Abstract
The objective of the study was to record the occurrence of Dioctophyma renale (Goeze, 1782) Collet-
Meygret, 1802 in Galictis cuja Molina, 1782 in southern Brazil. Three specimens of G. cuja were
found dead by running over on highways in the city of Pelotas, Rio Grande do Sul, Brazil and sent to
the Laboratory of Parasitology of Wild Animals of the Federal University of Pelotas. Helminths were
collected from the kidneys and the abdominal cavity with a mean intensity of infection of 4.66
helminths / host. In Brazil, D. renale had been reported parasitizing G. cuja only in the state of Paraná.
Dioctophyma renale is reported for the first time in G. cuja in the state of Rio Grande do Sul, Brazil.
Key-words: Dioctophyma renale - Galictis cuja - helminths - Nematoda.
RESEARCH NOTE / NOTA CIENTÍFICA
DIOCTOPHYMA RENALE (GOEZE, 1782) COLLET- MEYGRET, 1802 (DIOCTOPHYMATIDAE)
IN GALICTIS CUJA (MOLINA, 1782) (MUSTELIDAE) IN RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL
DIOCTOPHYMA RENALE (GOEZE, 1782) COLLET- MEYGRET, 1802 (DIOCTOPHYMATIDAE)
EM GALICTIS CUJA (MOLINA, 1782) (MUSTELIDAE) NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Suggested citation: Pesenti, TC, Mascarenhas, CS, Krüger, C, Sinkoc, AL, Albano, APN, Coimbra, MAA & Müller, G. 2012.
Dioctophyma renale (Goeze, 1782) Collet- Meygret, 1802 (Dioctophymatidae) in Galictis cuja (Molina, 1782) (Mustelidae) in
Rio Grande do Sul, Brazil. Neotropical Helminthology, vol. 6, 2, pp. 301-305.
Neotrop. Helminthol., 6(2), 2012
2012 Asociación Peruana de Helmintología e Invertebrados Afines (APHIA)
ISSN: 2218-6425 impreso / ISSN: 1995-1043 on line
1 1 1 2
Tatiana Cheuiche Pesenti , Carolina Silveira Mascarenhas , Cristiane Krüger , Afonso Ludovico Sinkoc , Ana Paula
3 3 1
Neuschrank Albano , Marco Antonio Afonso Coimbra & Gertrud Müller
1 Laboratório de Parasitologia de Animais Silvestres, Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).Pelotas, RS,
Brasil. Caixa postal 354, CEP 96010-900. E-mail: tatianapesenti@yahoo.com.br
2 Departamento de Clínica Médica Veterinária, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal do
Mato Grosso (UFMT) Cuiabá, MT, Brasil.
3 Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre e Centro de Triagem de Animais Silvestres da Universidade Federal de Pelotas (NURFS/CETAS/UFPel). Pelotas,
RS, Brasil. Caixa postal 354, CEP 96010-900.
301
Resumo
O objetivo do trabalho foi registrar a ocorrência de Dioctophyma renale (Goeze, 1782) Collet-
Meygret, 1802, em Galictis cuja Molina, 1782 no sul do Brasil. Três espécimes de G. cuja foram
encontrados mortos por atropelamento em rodovias no município de Pelotas, Estado do Rio Grande
do Sul, Brasil e encaminhados ao laboratório de Parasitologia de Animais Silvestres da Universidade
Federal de Pelotas. Os helmintos foram coletados dos rins e cavidade abdominal com intensidade
média de infecção de 4,66 helmintos/hospedeiro. No Brasil, D. renale foi relatado parasitando G.
cuja somente no Estado do Paraná. Registra-se a primeira ocorrência de D. renale em G. cuja no
Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Palavras-chave: Dioctophyma renale - Galictis cuja - helminto - Nematoda.
Galictis cuja Molina, 1782 (furão) é o menor
representante da família Mustelidae no Brasil,
sendo encontrado em margens de florestas,
capoeiras ou vegetação arbustiva cerrada,
normalmente nas beiras de banhados ou rios, sendo
que sua distribuição geográfica está restrita a
América do Sul. Sua alimentação é principalmente
carnívora, alimentando-se de répteis, pequenas
aves e pequenos mamíferos (Silveira, 1999).
Muitas pesquisas têm sido realizadas com
nematóides de peixes, anfíbios, répteis, aves e
mamíferos, no Brasil, desde a década de 1980,
porém estudos com nematóides de mamíferos
ainda são poucos quando comparados aos
realizados com peixes (Pinto et al., 2011).
Dentre os nematóides que parasitam mamíferos
encontramos Dioctophyma renale (Goeze, 1782)
Collet- Meygret, 1802 (Dioctophymatidae) que
apresenta distribuição mundial e é freqüentemente
descrito parasitando carnívoros domésticos
(principalmente cães) e silvestres (Kommers et al.,
1999; Monteiro et al ., 2003). Pode,
excepcionalmente, acometer bovinos, equinos e
suínos (Oliveira et al., 2005). Este parasito
localiza-se nos rins, preferencialmente no rim
direito ou livre na cavidade abdominal de seus
hospedeiros, quando no rim causa destruição
progressiva das camadas cortical e medular, e
reduz o órgão a uma cápsula fibrosa (Leite et al.,
2005).
relatos desse helminto na pele e nos rins de
humanos, ocasionando cólicas renais e hematúria
(Acha & Szyfres, 1986; Gutierrez et al., 1989;
Urano et al., 2001; Ignjatovic et al., 2003;
Sardjono et al., 2008), demonstrando seu potencial
zoonótico.
No Brasil, este nematóide foi citado em diversas
espécies de animais silvestres como: lobo-guará
(Chrysocyon brachiurus Illiger, 1815), quati
(Nasua nasua Linnaeus, 1766) e lontra (Lontra
longicaudis Olfers, 1818) por Giovannoni & Molfi
(1960); bicho-preguiça (Choloepus didactylus
Linnaeus, 1758) por Rocha et al. (1965); furão (G.
cuja) por Barros et al. (1990); mão-pelada
(Procyon cancrivorus Cuvier, 1798) por Reis et al.
(2006); cachorro-do-mato (Cerdocyon thous
Linneaus, 1758) por Ribeiro et al. (2009) e
macaco-prego (Cebus apella Linnaeus, 1758) por
Ishizaki et al. (2010).
O objetivo deste trabalho foi relatar, pela primeira
vez, o nematóide D. renale parasitando G. cuja no
Rio Grande do Sul, Brasil.
Em 2005, 2007 e 2011 três furões foram
encontrados mortos por atropelamento em
rodovias do município de Pelotas, Estado do Rio
Grande do Sul, Brasil. Estes foram acondicionados
em caixas isotérmicas e encaminhados ao
Laboratório de Parasitologia de Animais Silvestres
da Universidade Federal de Pelotas onde foi
realizada a necropsia.
Dioctophyma renale foi encontrado parasitando o
rim e a cavidade abdominal com intensidade média
de 4,66 helmintos/hospedeiro. No primeiro
animal, encontrado em 2005, foram coletados três
espécimes de D. renale no rim direito, sendo dois
machos e uma mea. No segundo fuo,
encontrado em 2007, foi coletado apenas um
espécime macho parasitando o rim. No terceiro
hospedeiro, encontrado em 2011, foram coletados
nove espécimes, seis fêmeas e três machos,
parasitando o rim direito e uma fêmea na cavidade
abdominal. As fêmeas mediram em média 28,5 cm
e os machos em média 13 cm. A figura 1 mostra a
necropsia do terceiro hospedeiro e os helmintos
coletados.
A infecção do hospedeiro definitivo ocorre através
da ingestão do anelídeo oligoqueta aquático
Lumbriculus variegatus Müller, 1774 contendo a
forma larval, que atua como hospedeiro
intermediário, ou de peixes e rãs, que atuam como
hospedeiros paratênicos. O rim direito e a cavidade
abdominal são os locais preferenciais de
parasitismo deste nematóide, no entanto
citação, porém com menor freqüência na bexiga,
uretra, bolsa escrotal, tecido subcutâneo inguinal,
útero, ovário, linfonodo mesentérico, glândula
mamária, cavidade torácica, pericárdio e pulmão
(Kommers et al., 1999).
Pesenti et al.
Dioctophyma in Galictis cuja
302
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADO E DISCUSSÃO
Em humanos a infecção está associada à ingestão
de peixes ou rãs mal cozidos (Brown & Prestwood,
1988). Embora a maioria dos peixes destinados ao
consumo humano seja eviscerada, a constatação da
presença de larvas de terceiro estádio de D. renale
na musculatura de peixes indica o risco potencial
para os consumidores (Measures & Anderson,
1985).
Na literatura há, apenas, dois relatos de
Figura 1. A. Necropsia de Galictis cuja mostrando aumento no volume do rim direito parasitado com Dioctophyma renale. B-
Rim parasitado com Dioctophyma renale. C- Alguns exemplares de Dioctophyma renale retirados do rim direito de Galictis cuja.
D- Femea () e macho () de Dioctophyma renale.
dioctofimatose em G. cuja, feitos por Barros et al.
(1990), no Estado do Paraná, no qual um dos
animais apresentou oito nematóides, sendo quatro
na cavidade abdominal e quatro no rim, e o outro
apenas um parasito no rim.
Este relato caracteriza o primeiro registro de D.
renale parasitando G. cuja no Estado do Rio
Grande do Sul, Brasil.
Neotrop. Helminthol., 6(2), 2012
303
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Received, October 7, 2012.
Accepted, December 8, 2012.
Author for correspondence / Autor para
correspondencia
Tatiana Cheuiche Pesenti
Laboratório de Parasitologia de Animais
Silvestres, Departamento de Microbiologia e
Parasitologia da Universidade Federal de Pelotas
(UFPel).Pelotas, RS, Brasil. Caixa postal 354,
CEP 96010-900.
E-mail /correo electrónico:
tatianapesenti@yahoo.com.br
Neotrop. Helminthol., 6(2), 2012
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