image/svg+xml
ISSN Versión impresa 2218-6425
ISSN Versión Electrónica 1995-1043
Neotropical Helminthology, 2021, 15(2), jul-dic:161-167.
ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL
*
Laboratório de Parasitologia de Peixes/ Coordenação de Biodiversidade/ Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia –
INPA.
*Corresponding author: jyf.cordeiro@gmail.com
Jéssica Yelle Ferreira Cordeiro: http://orcid.org/0000-0002-0667-1601
Amanda Karen Silva Jtineant: http://orcid.org/0000-0001-7506-0794
José Celso de Oliveira Malta: http://orcid.org/https://orcid.org/0000-0003-1496-2190
Lúcia Helena Rapp Py-Daniel: http://orcid.org/0000-0002-0954-7366
1*1
Jéssica Yelle Ferreira Cordeiro; Amanda Karen Silva Jtineant;
11
José Celso de Oliveira Malta & Lúcia Helena Rapp Py-Daniel
ABSTRACT
Fish are the vertebrates that have the greatest number and diversity of parasitic species.
Auchenipterus nuchalis
(Spix & Agassiz, 1829) is a small fish that occurs in South America, popularly known as “Peruvian mandi”. It
has twilight habits and its diet is basically composed of aquatic insects and microcrustaceans, which are
intermediate hosts of several parasitic species. Although fish are the vertebrate group with the highest number
of parasitic species, most of these species are still unknown, therefore, the main objective of this study was to
know and identify the Nematoda species that parasitize
A. nuchalis
and calculate the parasitological indices of
each species. 38
A. nuchalis
were captured in four expeditions in September, October, November and
December 2016, in the Catalão lake complex in the municipality of Iranduba, Amazonas, on the left bank of the
Solimões river and on the right bank of the Negro river, Brazil. The fish measured, on average, 11.8 - 18 (15.1 ±
1.35) cm in standard length and weighed 30.1 – 71.0 (47 ± 10.66) g. The individuals' digestive tract was
preserved in 70% ethanol and transported to the laboratory for analysis. Of the total fish collected and
examined, 31 were parasitized. Temporary and permanent slides were mounted to identify the parasitic
specimens. The measurements of the individuals were made with the aid of a micrometric eyepiece, coupled to
an optical microscope. Eighteen individuals of
Spinitectus rodolphiheringi
Vaz & Pereira, 1934 parasitizing
the intestine and stomach of the hosts were collected. Presenting an infection prevalence rate of 26.3%, which
Neotropical Helminthology
161
doi:10.24039/rnh20211521198
FIRST RECORD OF
SPINITECTUS RODOLPHIHERINGI
VAZ & PEREIRA, 1934 (SPIRURIDA:
CYSTIDICOLIDAE) IN
AUCHENIPTERUS NUCHALIS
(SPIX & AGASSIZ, 1829)
(SILURIFORMES: AUCHENIPTERIDAE) FROM AMAZONIAN FLOODPLAIN LAKES
PRIMEIRO REGISTRO DE
SPINITECTUS RODOLPHIHERINGI
VAZ & PEREIRA, 1934
(SPIRURIDA: CYSTIDICOLIDAE) EM
AUCHENIPTERUS NUCHALIS
(SPIX & AGASSIZ, 1829)
(SILURIFORMES: AUCHENIPTERIDAE) DOS LAGOS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA
PRIMER REGISTRO DE
SPINITECTUS RODOLPHIHERINGI
VAZ & PEREIRA, 1934
(SPIRURIDA: CYSTIDICOLIDAE) EN
AUCHENIPTERUS NUCHALIS
(SPIX & AGASSIZ, 1829)
(SILURIFORMES: AUCHENIPTERIDAE) DE LOS LAGOS DE LA LLANURA ALUVIAL DEL
AMAZONAS
D
D
D
D
image/svg+xml
162
Neotropical Helminthology, 2021, 15(1), jul-dic
RESUMO
Palavras-chave:
Amazônia – água doce – endoparasitos – nematoides – siluriformes - várzea
Os peixes são os vertebrados que apresentam a maior quantidade e diversidade de espécies parasitas.
Auchenipterus nuchalis
(Spix & Agassiz, 1829)
é um peixe de pequeno porte que ocorre na América do Sul,
popularmente conhecido como “mandi peruano”. Tem hábitos crepusculares e sua dieta é basicamente
composta por insetos aquáticos e microcrustáceos, que são hospedeiros intermediários de várias espécies
parasitas. Apesar de os peixes serem o grupo de vertebrados com maior número de espécies parasitas, a maioria
dessas espécies ainda é desconhecida, desse modo, o objetivo principal desse estudo foi conhecer e identificar
as espécies de Nematoda que parasitam
A. nuchalis
e calcular os índices parasitológicos de cada espécie.
Foram capturados 38
A. nuchalis,
em quatro expedições, nos meses de setembro, outubro, novembro e
dezembro de 2016, no complexo de lagos do Catalão no município de Iranduba, Amazonas, margem esquerda
do rio Solimões e direita do rio Negro, Brasil. Os peixes mediam, em média, 11,8 - 18 (15,1 ± 1,35) cm de
comprimento padrão e pesavam 30,1 – 71,0 (47 ± 10,66) g. O trato digestivo dos indivíduos foi conservado em
etanol 70% e transportado ao laboratório para análise. Do total de peixes coletados e examinados, 31 estavam
parasitados. Lâminas temporárias e permanentes foram montadas para a identificação dos espécimes parasitas.
As medidas dos indivíduos foram feitas com o auxílio de ocular micrométrica, acoplada a um microscópio
óptico. Foram coletados 18 indivíduos de
Spinitectus rodolphiheringi
Vaz & Pereira, 1934 parasitando o
intestino e estômago dos hospedeiros. Apresentando um índice de prevalência de infecção de 26,3%, o que a
caracteriza como uma espécie satélite. Além disso, este é um registro inédito deste parasita para
A. nuchalis
e
para a região Amazônica.
characterizes it as a satellite species. Furthermore, this is an unpublished record of this parasite for
A. nuchalis
and for the Amazon region.
Keywords:
Brazil – Crocodylia – Helminths – Reptiles – Squamata – Testudines
RESUMEN
Palabras llave
: Amazonas – agua Dulce – endoparasitos – llanura aluvial – nematodos – siluriformes
Los peces son los vertebrados que cuentan con mayor número y diversidad de especies parasitarias.
Auchenipterus nuchalis
(Spix & Agassiz, 1829) es un pequeño pez que se encuentra en América del Sur,
conocido popularmente como “mandi peruano”. Tiene hábitos crepusculares y su dieta está compuesta
básicamente por insectos acuáticos y microcrustáceos, que son huéspedes intermediarios de varias especies
parasitarias. Si bien los peces son el grupo de vertebrados con mayor número de especies parasitarias, la
mayoría de estas especies aún se desconocen, por lo que el objetivo principal de este estudio fue conocer e
identificar las especies de Nematodos que parasitan
A. nuchalis
y calcular los índices parasitológicos de cada
especie. 38
A. nuchalis
fueron capturados en cuatro expediciones en septiembre, octubre, noviembre y
diciembre de 2016, en el complejo del lago Catalão en el municipio de Iranduba, Amazonas, en la margen
izquierda del río Solimões y en la margen derecha del río Negro, Brasil. Los peces midieron, en promedio, 11,8
- 18 (15,1 ± 1,35) cm de longitud estándar y pesaron 30,1 - 71,0 (47 ± 10,66) g. El tracto digestivo de los
individuos se conservó en etanol al 70% y se transportó al laboratorio para su análisis. Del total de peces
recolectados y examinados, 31 fueron parasitados. Se montaron portaobjetos temporales y permanentes para
identificar los especímenes parásitos. Las medidas de los individuos se realizaron con la ayuda de un ocular
micrométrico, acoplado a un microscopio óptico. Se recolectaron dieciocho individuos de
Spinitectus
rodolphiheringi
Vaz & Pereira, 1934 que parasitan el intestino y el estómago de los hospedadores. Presentando
una prevalencia de infección del 26,3%, lo que la caracteriza como especie satélite. Además, este es un registro
inédito de este parásito para
A. nuchalis
y para la región amazónica.
Ferreira Cordeiro
et al.
image/svg+xml
155
Entre os cordados os peixes são os que apresentam
a maior quantidade e diversidade de espécies
parasitas. Eles foram os primeiros vertebrados a
surgir na escala evolutiva, e por um longo período
de tempo, viveram em estreita associação com uma
grande variedade de formas de invertebrados, entre
eles, os parasitas. Porém, o parasitismo não surgiu
como resultado do aparecimento dos peixes, pois,
muito antes disso, pequenos invertebrados
invadiam os invertebrados maiores, estando,
portanto, pré-adaptados a parasitar os vertebrados
quando surgiu a oportunidade (Thatcher 2006).
Auchenipterus nuchalis
(Spix & Agassiz 1829)
pertence à Família Auchenipteridae, é um peixe de
pequeno porte que pode chegar até 20 cm de
comprimento. Ocorre na América do Sul: baixo rio
Solimões, nos rios Amazonas e Tocantins, ao norte,
até o rio Marowijne (Froese & Pauly, 2019). É
popularmente conhecido como “mandi peruano” e
apresenta baixo valor econômico.
Apresenta coloração pálida com o dorso cinza
claro, encontra-se mais ativo nas horas
crepusculares (Santos
et al.,
2006). Este peixe
apresenta hábito alimentar carnívoro, sua dieta é
basicamente composta por insetos aquáticos e
microcrustáceos que podem atuar como
hospedeiros intermediários de várias espécies
parasitas de peixes (Machado
et al.,
1996).
Apesar de os peixes serem o grupo de vertebrados
com maior número de espécies parasitas, a maioria
dessas espécies ainda é desconhecida. Somente
uma espécie havia sido citada parasitando o
intestino de
A. nuchalis,
o Nematoda:
Cucullanus
(Cucullanus) brevispiculus
Moravec, Kohn, &
Fernandes, 1993 da superfamília Seuratoidea e
família Cucullanidae, no reservatório de Itaipu na
bacia do rio Paraná (Moravec, 1998). Desse modo,
o objetivo principal desse estudo foi conhecer e
identificar as espécies de Nematoda que parasitam
A. nuchalis
e calcular os índices parasitológicos de
cada espécie.
As coletas ocorreram em expedições realizadas no
INTRODUÇÃO
período que compreende a vazante e seca, entre
setembro e dezembro de 2016 em uma área de
várzea no complexo de lagos do Catalão (3º10'04''S
e 59º54'45''W) no município de Iranduba, Brasil.
Para as capturas foram utilizadas 15 redes de
espera, cada uma medindo 100 metros de
comprimento, totalizando 1.500 metros,
distribuídas de maneira aleatória nos lagos. O
tempo de permanência das malhadeiras foi de
aproximadamente dez horas, e as despescas foram
realizadas a cada duas horas.
Os peixes foram identificados em campo e os dados
biométricos foram registrados em fichas de
necropsia. O trato digestório de todos os indivíduos
fora conservado em etanol 70% e levados para o
Laboratório de Parasitologia de Peixes (LPP) do
Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia
(INPA). No laboratório, o trato digestório dos
hospedeiros
foi aberto e colocado em placas de
Petri para observação e coleta dos nematoides, que
foram transferidos para uma solução salina a
0,65%, foi realizada a limpeza dos mesmos com
auxílio de pincel e estiletes, e assim, conservados
em etanol 70%.
Para a identificação das espécies parasitas, foram
preparadas lâminas temporárias: diafanizando os
nematoides em ácido fênico a 50%, 60% e 70%,
e/ou ácido lático com glicerina entre lâmina e
lamínula. A preparação de lâminas permanentes
deu-se da seguinte maneira: diafanizando os
nematoides em etanol 70º GL (para a remoção da
glicerina), 80º GL, 90º GL, etanol absoluto 1,
etanol absoluto 2, clarificados em lactofenol de
Amann e Creosoto de faia, e montados em bálsamo
do Canadá entre lâmina e lamínula (Moravec,
1998).
Os nematoides muito grandes passaram por fenol
10% após o lactofenol, conforme metodologia
apresentada por Moravec (1998). As medidas dos
indivíduos foram feitas com o auxílio de ocular
micrométrica, acoplada a um microscópio óptico
(Olympus BH-2).
A abordagem quantitativa foi feita em nível de
infrapopulações parasitárias, sendo calculados e
analisados os índices parasitários de Prevalência
(P), Intensidade (I); Intensidade média (IM) e
Abundância média (A) (Margolis
et al.,
1982).
MATERIAL E MÉTODOS
Neotropical Helminthology, 2021, 15(1), jul-dic
Spinitectus rodolphiheringi
in
Auchenipterus nuchalis
image/svg+xml
155
Infracomunidade se refere à comunidade de
parasitos de um indivíduo da espécie hospedeira,
enquanto comunidade componente é referente à
comunidade de parasitos de uma população de
hospedeiros (Bush
et al
., 1997).
As espécies foram categorizadas, dentro das
comunidades parasitárias de acordo com Caswell
(1978) e Hanski (1982) citados por Bush e Holmes
(1986) em:
- Espécies centrais: presentes em mais de dois
terços dos hospedeiros (prevalência maior que
66%);
- Espécies secundárias: presentes em um a dois
terços do hospedeiro (prevalência entre 33 a 66%);
- Espécies satélites: em menos de um terço do
hospedeiro (prevalência menor que 33%).
Aspectos éticos: A análise do material foi realizada
sob autorização do Comitê de Ética e Uso Animal –
CEUA 036/2016 INPA. Exemplares
representativos das espécies encontradas neste
trabalho foram depositados como material
testemunho na Coleção de Invertebrados do INPA,
em Manaus.
Os espécimes foram encontrados no estômago e
intestino dos peixes hospedeiros e apresentaram
uma prevalência de infecção de 26,3%.
Caracterizando,
Spinitectus rodolphiheringi
Vaz &
Pereira, 1934 como espécie satélite.
As características morfológicas específicas
para
S.
rodolphiheringi
: extremidade anterior do corpo
alongada, uma coroa de espinhos formada por dois
anéis de espinhos bem contíguos e localizados na
porção anterior do corpo e presença de espículos
longos nos machos, além da presença de ovos
elípticos nas fêmeas foram observadas neste estudo
(conforme as figuras 1 e 2) e estão de acordo com as
características diagnósticas descritas na literatura.
Estes nematoides são pequenos e cilíndricos, de
coloração esbranquiçada, cutícula corporal dotada
de anéis transversos providos de fileiras de
espinhos cuticulares, posteriormente direcionados,
RESULTADOS
desde a região anterior até a região posterior do
corpo.
O esôfago é dividido em duas porções, uma
muscular e outra glandular. Anel nervoso
localizado entre o segundo e terceiro anel de
espinhos, poro excretor logo depois do quarto anel
de espinhos. O macho apresenta porção caudal
alada, com a presença de papilas. Na fêmea, a vulva
situa-se geralmente na metade do corpo. Útero
anfidiforme e ovos elípticos (Moravec, 1998).
A diagnose específica dos parasitos é compatível
com as descritas por Moravec (1998), a
morfometria é apresentada em milímetros (mm),
sendo expressos os valores mínimos, máximos,
média e o desvio padrão, conforme a tabela 1.
Três espécies de
Spinitectus
foram citadas para o
Brasil:
S. jamundensis
Thatcher & Padilha 1977;
S.
rodolphiheringi
e
S. yorkei
Travassos, Artigas &
Pereira, 1928 (Moravec 1998). Esses nematóides
geralmente são descritos parasitando o tubo
digestório de anfíbios e peixes tanto dulcícolas
quanto marinhos (Moravec, 1998; Thatcher, 2006).
Spinitectus rodolphiheringi
foi citado parasitando
10 outras espécies hospedeiras:
Pygocentrus
piraya
Cuvier 1819 (Santos, 2008),
Tetragonopterus chalceus
Spix & Agassiz, 1829
(Albuquerque, 2016) e
Astyanax fasciatus
Cuvier,
1819 (Vieira-Menezes
et al.
2017) coletados no
Reservatório Três Marias, Rio São Francisco, e
Astyanax bimaculatus
(Linnaeus, 1758),
Franciscodoras marmoratus
(Lütken, 1878),
Pimelodella lateristriga
(Liechtenstein, 1823),
Pimelodus maculatus
Lacèpe, 1803,
Salminus
hilarii
Valenciennes, 1850,
Sternopygus macrurus
(Bloch & Schneider, 1801, e
Triportheus
paranensis
(Günther, 1874) coletados nos rios
Grande e Mogi Guaçú em Pirassununga, São Paulo
(Luque
et al
., 2011).
Estudos realizados em
T. chalceus
demonstraram
prevalência de 1,59%, em
A. fasciatus
a
prevalência foi de 2,7% (Albuquerque, 2016;
Vieira-Menezes
et al.,
2017). Figueiredo (2017)
DISCUSSÃO
Neotropical Helminthology, 2021, 15(1), jul-dic
Ferreira Cordeiro
et al.
image/svg+xml
155
encontrou prevalências de 4% para
Laemolyta
garmani
e 7% para
Argonectes robertsi
. Portanto,
para todas essas espécies hospedeiras,
S.
rodolphiheringi
demonstrou status comunitário de
espécie satélite.
A presença de espécies satélites em um hospedeiro
é atribuída a fatores como: nível de especificidade
parasitária, hábitos de forrageio da espécie
hospedeira, distribuição da espécie parasita ou
degradação das populações parasitas, visto que as
espécies satélites são muito sensíveis a alterações
ambientais, servindo então como excelentes
modelos em estudos de comunidades e avaliação
ambiental (Bush e Holmes, 1986).
A presença de espécies satélites indica que a
infracomunidade parasitária analisada é instável e
está longe do equilíbrio. Resultados semelhantes
foram descritos para
Triportheus angulatus
(Spix
& Agassiz, 1829)coletados no lago
também
Catalão, Amazonas (Moreira ., 2017).
et al
Portanto, este estudo caracteriza um registro
inédito desse parasito para
A. nuchalis
, que passa a
ser considerado o quarto hospedeiro definitivo
conhecido para
S. rodolphiheringi
. Além disso, a
distribuição geográfica de
S. rodolphiheringi
foi
ampliada para a região Amazônica. Anteriormente
esta espécie era citada apenas para o reservatório de
Três Marias e alto rio São Francisco em Minas
Gerais (Santos
et al
., 2007; Albuquerque, 2016;
Vieira-Menezes
et al.,
2017) e nos rios Grande e
Mogi Guaçú em Pirassununga, São Paulo (Luque
et al
., 2011).
Figura 1.
Fotomicrografias de
Spinitectus rodolphiheringi
Vaz & Pereira, 1934;
A
– corpo inteiro de indivíduo macho;
B
–
extremidade anterior do corpo com os anéis de espinhos (AE); coroa de espinhos (CE) e vestíbulo (VE);
C
- extremidade posterior
do corpo do macho, com cauda recurvada dotada de espículos (EP);
D
– (*) ovos no interior do corpo da fêmea;
E
– extremidade
posterior do corpo da fêmea com projeção cuticular (PC) na cauda cônica.
500 µm
50
µm
50 µm
50 µm
50
µm
A
B
C
D
E
EP
PC
*
*
*
*
*
CE
AE
VE
Neotropical Helminthology, 2021, 15(1), jul-dic
Spinitectus rodolphiheringi
in
Auchenipterus nuchalis
image/svg+xml
155
A
B
*
*
*
AE
50 µm
50 µm
Figura 2.
Fotomicrografias de
Spinitectus rodolphiheringi
Vaz & Pereira, 1934;
A
– extremidade anterior mostrando o detalhe
dos anéis de espinhos (AE) e
B
– (*) detalhe mostrando os ovos no interior do corpo da fêmea.
Tabela 1.
Morfometria de espécimes machos e fêmeas adultos de
Spinitectus rodolphiheringi
Vaz & Pereira, 1934
de
Auchenipterus nuchalis
(Spix & Agassiz, 1829) de lagos de várzea, rio Solimões, Iranduba, Amazonas.
Caracteres dos parasitos
Machos (n = 3)
Fêmea
s (n = 7)
X ± DP
Mín.
Máx.
X ± DP
Mín.
Máx.
Corpo
Comprimento
3,02 ± 0,376
2,66
3,41
3,11 ± 1,014
1,921
4,403
Largura
0,09 ± 0,025
0,07
0,119
0,09 ± 0,052
0,051
0,182
Esôfago Muscular
Comprimento total
0,24 ± 0,02
0,224
0,266
0,29 ± 0,18
0,132
0,666
Esôfago Glandular
Comprimento total
0,89 ± 0,17
0,714
1,071
0,69 ± 0,36
0,281
1,323
Cápsula bucal (anel
basal)
Comprimento total
-
-
-
-
-
-
Largura
-
-
-
-
-
-
Cauda
Comprimento total
0,12 ± 0,02
0,105
0,174
0,182 ± 0,063
0,102
0,306
Espículas
Comprimento total
0,10 ± 0,04
0,076
0,158
*
*
*
Ovos
Comprimento total
*
*
*
0,041 ± 0,003
0,044
0,054
Largura
*
*
*
0,029 ± 0,003
0,024
0,034
M = média; DP = desvio padrão; Min = mínimo; Max = máximo;
-
= caráter não medido; * = parasito não possui o caráter
Neotropical Helminthology, 2021, 15(1), jul-dic
Ferreira Cordeiro
et al.
image/svg+xml
155
Três espécies de
Spinitectus
foram citadas para o
Brasil:
S. jamundensis
Thatcher & Padilha 1977;
S.
rodolphiheringi
e
S. yorkei
Travassos, Artigas &
Pereira, 1928 (Moravec 1998). Esses nematóides
geralmente são descritos parasitando o tubo
digestório de anfíbios e peixes tanto dulcícolas
quanto marinhos (Moravec, 1998; Thatcher, 2006).
Spinitectus rodolphiheringi
foi citado parasitando
10 outras espécies hospedeiras:
Pygocentrus
piraya
Cuvier 1819 (Santos, 2008),
Tetragonopterus chalceus
Spix & Agassiz, 1829
(Albuquerque, 2016) e
Astyanax fasciatus
Cuvier,
1819 (Vieira-Menezes
et al.
2017) coletados no
Reservatório Três Marias, Rio São Francisco, e
Astyanax bimaculatus
(Linnaeus, 1758),
Franciscodoras marmoratus
(Lütken, 1878),
Pimelodella lateristriga
(Liechtenstein, 1823),
Pimelodus maculatus
Lacèpe, 1803,
Salminus
hilarii
Valenciennes, 1850,
Sternopygus macrurus
(Bloch & Schneider, 1801, e
Triportheus
paranensis
(Günther, 1874) coletados nos rios
Grande e Mogi Guaçú em Pirassununga, São Paulo
(Luque
et al
., 2011).
Estudos realizados em
T. chalceus
demonstraram
prevalência de 1,59%, em
A. fasciatus
a
prevalência foi de 2,7% (Albuquerque, 2016;
Vieira-Menezes
et al.,
2017). Figueiredo (2017)
encontrou prevalências de 4% para
Laemolyta
garmani
e 7% para
Argonectes robertsi
. Portanto,
para todas essas espécies hospedeiras,
S.
rodolphiheringi
demonstrou status comunitário de
espécie satélite.
A presença de espécies satélites em um hospedeiro
é atribuída a fatores como: nível de especificidade
parasitária, hábitos de forrageio da espécie
hospedeira, distribuição da espécie parasita ou
degradação das populações parasitas, visto que as
espécies satélites são muito sensíveis a alterações
ambientais, servindo então como excelentes
modelos em estudos de comunidades e avaliação
ambiental (Bush e Holmes, 1986).
A presença de espécies satélites indica que a
infracomunidade parasitária analisada é instável e
está longe do equilíbrio. Resultados semelhantes
foram descritos para
Triportheus angulatus
(Spix
DISCUSSÃO
& Agassiz, 1829)coletados no lago
também
Catalão, Amazonas (Moreira ., 2017).
et al
Portanto, este estudo caracteriza um registro
inédito desse parasito para
A. nuchalis
, que passa a
ser considerado o quarto hospedeiro definitivo
conhecido para
S. rodolphiheringi
. Além disso, a
distribuição geográfica de
S. rodolphiheringi
foi
ampliada para a região Amazônica. Anteriormente
esta espécie era citada apenas para o reservatório de
Três Marias e alto rio São Francisco em Minas
Gerais (Santos
et al
., 2007; Albuquerque, 2016;
Vieira-Menezes
et al.,
2017) e nos rios Grande e
Mogi Guaçú em Pirassununga, São Paulo (Luque
et al
., 2011).
Albuquerque, M.C. 2016.
Endoparasites of two
species of forage fish from the Três Marias
reservoir, Brazil: new host records and
ecological indices
. Revista Brasileira de
Medicina Veterinária, vol. 38, pp. 139-145.
Bush, A.O. & Holmes, J.C. 1986.
Intestinal
helminthes of lesser scaup ducks: an
interactive community
. Canadian Journal of
Zoology, vol. 64, pp. 142-154.
Figueiredo, B.N.S. 2017.
Caracterização
morfológica e molecular de helmintos de
piau coletados na bacia do Rio Tocantins.
Tese de doutorado, Universidade Federal do
Tocantins, 74pp.
Froese, R. & Pauly, D. 2019.
FishBase
. World
Wide Web electronic publication.
www.fishbase.org, version
Jilek, R. & Crites, J.L. 1982.
The life cycle and
development of
Spinitectus gracilis
(Nematoda: Spirurida)
. Transactions of the
American Microscopical Society,
vol. 101,
pp. 75-83.
Junk, W.J. 1983.
As águas da região amazônica.
In:
E, Salati, W.J. Junk, H.O.R. Shubart,
A.E. Oliveira, (eds.).
Amazônia:
desenvolvimento, integração e ecologia.
Conselho nacional de desenvolvimento
científico e tecnológico
. Editora
Brasiliense, Brasília.
Kennedy, C.R. 2001.
Metapopulation and
community dynamics of helminth parasites
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Neotropical Helminthology, 2021, 15(1), jul-dic
Spinitectus rodolphiheringi
in
Auchenipterus nuchalis
image/svg+xml
155
of eels
Anguilla anguilla
in the River Exe
system
. Parasitology, vol. 122, pp. 689-698.
Keppner, E.J. 1975.
Life cycle of
Spinitectus
micracanthus
Christian, 1972 (Nematoda:
Rhabdochonidae) from the bluegill,
Lepomis macrochirus Rafinesque, 1819
.
In:
Ward & Magath, 1917, (eds.).
Missouri with
a note on
Spinitectus gracilis. The American
Midland Naturalist, vol. 57, pp. 127-134.
Luque, J.L. Aguiar, J.C. Vieira, F.M. Gibson, D.I.
& Santos, C.P. 2011.
Checklist of nematoda
associated with the fishes of Brazil
.
Zootaxa, vol. 3082, pp. 1-88.
Machado, M.H. Pavanelli, G.C. & Takemoto, R.M.
1996.
Influence of the host's sex and size on
endoparasitic infrapopulations of
Pseudoplatystoma corruscans
and
Schizodon borelli
(Osteichthyes) of the high
Paraná River, Brazil
. Revista Brasileira de
Parasitologia Veterinária, vol. 3, pp. 143-
148.
Malta, J.C.O. 1984.
Os peixes de um lago de várzea
da Amazônia Central (lago Janauacá, rio
Solimões) e suas relações com os
crustáceos ectoparasitas (Branchiura:
Argulidae
). Acta Amazonica
,
vol. 14, pp.
355-372.
Margolis, G.W. Esch, J.C. Holmes, A.M. Kuris, S.
& Schad, G.A. 1982.
The use of ecological
terms in parasitology (report of an ad hoc
committee of the American Society of
Parasitologists)
. Journal of Parasitology,
vol. 68, pp. 131-133.
Moravec, F. (eds.) 1998.
Nematodes of freshwater
fishes of the Neotropical region
. Institute of
Parasitology, Academy of Sciences of the
Czech Republic, Praga, Czech Republic.
Moreira, A.C. Oliveira, T.T.S. Morey, G.A.M. &
Malta, J.C.O. 2017.
Metazoários parasitas
de
Triportheus angulatus
(Spix & Agassiz,
1829) do lago
Catalão, Rio Solimões, Amazonas, Brasil.
Folia Amazónica, vol. 26, pp. 9-16.
Santos, G.M. Ferreira, E.J.G. & Zuanon, J.A.S.
(eds.) 2006.
Peixes comerciais de Manaus.
IBAMA – AM Pró-várzea, Manaus.
Santos, M.D. Thatcher, V.E. & Brasil-Sato, M.C.
2007. Brasergasilus bifurcatus
sp. nov.
(Copepoda, Ergasilidae, Abergasilinae)
from the gills and nasal fossae of
serrasalmid fishes from the Três Marias
Reservoir, Upper São Francisco River,
Minas Gerais State, Brazil
. Acta
Parasitologica, vol. 52, pp. 268–272.
Santos, M.D. 2008.
Comunidades parasitárias de
três espécies de peixes carnívoros do
Reservatório de Três Marias, Alto Rio São
Francisco, Minas Gerais, Brasil.
Tese de
Doutorado, Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Seropédica.
Thatcher, V.E. 2006.
Amazon Fish Parasites. In:
J
Adis, JR Arias, G Rueda-Delgado & KM
Wantzen, (eds.).
Aquatic Biodiversity in
nd
Latin America
: 2 edition, Pensoft
Publishers, Praga.
Vieira-Menezes, F.G. Costa, D.P.C & Brasil-Sato,
M.C. 2017.
Nematodes of
Astyanax
fasciatus
(Actinopterygii: Characidae) and
their parasitic indices in the São
Francisco River, Brazil.
Revista Brasileira
de Parasitologia Veterinária, vol. 12, pp.
241-302.
Received August 24, 2021.
Accepted September 24, 2021.
Neotropical Helminthology, 2021, 15(1), jul-dic
Ferreira Cordeiro
et al.