149 Gastrointestinal Parasitism in Rescued Wild Birds Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Neotropical Helminthology Neotropical Helminthology, 2024, vol. 18 (2), 149-156 ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL CLINICAL AND PARASITOLOGICAL STUDY OF AELUROSTRONGYLUS ABSTRUSUS (RAILLIET, 1898) INFECTION IN CATESTUDO CLÍNICO E PARASITOLÓGICO DA INFECÇÃO POR AELUROSTRONGYLUS ABSTRUSUS (RAILLIET, 1898) EM GATOESTUDIO CLÍNICO Y PARASITOLÓGICO DE LA INFECCIÓN POR AELUROSTRONGYLUS ABSTRUSUS (RAILLIET, 1898) EN GATO Sandra Márcia Tietz Marques 1* & Rochana Rodrigues Fett 2 ISSN Versión Impresa 2218-6425 ISSN Versión Electrónica 1995-1403 DOI: https://dx.doi.org/10.62429/rnh20242181806 Este artículo es publicado por la revista Neotropical Helminthology de la Facultad de Ciencias Naturales y Matemática, Universidad Nacional Federico Villarreal, Lima, Perú auspiciado por la Asociación Peruana de Helmintología e Invertebrados Af nes (APHIA). Este es un artículo de acceso abierto, distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Atribución 4.0 Internacional (CC BY 4.0) [https:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.es] que permite el uso, distribución y reproducción en cualquier medio, siempre que la obra original sea debidamente citada de su fuente original. 1 Laboratório de Helmintoses, Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. Av. Bento Gonçalves, 9090, Porto Alegre. 2 Proprietária do Chaterrie - Hospital do Gato, Rua Doutor Vale, 88, Porto Alegre, RS, Brasil. * Corresponding author:santietz@gmail.comSandra Márcia Tietz Marques: https://orcid.org/0000-0002-7541-9717Rochana Rodrigues Fett: https://orcid.org/0000-0001-7469-3223 ABSTRACT A case of pulmonary parasitosis caused by Aelurostrongylus abstrusus in (Railliet, 1898) in adult cat is described, with clinical monitoring, laboratory and imaging test, and treatment for 14 months. During follow-up, the cat presented larvae of A. abstrusus in the Baermann parasitological methods and the fecal smear with treatments and relapses of the parasite in the exams. Radiographic images showed dif use opacif cation of the lung f elds with an interstitial pattern, tending to alveolar, with visualization of thickened bronchial walls, related to an inf ammatory/infectious process. T e persistence of lungworm disease is discussed and the treatment. Keywords :feces –host-parasite interactions –lung – Nematoda – pneumonia – therapeutics RESUMO Descreve-se o caso de parasitose pulmonar persistente por Ael urostrongylus abstrusus (Railliet, 1898) em gata adulta, com acompanhamento clínico, exames laboratoriais e de imagem, e tratamento durante 14 meses. Durante o acompanhamento, a gata apresentou A. abstrusus nos métodos parasitológicos de Baermann e no esfregaço fecal, com tratamentos e recidivas
150 Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Tietz Marques & Rodrigues Fett do parasito nos exames. As imagens radiográfcas mostraram opacifcação difusa dos campos pulmonares de padrão intersticial, tendendo a alveolar, com visualização de paredes brônquicas espessadas, relacionado a processo infamatório/infeccioso. Discute-se a persistência da verminose pulmonar e o tratamento. Palavras-chave : fezes – interações hospedeiro-parasito – nematoide – pneumonia – pulmão – terapêutica RESUMEN Se describe un caso de parasitosis pulmonar persistente causada por Aelurostrongylus abstrusus (Railliet, 1898) en un gato adulto, con seguimiento clínico, pruebas de laboratorio y de imagen, y tratamiento durante 14 meses. Durante el seguimiento el gato presentó A. abstrusus en los métodos parasitológicos de Baermann y en el frotis fecal, con tratamientos y recaídas del parásito en los exámenes. Las imágenes radiográfcas mostraron opacifcación difusa de los campos pulmonares con patrón intersticial, tendiendo a alveolar, con visualización de paredes bronquiales engrosadas, en relación con un proceso infamatorio/infeccioso. Se analizan la persistencia de la enfermedad por gusanos pulmonares y su tratamiento. Palavras clave : heces – interacciones huésped-parásito – nematodo – neumonía – pulmón – terapia INTRODUÇÃO A aelurostrongilose felina, causada pelo verme pulmonar Aelurostrongylus abstrusus (Railliet, 1898) (Strongylida: Angiostrongylidae) é uma doença parasitária de importância veterinária transmitida por gastrópodes (caracóis ou lesmas) em gato (Traversa et al ., 2010; Traversa, 2014). A doença é subestimada e principalmente negligenciada, cuja identifcação do parasito é necessária para o manejo de gatos doentes. A infecção está generalizada no mundo, mas a sua crescente importância e o advento de diagnósticos mais sensíveis contribuíram para o aparente aumento da sua prevalência e expansão geográfca (Elsheikha et al., 2016). A fêmea desenvolve seus ovos nos bronquíolos e ductos alveolares, onde a larva termina em verme adulto. As L1s migram através da árvore brônquica/traqueal para a faringe, são engolidas e eliminadas nas fezes do gato. As larvas penetram em caracóis ou lesmas, onde se desenvolvem em L3. Ratos, pássaros, répteis e anfíbios podem servir como hospedeiros paratênicos pela ingestão de gastrópodes infectados. Os gatos são infectados ao se alimentarem de caracóis ou de hospedeiros paratênicos (Hamilton, 1967; Ribeiro & Lima, 2001; Rodrigues et al ., 2022). Larvas de primeiro estágio (L1) e os adultos causam alterações patológicas, infltrados de células infamatórias nos brônquios e no parênquima pulmonar. O nível de infecção pode variar de assintomático à presença de sintomas graves e até ser fatal (Moskvina, 2018). O período pré-patente é de aproximadamente 35 a 48 dias e a excreção de L1 nas fezes pode variar, sendo a mais alta em torno de 10 a 14 semanas após a infecção e permanecer por vários meses até mais de um ano (Genchi et al., 2014; Vismarra et al., 2023). A detecção de A. abstrusus adulto pode ser um desafio devido a característica deste parasito se aprofundar no parênquima pulmonar. Diferentes métodos e tentativas de correlacionar a carga de vermes adultos com a contagem de larvas fecais foram testados, porém com pouco sucesso (Knaus et al ., 2011; Schnyder et al ., 2014; Olsen et al ., 2015; Traversa et al., 2021). Dependendo do estilo de vida do felino (dentro de casa ou ao ar livre), origem geográfca e métodos utilizados para o diagnóstico, a prevalência registrada em gatos varia amplamente de 1,2% em gatos com donos (Riggio et al ., 2013) até 50% em gatos de rua (Knaus et al ., 2011). Gatos que vivem em ambientes fechados ou com poucas possibilidades de acesso ao ar livre, são menos propensos a serem infectados por A. abstrusus . Em contraste, os animais que vivem ao ar livre têm maiores oportunidades de ingerir moluscos e/ou presas. Fatores ambientais como temperatura, umidade e disponibilidade de água, podem infuenciar o desenvolvimento e a sobrevivência dos hospedeiros intermediários e de larvas de nematóides em seus moluscos hospedeiros (Rodrigues et al ., 2022). Aelurostrongylus abstrusus tem distribuição cosmopolita e foi registrado em quase todos os países da Europa e
151 Clinical and parasitological study of Aelurostrongylus Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 nas Américas, e com alguns relatos na Ásia e na África. Na Itália variou de 1,8–22,4% (Riggio et al., 2013; Traversa & Di Cesare, 2014; Di Cesare et al ., 2015), de 0,5–15,3% na Alemanha (Barutzki & Schaper, 2013), de 17,4% em Portugal, 5,6% na Roménia, 1% em Espanha e em casos clínicos na Bélgica, França, Irlanda, Noruega, Polónia e Turquia (Traversa & Di Cesare, 2014). Nos EUA, taxas de prevalência de 6,2% em Nova York e de 18,5% no Alabama foram relatadas em gatos de abrigo e vadios, respectivamente (Gerdin et al ., 2011) enquanto na Argentina o parasito foi registrado em 2,6% dos gatos vadios examinados (Barutzki & Schaper, 2013), na Grécia a prevalência variou de 2,9% a 17,4% para gatos de rua (Diakou et al ., 2015). Um dos principais fatores levantados por muitos autores é o hábito errante dos gatos, que faz com que eles exerçam atividades de caça e percorrem signifcativas distâncias geográfcas. A maior parte dos relatos de infecções por A. abstrusus no Brasil são da região sul, as taxas de prevalência variam em 29,5 %, 14,3% e 3,3% (Ehlers et al ., 2013; Marques et al ., 2020; Ferraz et al ., 2020; Farago et al . 2022). As manifestações clínicas da aelurostrongilose felina variam amplamente, desde subclínicas a uma variedade de sinais respiratórios, como desconforto respiratório, incluindo dispneia, respiração abdominal com boca aberta, tosse, chiado no peito, espirros e secreção nasal mucopurulenta (Hamilton, 1967; Traversa et al ., 2008ab; Genchi et al ., 2014). Pneumotórax e piotórax secundários à infecção por A. abstrusus foram relatados em um gatinho de 14 semanas apresentando vômito, diarréia e pirexia, e especulou-se que Salmonella typhimurium Lignières, 1900 (Bier, 1975) foi transportada por L3 do intestino para os pulmões em um mecanismo tipo “cavalo de Tróia”. Tais padrões clínicos inespecíficos requerem um elevado nível de conhecimento clínico da doença, a fim de orientar a rápida instituição do tratamento (Barrs et al ., 1999; Traversa et al., 2021; Little, 2024).O dano patológico causado por A. abstrusus é atribuído à reação inflamatória do hospedeiro em resposta à presença de diferentes estágios de A. abstrusus no trato respiratório. Os estágios adultos podem ser encontrados profundamente enraizados e difíceis de serem extraídos do parênquima pulmonar (Schnyder et al., 2014). No entanto, reações infamatórias em torno dos estágios adultos raramente são encontradas. Em contraste, numerosos estágios imaturos migratórios e descendentes de vermes adultos, larvas e ovos são regularmente cercados por granulomas e células infamatórias, resultando em alterações patológicas proeminentes e redução na área de superfície disponível para troca gasosa (Schnyder et al ., 2014; Gerdin et al., 2011). A técnica de Baermann é o método diagnóstico padrão ouro usado rotineiramente para identifcação de L1 nas fezes, mas não sem limitações. Ainda há necessidade de desenvolver métodos melhores que permitam a detecção sensível e específca da infecção e o início oportuno da terapia anti-helmíntica apropriada. O presente relato descreve um caso clínico de pneumonia verminótica por A. abstrusus em gata sem acesso à rua, da cidade de Porto Alegre (RS), Brasil e a terapêutica durante a persistência da verminose e do quadro de pneumonia intermitente pelo período de 14 meses. MATERIAIS E MÉTODOS Uma paciente da espécie felina com 10 anos de idade e sem raça defnida foi apresentada por sua tutora em uma clínica veterinária especializada em felinos em agosto de 2022 com anorexia, apatia, queixa de tosse, espirros frequentes, episódios de crise asmática e desconforto respiratório. Na anamnese foram relatadas as seguintes condições: gata sem acesso à rua, sem acesso à vegetação; alimentação comercial; a caixa de dejetos era composta de “areia” de madeira comercial. A conduta clínica foi: coleta de material biológico para avaliação sanguínea (hemograma e bioquímico sérico), avaliação urinária (EQU) e sedimento urinário; exame radiográfco de tórax nas projeções laterais direita, esquerda e ventro-dorsal, teste para a imunidefciência felina (FIV) e leucemia felina (FeLV). Os exames parasitológicos de fezes (EPF) por três métodos (métodos de Willis, Faust e Baermann) foram executados no laboratório de helmintoses da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aspectos éticos: O protocolo de coleta de amostras de fezes e os procedimentos laboratoriais foram aprovados pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Estado do Rio Grande do Sul, Brasil sob o protocolo número 24.376/CEUA/ UFRGS. O consentimento informado foi obtido do dono/tutor do paciente incluído neste estudo. Todas as diretrizes nacionais e institucionais aplicáveis para o cuidado e uso de animais foram seguidas. RESULTADOS Os resultados para a pesquisa de FIV e FeLV foram negativos. Os exames de urina (EQU e sedimento urinário) apresentaram padrões dentro da referência
152 Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Tietz Marques & Rodrigues Fett para a espécie. Os exames parasitológicos de fezes (EPF) pelo método de Willis não mostraram ovos e oocistos de parasitos gastrointestinais durante todo o acompanhamento do caso. Os resultados dos hemogramas e dos bioquímicos (30/8/2021; 9/8/2022; 31/10/2022 e 30/1/2023) apresentaram padrões dentro da referência A patologia pulmonar através de Raio X de tórax executados em 31/10/2022, 30/1/2023 e em 14/3/2023 se caracterizaram em: sem evidências radiográfcas da presença de nódulos metastáticos dispersos pelo parênquima pulmonar; discreta opacifcação dos campos pulmonares de aspecto difuso e padrão misto (intersticial e brônquico), predominantemente intersticial com visualização de alguns brônquios que apresentam espessamento de suas paredes (infltrado peribronquial), silhueta cardíaca dentro dos limites da normalidade radiográfca, traqueia com trajeto e lúmen preservados, portanto foi conclusivo de broncopatia discreta. DISCUSSÃO A aelurostrongilose felina é uma das doenças parasitárias mais importantes que provavelmente continuará a amea-çar a saúde e o bem-estar nos próximos anos (Traversa & Di Cesare, 2014; Ferraz et al. , 2019; Traversa et al., 2021). Exames de sangue e de urina estão entre as primeiras me-didas diagnósticas realizadas em gatos doentes. Na suspei-ta de infecção por A. abstrusus é importante reconhecer parâmetros que podem estar alterados, embora não sejam patognomônicos. De acordo com Schnyder et al. (2014) a eosinoflia parece ser o achado mais persistente entre 2 a 4 semanas de inoculação do parasito, presumivelmente devido à constante estimulação antigênica causada pela para a espécie. Os exames de ultrassom (4/4/2022 e 25/4/20220) apresentaram parâmetros sem alterações. A Tabela 1 descreve a cronologia dos atendimentos, procedimentos clínicos e laboratorias, resultados de exames e os tratamentos. Tabela 1. Cronologia das consultas, amostras fecais (AF), métodos parasitológicos (Baermann e Faust) e tratamento executados no felino com broncopatia persistente por Aelurostrongylus abstrusus durante 14 meses. DataAF Faust Baermann Tratamento 10/08/20223Negativo A. abstrusus em 2 AFFenbendazol(50mg/kg, VO/ cada 24h, 3 dias)28/09/20222Negativo A. abstrusus em 2 AF 30/10/20223Negativo A. abstrusus em 3 AF Praziquantel 20mg, Pamoato de pirantel 230mg, dose única23/01/20231Negativo A. abstrusus Ivermectina (0,4 mg/kg em dose única)23/02/20232 Giardia spp. A. abstrusus em 2 AF Ivermectina03/03/20232Negativo A. abstrusus em 2 AF fenbendazol 10/03/20231Negativo A. abstrusus ivermectina03/04/20235 *NegativoNegativo27/4/20234*Negativo A. abstrusus em 3 AF moxidectina 5mg/kg/dia20/5/20233Negativo A. abstrusus Moxidectina 31/05/233NegativoNegativoAlta 22/07/231 Giardia spp.NegativoNitazoxanida (25 mg / kg)31/10/231NegativoNegativo * Fezes congeladas.
153 Clinical and parasitological study of Aelurostrongylus Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 presença dos parasitos, entretanto os hemogramas e perfl bioquímicos deste relato não estavam alterados ao longo de 14 meses. Como muitos outros helmintos, A. abstru-sus pode causar infecção crônica e gatos infectados podem abrigar vermes nos pulmões durante anos sem eliminar L1 nas fezes. Esta forma de infecção a longo prazo e a so-brevivência de A. abstrusus no hospedeiro felino indicam que este parasito deve ter desenvolvido alguns mecanis-mos para escapar aos efeitos citotóxicos da resposta imu-nitária do hospedeiro (Grandi et al ., 2005) e/ou ser resis-tente à tratamentos escolhidos. Técnicas parasitológicas padrão, como a visualização do primeiro estágio larval do nematóide em amostras fecais e respiratórias (muco brônquico ou líquido pleural), continuam sendo a base do diagnóstico (Schnyder et al ., 2014). É consenso que um dos principais problemas no diagnóstico da aeluros-trongilose inclue a sua apresentação clínica inespecífca e a falta de métodos diagnósticos sensíveis. O diagnóstico baseado no método de Baermann é na verdade o padrão ouro, embora este método tenha suas próprias limitações, como a obtenção de resultados falso-negativos e, mais importante, a difculdade em obter amostras fecais fres-cas de gatos com acesso ao ar livre, a presença de baixas concentrações de larvas nas fezes e ao uso de procedimen-tos de diagnóstico inadequados (Schnyder et al ., 2014; Elsheikha et al ., 2016; Moskviva, 2018). A eliminação pode ser intermitente e/ou ausente, mesmo na presença de sinais clínicos, especialmente em gatos cronicamente infectados e gatos com reinfecções, que apresentam pa-drões de eliminação esporádicos (Ribeiro & Lima, 2001; Schnyde et al ., 2014), por isso a conduta do clínico é solicitar ao menos 3 amostras fecais, sempre que possível, para aumentar a chance de recuperação de L1. Nos exames parasitológicos deste felino, fezes congeladas também apresentaram resultado positivo (27/4/2023) em 75% das amostras examinadas pelo método de Baermann, concordando com investigação de Gaglio et al . (2008). Para Schnyder et al. (2014) os esfregaços fecais diretos e os métodos clássicos de sedimentação e fotação são menos sensíveis e são prejudicados pela solução utilizada e pelo tempo necessário para processar a amostra, uma vez que soluções concentradas de alta gravidade específca podem causar danos osmóticos nas larvas. As larvas fcam desidra - tadas e / ou afundam e podem perder detalhes morfológi - cos e, como consequência, tornar-se difíceis de detectar e diferenciar. No caso da gata deste relato, a presença de L1 no esfregaço fecal certamente ocorreu pela grande quan - tidade de larvas eliminadas junto com as fezes, como nas amostras do dia 30/10/2022. Sedimentação e futuação não são métodos usados no laboratório para a pesquisa de nematódeos pulmonares. A recuperação larval de Baer - mann permitiu a identifcação defnitiva. Os exames complementares realizados ao longo das consultas não mostraram nenhuma patologia à exceção de patologia pulmonar que comprovou-se ser pneumonia verminótica. Conforme Grandi et al. (2005) os achados radiográfcos não são necessariamente patognomônicos para aelurostrongilose, mas a evidência de doença intersticial pulmonar é frequente. A suspeita clínica pode resultar da radiografa torácica e os achados dependem do estágio da infecção, da dose da infecção e do estágio da doença, como neste relato. Gatos sintomáticos naturalmente infectados também podem apresentar uma mistura de padrões pulmonares brônquicos e intersticiais em radiografas torácicas. Os sinais clínicos mais frequentes como tosse e dispneia e os achados radiográfcos de Lacava et al. (2017) e Napoli et al . (2023) corroboram os registros de lesão pulmonar com a presença do parasito por A. abstrusus semelhantes aos achados neste paciente. Um tratamento efcaz em gatos infectados pode reduzir signifcativamente a contaminação ambiental com larvas fecais e, como consequência, o número de hospedeiros intermediários e paratênicos infectados (Ribeiro & Lima, 2001). Os tratamentos executados e mostrados na Tabela 1 foram prescritos conforme protocolo recomendado pelos fabricantes. No caso da ivermectina, a dose de 0,25mg/kg a cada 24 horas, via oral, durante 2 semanas e em outro estudo a dose prescrita foi 0,4 mg/kg em dose única. Relatou que a moxidectina é quatro vezes mais potente que a ivermectina, porém em estudo com animais de laboratório a sua efcácia é superior a 95% para o gênero Haemonchus com dose quatro vezes inferior a ivermectina. Conforme Ribeiro & Lima (2001) e Schnyder et al . (2014) a moxidectina é outra opção potencial para a quimioprevenção da aelurostrongilose. Esta molécula permanece em níveis detectáveis por semanas após os tratamentos e administrações consistentes de moxidectina tópica podem induzir concentrações plasmáticas elevadas e sustentadas no estado estacionário. No entanto, os resultados obtidos num outro estudo mostraram que 56% dos gatos reinfectados retomaram a eliminação de larvas nas fezes, embora exibissem um período pré-patente mais longo em comparação com gatos com uma única infecção.O princípio ativo praziquantel (20mg) formulado com pamoato de pirantel (230mg) foi prescrito na dose única para a aelurostrongilose deste felino mesmo que sem indicação do fabricante, e com repetição em 30 dias. Em nova consulta dois meses após o gato retornou com sintomatologia respiratória positivando para L1 de A. abstrusus . Também se usou como opção fenbendazol que está licenciado em alguns países para o tratamento da
154 Neotropical Helminthology (Lima). Vol. 18, Nº2, jul - dec 2024 Tietz Marques & Rodrigues Fett infecção por A. abstrusus e demonstrou ser eficaz quando administrado por via oral a 50 mg/kg de peso corporal durante três dias consecutivos com uma efcácia superior a 99% para a contagem de larvas (Schnyder et al ., 2014; Ferraz et al., 2019). O fenbendazol e a ivermectina são os fármacos mais amplamente utilizados no tratamento desta parasitose. Cada nova consulta do felino, o veterinário se mostrava preocupado com as recidivas do paciente e na opção do medicamento. Embora o tutor garantisse que o animal não frequentava ambientes externos com risco de entrar em contato com os hospedeiros intermediários e/ou contactantes, ou que executava as prescrições medicamentosas corretamente, pairava dúvidas da efcácia do tratamento e até da transmissão da doença. Schnyder et al. (2014) discutiu que a efcácia da moxidectina no estado estacionário na proteção contra infecções subsequentes por A. abstrusus deve ser avaliada para futuras abordagens na prevenção destas infecções. A nitazoxanida na dose de 25 mg / kg foi prescrita para o protozoário Giardia spp.Em casos clínicos graves é necessário tratamento de suporte, por exemplo, em casos complicados com infecção bacteriana secundária e reações infamatórias, antibióticos de amplo espectro devem ser administrados juntamente com doses anti-infamatórias de corticosteróides (por exemplo, prednisolona 0,5 mg/kg PO a cada 24 h por 10 dias). Se houver congestão do trato respiratório, um mucolítico, como a bromexina, pode ajudar a aliviar o desconforto e a dispneia associados. Os broncodilatadores, como a teoflina ou a terbutalina, também podem ser úteis no tratamento da dispneia grave. Gatos gravemente afetados com difculdade respiratória podem se benefciar da administração de oxigênio de suporte e, quando são observados derrame pleural e pneumotórax, recomenda-se toracocentese imediata (Penissi et al ., 2015; Morelli et al., 2021; Napoli et al., 2023).É consenso dos pesquisadores que a erradicação de A. abstrusus é impraticável em qualquer área, uma vez que reservatórios significativos estão presentes em hospedeiros intermediários, bem como em populações de gatos selvagens e vadios. Embora teoricamente os moluscicidas possam ser utilizados para reduzir o número de lesmas e caracóis, a sua utilização deve ser desencorajada porque podem ser tóxicos para os animais de estimação e para o ambiente. Evitar a predação mantendo os gatos dentro de casa é, portanto, atualmente considerado a única forma potencial de evitar a infecção; no entanto, isto não é reco-mendado por razões de bem-estar animal. Em conclusão, exames complementares como RX permitiram focar em patologia respiratória o que conduziu a suspeita de verminoses pulmonar. A recuperação de larvas pelo método de Baermann permitiu a identifcação defnitiva. Os tratamentos e as infecções frequentes sugerem fortemente a presença de reservatórios envolvidos no ciclo parasitário. Author contributions: CRediT (Contributor Roles Taxonomy)SMTM = Sandra Márcia Tietz Marques RRF = Rochana Fett Conceptualization : SMTM, RRF Data curation : SMTM Formal Analysis : SMTM, RRF Funding acquisition : RRF Investigation : SMTM Methodology : SMTM, RRF Project administration : SMTM, RRF Resources : SMTM, RRF Software : SMTM Supervision : SMTM, RRF Validation : SMTM, RRF Visualization : SMTM Writing – original draft : SMTM Writing – review & editing : SMTM, RRF REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Barrs, V.R., Swinney, G.R., Martinho, P., & Nicoll, R.G. (1999). Concurrent Aelurostrongylus abstrusus infection and salmonellosis in a kitten. Australian Veterinary Journal , 77 , 229-232. Barutzki, D., & Schaper, R. (2013). Occurrence and regional distribution of Aelurostrongylus abstrusus in cats in Germany. Parasitology Research , 112 , 855-861. Bier, O. (1975). Bacteriologia e imunologia em suas aplicações à medicina e à higiene. 16. Ed. Melhoramentos.
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