram
encontrados sejam geografcamente muito próximas,
houve diferenças signifcativas principalmente entre a
intensidade e abundância parasitária, o que demonstra
a necessidade de mais estudos para o entendimento
da relação entre os achados com a dieta e presença de
possíveis hospedeiros intermediários nestas regiões.
Author contributions
:
CRediT (Contributor Roles
Taxonomy)
RMQ
= Rosiléia Marinho de Quadros
PVC
= Pedro Volkmer de Castilho
GCS
= Gabriela Cristini de Souza
CFA
= Carolina Feltes Alves
EM
= Eduardo Macagnan
NS = Natanael da Silva
Conceptualization
: RMQ
Data curation
: PVC. GCS, CFA
Formal Analysis
: RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS
Funding acquisition
: PVC
Investigation
: RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS
Methodology
: RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS
Project administration
: PVC
Resources
: RMQ, PVC
Software
: RMQ
Supervision
: RMQ, PVC
Validation
: RMQ
Visualization
: RMQ, PVC
Writing – original draft
: RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS
Writing – review & editing
: RMQ, PVC, GCS, CFA,
EM, NS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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