197 Synthesium pantoporiae and Synthesium tursionis in Pontoporia blainvillei. Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Neotropical Helminthology Neotropical Helminthology, 2024, vol. 18 (2), 197-206 ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL SYNTHESIUM PANTOPORIAE AND SYNTHESIUM TURSIONIS (DIGENEA; BRACHYCLADIIDAE ODHNER , 1905) IN PONTOPORIA BLAINVILLEI GERVAIS & D’ORBIGNY, 1844 (CETACEA, PONTOPORIIDAE) IN SOUTH OF THE STATE OF SANTA CATARINA, BRAZIL SYNTHESIUM PANTOPORIAE Y SYNTHESIUM TURSIONIS (DIGENEA; BRACHYCLADIIDAE ODHNER , 1905) EN PONTOPORIA BLAINVILLEI GERVAIS & D’ORBIGNY, 1844 (CETACEA, PONTOPORIIDAE) EN EL SUR DEL ESTADO DE SANTA CATARINA, BRAZIL SYNTHESIUM PANTOPORIAE E SYNTHESIUM TURSIONIS (DIGENEA; BRACHYCLADIIDAE ODHNER , 1905) EM PONTOPORIA BLAINVILLEI GERVAIS & D’ORBIGNY, 1844 (CETACEA, PONTOPORIIDAE) NO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL Rosiléia Marinho de Quadros 1,2* , Pedro Volkmer de Castilho 3 , Gabriela Cristini de Souza 4 , Carolina Feltes Alves 4 , Eduardo Macagnan 4 & Natanael da Silva 4 ISSN Versión Impresa 2218-6425 ISSN Versión Electrónica 1995-1403 DOI: https://dx.doi.org/10.62429/rnh20242181821 Universidad Nacional Federico Villarreal Volume 18, Number 2 (jul - dic) 2024 Este artículo es publicado por la revista Neotropical Helminthology de la Facultad de Ciencias Naturales y Matemática, Universidad Nacional Federico Villarreal, Lima, Perú auspiciado por la Asociación Peruana de Helmintología e Invertebrados Af nes (APHIA). Este es un artículo de acceso abierto, distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Atribución 4.0 Internacional (CC BY 4.0) [https:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.es] que permite el uso, distribución y reproducción en cualquier medio, siempre que la obra original sea debidamente citada de su fuente original. ABSTRACT Parasitic susceptibility can occur individually or in populations due to several factors, such as parasite species, abundance, host health status (age, nutritional status), and competition between dif erent types of parasites. T is study reports the presence of Synthesium pontoporiae Raga, Aznar, Balbuena & Dailey, 1994 and Synthesium tursionis (Marchi, 1873) in 1 Departamento de Medicina Veterinária - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Brasil. 2 Laboratório de Zoologia e Parasitologia da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC). Brasil. 3 Departamento de Engenharia de Pesca e Ciências Biológicas – Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Brasil. 4 Projeto de Monitoramento de Praias – Bacia de Santos (PMP-BS) – Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Brasil.* Corresponding author: rosileia.quadros@udesc.brRosiléia Marinho de Quadros: https://orcid.org/0000-0003-2801-0289Pedro Volkmer de Castilho: ht tps://orcid.org/0000-0002-9939-7807Gabriela Cristini de Souza: htt ps://orcid.org/0009-0005-2175-9483Carolina Feltes Alves : h ttps://orcid.org/0009-0000-7004-2589Eduardo Macagnan: ht tps://orcid.org/0009-0003-5174-5387Natanael da Silva: https://orcid.org/0009-0002-9511-6438
198 Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Marinho de Quadros et al. Pontoporia blainvillei Gervais & D’Orbigny, 1844 found dead on the beaches of the municipalities of Laguna, Imbituba and Garopaba, located on the southern coast of Santa Catarina, Brazil, between 2017 until 2020. A total of 144 speci-mens of trematodes were identifed in 14 evaluated animals, with a prevalence of 35,71%, mean abundance of 10.28, and mean intensity of infection of 28.80. Te average intestinal length was 8.96 meters, ranging from 1.90 to 29.10 meters. Te occurrence of parasites can be indicative of the relationship between feeding habits and the dispersion of animals in the ocean and, in the case of the presence of the Synthesium trematode, this knowledge is fundamental in the research for more information about the evolutionary cycle of this parasite. In this study, although the beaches where the animals were found are geographically very close, there were signifcant diferences, mainly between the intensity and parasite abundance, which demonstrates the need for further studies to understand the relationship between the fndings in this study with the diet and the presence of possible intermediate hosts of this parasite in these regions. Keywords: Beaches – Cetacean – Digenetic – Trematode RESUMEN La susceptibilidad de los parásitos puede ocurrir a nivel individual o pablacional en función de vários factores, tales como: espécies de parásitos, abundancia, estado de salud del huésped (edad, estado nutricional) y competencia entre los diferentes tipos de parásitos. Este estudio reporta la presencia de Synthesium pontoporiae Raga, Aznar, Balbuena & Dailey, 1994 y Synthesium tursionis (Marchi, 1873) en Pontoporia blainvillei Gervais & D’Orbigny, 1844 encuentrados muertos en las playas de las municipalidades de Laguna, Imbituba y Garopaba, ubicados en la costa sur de Santa Catarina, Brasil, entre los años de 2017 hasta 2020. En total se identifcaron 144 ejemplares de tremátodos en 14 animales evaluados, con prevalencia de 35,71%, abundancia promedio de 10,28 y intensidade media de infección de 28,80. La longitud intestinal promedio fue de 8,96 m, con un rango de 1,90 a 29,10 m. La aparición de parásitos puede ser indicativo de la relación dietética con las dispersión de animales en el océano y cuando se tracta de la presencia de Synthesium , es importante buscar mas información sobre el ciclo de vida de este parásito. En este estudio, aunque las playas donde se encuentraran los animales estan muy cercanas geográfcamente, hubo diferencias signifcativas principalmente entre la intensidad y abundancia de los parásitos, lo que demuestra la necesidad de mas estudios para comprender la relación entre los hallazgos con la dieta y la presencia de posible huéspedes intermediários en estas regiones. Palabras clave: Cetaceo – Digeneo – Playas – Trematodo RESUMO A susceptibilidade parasitária pode ocorrer de forma individual ou populacional a partir de diversos fatores, como: espécie do parasito, abundância, estado de saúde do hospedeiro (idade, estado nutricional) e competição entre diferentes tipos de parasitos. Este estudo relata a presença de Synthesium pontoporiae Raga, Aznar, Balbuena & Dailey, 1994 and Synthe-sium tursionis (Marchi, 1873) em Pontoporia blainvillei Gervais & D’Orbigny, 1844 encontradas em óbito nas praias dos municípios de Laguna, Imbituba e Garopaba, localizados no litoral sul de Santa Catarina, Brasil, entre os anos de 2017 a 2020. No total 144 espécimes dos trematódeos foram identifcados em 14 animais avaliadas, com prevalência de 35,71%, abundância média de 10,28 e intensidade média de infecção de 28,80. A média de comprimento intestinal foi de 8,96 metros, com variação de 1,90 a 29,10 metros. A ocorrência de parasitos pode ser indicativa da relação alimentar com a dispersão dos animais no oceano e em se tratando da presença de Synthesium é de extrema relevância para buscar maiores informações acerca do ciclo evolutivo deste parasito. Neste estudo, embora as praias onde os animais foram encontrados sejam geografcamente muito próximas, houve diferenças signifcativas principalmente entre a intensidade e abundância parasitária, o que demonstra a necessidade de mais estudos para o entendimento da relação entre os achados com a dieta e presença de possíveis hospedeiros intermediários nestas regiões. Palavras chave: Cetáceo – Digenético – Praias – Trematódeo
199 Synthesium pantoporiae and Synthesium tursionis in Pontoporia blainvillei. Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 INTRODUÇÃO A toninha, Pontoporia blainvillei (Gervais & d’Orbigny, 1844), é um pequeno cetáceo odontoceto que possui rostro longo e estreito característico e melão proeminente (Amaral et al. , 2018). O padrão de coloração vai do marrom ao cinza na região dorsal (a) e o ventre mais claro (b), conforme a Figura 1 abaixo. As fêmeas em geral são maiores que os machos e o ciclo de vida da espécie são um dos mais curtos entre os cetáceos (Di Beneditto, et al. , 2010; Crespo, 2017). Figura 1. Morfología externa e de Pantoporia blainvillei . E m relação a sua distribuição é endêmica da região sudeste da América do Sul, vivendo em águas costeiras e estuarinas ao longo da costa do Oceano Atlântico, entre Itaúnas (18º25’S; 30º42’W), Espírito Santo (Brasil), e o Golfo Nuevo (42º35’S; 64º48’W) na Península Valdés, Argentina (Secchi et al ., 2021). Ao longo da área de distribuição, no entanto, dois hiatos de ocorrência são observados. O primeiro entre Santa Cruz (19º57’S) e Barra do Itabapoana (21º18’S), no estado do Espírito Santo, e o segundo entre Armação dos Búzios (22º44’S) e Piraquara de Dentro (22º59’S), no estado do Rio de Janeiro, ambos na porção brasileira da área de ocorrência da espécie. As causas para a ausência de toninhas nestas regiões são: temperatura, salinidade e turbidez da água (Amaral et al ., 2018). Os parasitos de cetáceos têm sido tema de diversos trabalhos, com ênfase em taxonomia, ecologia e efeitos patológicos. Algumas pesquisas buscam ainda relacionar a presença de parasitos entre as causas de encalhe e mortalidade. No Brasil, no entanto, os trabalhos ocorrem de forma esporádica e são, em geral, decorrentes de encalhes com desfecho fatal (Pool et al., 2021).A susceptibilidade parasitária pode ocorrer de forma individual ou populacional a partir de diversos fatores, como: espécie do parasito, abundância, estado de saúde do hospedeiro (idade, estado nutricional) e competição entre diferentes tipos de parasitos. Embora a maioria das infecções parasitárias em mamíferos marinhos não apresentem sinais clínicos (Wyrosdick et al ., 2018).Os trematódeos da família Brachycladiidae parasitam mamíferos marinhos e tem taxonomia e evolução complexa. Entre os trematódeos conhecidos dos cetáceos está o gênero Synthesium , com ciclo de vida pouco conhecido (Marigo et al ., 2015).A infecção parasitária em cetáceos no Brasil tem sido atribuída a mais de 20 espécies. Quanto as espécies de Synthesium , são descritas: Synthesium tursionis (Marchi, 1873), a mais comum e que parasita maior número de odontocetos; Synthesium pontoporiae Raga, Aznar, Balbuena & Dailey, 1994, espécie que parasita exclusivamente as toninhas; Synthesium seymouri (Prince, 1932); Synthesium elongatus (Osaki, 1935); Synthesium nipponicus (Yamaguti, 1951); Synthesium mironovi (Krotoc & Delyamure, 1952); Synthesium subtilis (Skrjabin, 1959); Synthesium delamurei (Raga & Balbuena, 1988) (Marigo et al ., 2011). Synthesium é um gênero de ampla distribuição encontrado em várias famílias de odontocetos (Pontoporiidae, Delphinidae, Monodontidae e Phocoenidae) indicando que houve no decorrer do tempo um longo período de interação parasito-hospedeiro. No entanto não é possível
200 Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Marinho de Quadros et al. defnir quando e quais espécies de Synthesium primeiro se adaptaram as espécies de odontocetos, porém parece que o ancestral do S. pontoporiae teve uma adaptação anterior a determinadas famílias para posteriormente se adaptar exclusivamente ao gênero Pontoporia . As particularidades evolutivas e biológicas das toninhas podem ter provocado adaptações no ancestral que, aliadas ao isolamento reprodutivo, causaram o processo de especiação (Marigo et al ., 2015).Este trabalho teve por objetivo relatar a presença de Synthesium spp. em P. blainvillei encontradas em óbito nas praias do litoral sul de Santa Catarina, Brasil. MATERIAL E MÉTODOS O Projeto de Monitoramento de Praias – Bacia de Santos (PMP-BS), em parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e Instituto Australis (IA), que atendem as praias dos munícipios de Laguna, Imbituba e Garopaba, no litoral sul de Santa Catarina, Brasil, apresentam um programa de monitoramento diário de observação e intercorrências em mamíferos e aves marinhas. Os dados amostrados no trabalho corresponderam aos períodos entre 2017 a 2020.Os cetáceos da espécie P. blainvillei encontrados mortos foram avaliados para a viabilidade da realização do exame necroscópico e a coleta de amostras biológicas para as pesquisas. A vialibilidade seguiu a classifcação segundo a escala de 1 a 5 de acordo o estágio de decomposição (Geraci & Lounsbury, 2005). A necropsia completa com a coleta de amostras para exame histopatológico foi realizada em animais considerados até código 3 de estágio de decomposição no momento do exame. A classifcação para a tomada de decisão da necropsia e coleta da amostra estão representados na Tabela 1. Tabela 1. Escala de codifcação de carcaças para viabilidade de exame de necropsia e coleta de amostras considerando características externas. CódigoDescriçãoCaracterísticas 1Animal Vivo-2Carcaça FrescaAnimal em rigor mortis; aparência normal; olhosíntegros; ausência de inchaço e odor característicos; pouco dano por fauna necrófaga.3Pouco DecompostoCarcaça intacta; inchaço aparente; odor moderado; olhos secos e retraídos; carcaça danifcada por fauna necrófaga.4Decomposição AvançadaCarcaça pode estar intacta, mas colapsada; perda de grandes porções de pele; odor forte; partes da carcaça podem estar ausentes; dano severo por fauna necrófaga; carcaça com pouca consistência. 5MumifcaçãoResquícios de pele recobrindo o esqueleto; tecidos restan-tes ressecados; ausência de órgãos. Fonte: Geraci & Lounsbury (2005). Durante o exame de necropsia, os intestinos foram reti-rados e divididos entre delgado e grosso, e cada uma das porções foram medidas. Para a triagem, o intestino delga-do foi subdividido em cinco partes iguais e então realizada a inspeção de toda sua extensão, conforme metodologia descrita por Marigo (2003).A triagem de cada porção intestinal foi realizada separa-damente. Estas porções, foram abertas, sendo após o con-teúdo intestinal lavado e peneirado com o auxílio de uma peneira metálica de malha de 150 µm. Na sequência, foi verifcada a presença de parasitos neste peneirado, onde estes foram coletados e armazenados em álcool 70º GL e encaminhados ao Laboratório de Zoologia e Parasitologia
201 Synthesium pantoporiae and Synthesium tursionis in Pontoporia blainvillei. Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), localizado na cidade de Lages, Santa Catarina, Brasil. Os parasitos foram alocados em placa de Petri e obser-vados em estereomicroscópio para a separação e conta-gem dos parasitos. Em seguida, estes foram novamente armazenados em etanol, fxados e comprimidos entre lâ-minas com solução de AFA (Álcool – Formalina – Ácido Acético) e posteriormente desidratados em uma série de etanol. Por fm, os parasitos foram corados com hemato-xilina de Delafeld, clarifcados em creosoto de Faia e montados em lâminas com bálsamo do canadá, seguindo a metodologia de Amato et al. (1991). A identifcação se deu através da morfologia dos órgãos reprodutores, bem como através das medidas das estru-turas como ventosa anterior, acetábulo entre outras, com-parando os dados morfológicos descritos por Fernández et al. (1994), Marigo et al . (2008) e Ebert et al . (2017). A medição das estruturas foi realizada através da utilização da ocular micrométrica após calibração das objetivas e cal-culadas pelo devido fator de correção através das objetivas de 4 e 10 x. A determinação do número de parasitos seguiu o método segundo Marigo et al . (2008). Para o cálculo da preva-lência, intensidade e abundância parasitária, utilizou-se a descrição de Alves et al. (2017), conforme as fórmulas abaixo. Prevalência = Hspedeiros infectados x 100 N° total de animais Intensidade de Infecção = N° total de parasitos N° de hospedeiros infectadosAbundância Parasitária = N° total de parasitos N° total de animais Aspectos éticos : O Projeto de Monitoramento de Praias – Bacia de Santos (PMP-BS), apresenta autorização para captura, coleta e transporte de material biológico (ABIO), com número de licença 640/2015, concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). RESULTADOS Entre 2017 e 2020, 127 Pantoporia blainvillei foram res-gatadas nas praias dos municípios de Laguna (28º28’57”S e 48º46’51”W), Imbituba (28º14‘24”S e 48º40’13”W) e Garopaba (28º 01’ 24” S e 48º 36’ 48” W), no estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Destas, 30 encontravam-se em código 2 ou 3 de estágio de decomposição no mo-mento da necropsia, possibilitando a coleta de material para estudo. No entanto, de 30 toninhas possíveis para amostragem, apenas 14 tinham presença de parasitos.Dos 14 animais analisados, oito foram resgatados nas praias do município de Laguna e três eram procedentes das praias de Imbituba e Garopaba, respectivamente, con-forme mostra o mapa da Figura 2. Figura 2. Mapa mostrando a distribuição espacial dos encalhes de Pantoporia blainvillei utilizadas neste estudo nos municípios de Laguna, Imbituba e Garopaba, Santa Catarina, Brasil, entre os anos de 2017 e 2020. No total, 144 espécimes de trematódeos, 125 deles foram identifcados como S. pontoporiae e 19 de S. tursiops . As fguras 3 e 4 abaixo, apresentam a morfologia das estru-turas, bem como os padrões morfométricos para as duas espécies.
202 Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Marinho de Quadros et al. Figura 3. A - Synthesium pontoporiae , B - Detalhe para ventosa anterior (VA) e ventosa posterior (VP); 2 – Disposição dos órgãos reprodutores: O – ovário, Te (a) – testículo anterior, Te (p) – testículo posterior. Figura 4. A – Synthesium tursionis , B - Detalhe para ventosa anterior (VA) e ventosa posterior (VP); 2 – Disposição dos órgãos reprodutores: O – ovário, Te (a) – testículo anterior, Te (p) – testículo posterior.
203 Synthesium pantoporiae and Synthesium tursionis in Pontoporia blainvillei. Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Os espécim es foram depositados na coleção didática do Laboratório de Zoologia e Parasitologia da UNIPLAC.A prevalência de parasitos foi de 35,71%, abundância média e intensidade média de infecção de 10,28 e 28,80, respectivamente. A média de comprimento intestinal foi de 8,96 metros, com variação de 1,90 a 29,10 metros. A tabela 2 mostra o número de animais, a prevalência, a intensidade de infecção, a abundância parasitária e o comprimento médio dos inte stinos por município. Tabela 2. Número de animais, prevalência, intensidade, abundância e comprimento médio dos intestinos, de acordo com o município. MunicípioNúmero de Indiví-duosPrevalência(%)Intensidade de InfecçãoAbundância ParasitáriaComprimentoMédio dos In-testino (m) Laguna82511,52,875,88Garopaba366,662214,6715,75Imbituba333,337725,6715,67 DISCUSSÃO A falta de dados acerca de parasitos em cetáceos se dá principalmente pela falta de profssionais especializados na área e da escassez de material biológico disponível e adequado para o estudo. Uma vez que o material utilizado para pesquisas é majoritariamente obtido de animais enca-lhados em óbito, a viabilidade das amostras para diferentes análises é um desafo, visto que estes animais frequente-mente são encontrados e resgatados em avançado estágio de decomposição. O conhecimento da fauna parasitária neste grupo de animais é de extrema importância, tanto para contribuir com a elucidação de encalhes, individuais ou coletivos, uma vez que pode trazer informações relevantes para auxiliar na determinação da causa mortis do animal e de seu estado de saúde, como também como ferramenta fundamental para estudos biológicos e ecológicos (Carvalho et al ., 2010). Os hábitos alimentares são fundamentais para o entendimento da movimentação, distribuição e preferência pelo habitat (Bassoi et al ., 2021). Em relação a alimentação, os peixes teleósteos são o componente principal da dieta, seguidos por cefalópodes e crustáceos (Paitach, 2015; Secchi et al ., 2021). O conhecimento das dietas alimentares e disposição de alimentos na região podem contribuir para a compreensão dos ciclos parasitários. Synthesium pontoporiae é um trematódeo intestinal exclusivo de P. blainvillei que tem sido apontado como indicador biológico para identifcação de estoques populacionais da espécie hospedeira (Marigo et al ., 2008). Diferenças em prevalência e intensidade média de infecção ao longo da área de distribuição da toninha são observadas, porém uma diferença maior relacionada a sazonalidade foi relatada (Marigo et al ., 2002). A variação de parasitas intestinais de P. blainvillei ao longo de sua área de ocorrência é citada por estudos que comparam a fauna parasitária em animais resgatados no Brasil (Rio Grande do Sul), Uruguai e Argentina (Andrade et al ., 1997). Os autores deste estudo relatam a semelhança da fauna parasitária observada nos animais resgatados no Brasil e Uruguai e a diferença desta para aquela dos animais encontrados na Argentina. Estes achados sugerem a existência de dois estoques ecológicos diferentes. No entanto esta afrmação carece de estudos comprobatórios, com metodologia aprimorada, uma vez que estes resultados foram obtidos a partir de análises realizadas ao longo de apenas uma estação do ano. Também nesta linha de pesquisa, estudos recentes demostram a diferença na fauna parasitária de toninhas encontradas em diferentes regiões do Brasil. Em um estudo que comparou animais resgatados no Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul, observou-se que a fauna parasitária encontrada nos animais amostrados no Rio Grande do Sul foi diferente em relação as toninhas dos demais estados (Marigo et al ., 2015). Synthesium tursionis é uma espécie de ampla distribuição geográfca, encontrada principalmente em Tursiops truncatus e outras espécies de odontocetos, com descrição para os mares Mediterrâneo e Negro, bem como nos oceanos Atlântico, Pacífco e Índico (Shiozaki et al ., 2019). Segundo Marigo et al . (2008), o saco do cirro de S. tursionis são de forma tubulares, ao contrário de S. pantoporiae que são piriformes. Em nosso estudo não foi possível determinar o formato, devido a região estar com
204 Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Marinho de Quadros et al. presença de grande quantidade de ovos provenientes da região do útero. No presente estudo foram observadas diferenças prin - cipalmente na intensidade parasitária dos animais res - gatados nas praias dos três municípios avaliados, o que está de acordo com os resultados obtidos por um outro estudo realizado com cetáceos encontrados na região da baía da Babitonga e áreas costeiras adjacentes (Alves et al ., 2017). Embora a fauna parasitária em cetáceos seja diversa podendo ser encontrada em diversos tecidos e órgãos, em geral a patogenicidade é variada desde pouco signifcado clínico a situações que levam a mortalidade das espécies. A ocorrência de parasitos pode ser indicativa da relação alimentar com a dispersão dos animais no oceano e em se tratando da presença do trematódeo Synthesium , este conhecimento é fundamental na busca por maiores informações acerca do ciclo evolutivo deste parasito. Neste estudo, embora as praias onde os animais foram encontrados sejam geografcamente muito próximas, houve diferenças signifcativas principalmente entre a intensidade e abundância parasitária, o que demonstra a necessidade de mais estudos para o entendimento da relação entre os achados com a dieta e presença de possíveis hospedeiros intermediários nestas regiões. Author contributions : CRediT (Contributor Roles Taxonomy)RMQ = Rosiléia Marinho de Quadros PVC = Pedro Volkmer de Castilho GCS = Gabriela Cristini de Souza CFA = Carolina Feltes Alves EM = Eduardo MacagnanNS = Natanael da Silva Conceptualization : RMQ Data curation : PVC. GCS, CFA Formal Analysis : RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS Funding acquisition : PVC Investigation : RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS Methodology : RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS Project administration : PVC Resources : RMQ, PVC Software : RMQ Supervision : RMQ, PVC Validation : RMQ Visualization : RMQ, PVC Writing – original draft : RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS Writing – review & editing : RMQ, PVC, GCS, CFA, EM, NS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves, A.K.M., Souza, E.A.L, Marigo, J., & Cremer, M. J. (2017 ). Intestinal helminths of franciscana (P ontoporia blainvillei ) and guiana dolphins ( Sotalia guianensis ) from the north coast of Santa Catarina state, Brazil. Oecologia australis , 21 , 83–87.Amaral, K. B., Danilewicz, D., Zerbini, A., Di Beneditto, A. P., Andriolo, A., Alvares, D. J., Secchi, E., Ferreira, E., Su-cunza, F., Borges-Martins, M., Santos, M. C. O., Cremer, M., Denuncio, P., Ott, P. H., & Moreno, I. B. (2018). Reassessment of the franciscana Pontoporia blainvillei (Gervais & d’Orbigny, 1844) distribution and niche cha-raceristics in Brazil. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology , 508 , 1–12.Amato, J. F. R. , Boeger, W. A. & Amato, S. B. (1991). Coleta e Processamento de Parasitos de Pescado - Protocolos para Laboratório. Rio de Janeiro.Andrade, A., Pinedo, M.C., & Pereira Jr, J. (1997). Te gastrointestinal helminths of franciscana, Pontoporia blainvillei , in southern Brazil. Reports of the International Whaling Commission , 47 , 669–673.Bassoi, M., Secchi, E. R., Danilewicz, D., Moreno, I. B., Santos, R. A. & Shepherd, J. G. (2021). Intrapopulation variation in the diet of franciscana dolphin ( Pontoporia blainvillei ) of southern Brazil. Journal of the Marine Bio-logical Association of the United Kingdom, 101 , 621–637.
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